Demissão de Cabrita. Palavras para quê?

Há uma falta de empatia, falta de jeito para comunicar e um discurso perturbador do ministro Eduardo Cabrita, até na hora da apresentação da sua demissão. A saída era óbvia, devido ao envolvimento num acidente automóvel que levou à morte de um cidadão. Mas as declarações do ministro centraram-se no partido e não no acidente ou no falecido. Estará o partido acima da vida? Ou a amizade por Costa acima da responsabilidade e da ética política?

No adeus, o ministro Eduardo Cabrita começou por fazer o autoelogio e aproveitou o direito de antena para alguma propaganda. Enalteceu os seus feitos, como ministro da Administração Interna, e deu o exemplo da gestão dos incêndios. Como se não bastasse, passou à fase seguinte: fez-se de vítima e chegou até a dizer que o carro foi vítima, mas, enfim, deve ter sido um lapso da narrativa.

No discurso longo esqueceu-se, contudo, dos episódios que marcaram negativamente a sua era no Executivo: o caso das golas inflamáveis, a morte de Ihor Homeniuk às mãos do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (amplamente investigada pelo Diário de Notícias),o caso dos emigrantes de Odemira ou até os festejos do Sporting.

Eduardo Cabrita não tinha retorno a partir do momento em que, ontem de manhã, se apresentou ao país apenas como "passageiro" no acidente que envolveu o automóvel onde circulava e que provocou uma morte. Se fosse o seu camarada socialista Jorge Coelho, diria "demito-me", mas de imediato. Foi o que Coelho fez, há 20 anos, perante a queda da ponte de Entre-os-Rios. Mas não, Cabrita precisou de toda a sexta-feira para pensar.

O motorista do carro foi acusado de homicídio por negligência e foram ainda imputadas duas contraordenações. E o que respondeu Cabrita perante a condenação do motorista? "É o Estado de direito a funcionar", disse. Resposta errada para um governante que era a autoridade máxima de segurança no país.

Costa resistou sempre a demitir o amigo ministro e a remodelar o governo, mas ao final da tarde de ontem não teve outro remédio: Aceitar a demissão de Cabrita. Este já não tinha condições para integrar as listas de deputados às eleições ou para voltar a integrar um governo. Saiu a dois meses das eleições, marcadas para 30 de janeiro

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