António Costa, o novo Dono Disto Tudo

A entrevista de António Costa à revista Visão revela um primeiro-ministro que sabe que não tem concorrência a sério na oposição, que tem no Presidente um amigo e dispõe de milhares de milhões de euros para distribuir. Habituem-se, são mais quatro anos é a garantia que nos deixa o novo Dono Disto Tudo. Sendo que é de Portugal que estamos a falar, onde até os empresários mais liberais estão sempre à espera de ver o que pinga do Estado e onde quase metade dos cidadãos são pobres à espera que os subsídios os tornem um pouco menos pobres, Costa pode dar-se ao luxo de desrespeitar adversários políticos a quem acusa de guinchar e, ainda pior do que isso, confessar o particular gozo que lhe deu fragilizar politicamente o seu ministro das Infraestruturas e da Habitação, considerando que se tratou do "único caso verdadeiramente grave". Ter fragilizado politicamente o ministro que tutela a TAP, que conduz a política de habitação, das estradas e dos caminhos de ferro não tira o sono ao primeiro-ministro, mas devia tirar-nos a nós todos, que sairemos de dez anos de governo de António Costa sem que muitos dos problemas estruturais do país tenham sido resolvidos.

Percebe-se que o primeiro-ministro queira esquecer o que diz serem os "casos e casinhos", como se eles fossem fantasia da oposição e da comunicação social, mas não foi a oposição que chamou para junto de si, como secretario de Estado-adjunto, um autarca que estava com problemas com a justiça e tinha entregue 300 mil euros de dinheiro dos portugueses a um cidadão que tem uma relação difícil com a verdade e não parece ter condições de devolver o dinheiro adiantado pela autarquia para uma obra que não vai conhecer a luz do dia.

Para António Costa, passo a citar, isso são "coisas que entretêm os comentadores" e ele não se pode distrair. Será um "fait divers", a ministra da Saúde anunciar a sua saída do governo com um comunicado enviado às redações de madrugada e o primeiro-ministro obrigá-la a ficar mais um tempo, porque não há pressa de a substituir. Mas, se o chefe do governo, não quer distrair-se com o circo mediático, convém que ele próprio e os restantes membros do governo não forneçam o guião para um espectáculo raramente visto.

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