Bye bye France-Afrique, Mali dix it!

Independentes há 60 anos, 14 ex-colónias francesas em África assinaram 11 "Acordos Coloniais" (Benim, Burkina Faso, Costa do Marfim, Mali, Níger, Senegal, Togo, Camarões, Chade, Congo Brazaville, Madagascar, Mauritânia, Gabão e República Centro-Africana) que mantinham as novas soberanias debaixo da alçada económica e de defesa do futuro ex-colonizador. Ora o Mali, em "processo de divórcio litigioso" com a França desde 2020, altura do golpe militar do Coronel Assimi Goita, rompeu esta semana, em definitivo, com os referidos 11 Acordos, iniciando o que se prevê um "divórcio colectivo" e simultâneo com os restantes 13, ainda este ano. A saber, o Mali de Goita, rasgou:

1º A dívida colonial para pagamento dos benefícios da colonização (na saída, os franceses não levaram casas, pontes, estradas, quarteis. Este investimento francês tinha que ser pago);

2º Confiscação automática das reservas financeiras nacionais (Os novos países deveriam depositar suas reservas financeiras no Banque de France. Ou seja, a França sempre controlou as políticas monetárias dos seus ex-colonizados);

3º Direito de primeira recusa sobre qualquer recurso bruto ou natural descoberto no país (a França tem primazia preferencial na compra de qualquer recurso ainda por descobrir. Só quando não estiver interessada é que o ex-colonizado pode vender/fornecer a outro país);

4º Prioridade aos interesses e empresas francesas nos contractos públicos e concursos públicos;

5º Direito exclusivo de fornecer equipamento militar e treinar oficiais militares coloniais;

6º O direito da França de desenvolver tropas e de intervir militarmente no país para defender seus interesses;

7º Obrigação de fazer do Francês a Língua Oficial do país e a língua do ensino;

8º Obrigação de utilizar o Franco CFA, a moeda francesa nas ex-colónias;

9º Obrigação de enviar à França um balanço anual e um relatório sobre a situação das reservas;

10º Renunciar a toda a aliança militar com outros países, a menos que autorizado pela França;

11º Obrigação de aliar-se à França em caso de guerra ou crise mundial.

Pegando nesta última clausula, percebe-se que a ruptura maliana com França, surge precisamente num período de guerra e de crise mundial, que abre opções de escolha no tocante às partes envolvidas e o Mali, escolhe assim oficialmente a Rússia, face à tradicional e obrigatória França. Ou seja, o Mali quis ser livre para optar por uma das trincheiras na Ucrânia e que se reflectem sem pudores em África. Na realidade e finalmente, o Mali perdeu a vergonha, rompeu com a França para se aliar aos russos e inicia definitivamente um movimento colectivo junto dos outros ex-colonizados sub-saharianos ainda presos a estes acordos de De Gaulle, desde a década de 1960.

A Acontecer / A Acompanhar

- Todos os domingos, na Telefonia da Amadora, entre as 21h e as 22h, Programa "Um certo Oriente", apresentado pelo Arabista António José, um espaço onde se misturam ritmos, sons e palavras, através das suas mais variadas expressões, pelos roteiros do Médio Oriente e Ásia.

Raúl M. Braga Pires, Politólogo/Arabista, é autor do site www.maghreb-machrek.pt (em reparação) e escreve de acordo com a antiga ortografia.

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