O ponto de partida para a Opinião de hoje é, sem dúvida, aquele "jogo" (se é que o podemos apelidar assim) no passado domingo. No intervalo do dito jogo com aspas escrevi que "ninguém fica bem nesta fotografia". Sobre a questão do que está em jogo e de como é urgente fazer melhor não tenho nada a acrescentar ao texto do Pedro Adão e Silva intitulado "Mais vale tarde do que nunca". Palavras como "perplexidade", "farsa" ou "absurdo" traduzem muito bem o óbvio.
Não querendo de todo descentrar as atenções e as preocupações daqueles que estiveram no relvado dei por mim a olhar para os adeptos. Uma vez mais, os adeptos foram secundarizados. Ser adepto, hoje em dia, para além do coração forte que todos temos de ter para aguentar as voltas e as reviravoltas do jogo no relvado, na verdade, um dos ingredientes que torna o futebol uma paixão para a vida, temos de ter muita, mas muita paciência.
E, há dias, confesso que me sinto desanimada. São os horários de jogos às tantas que tornam a manhã do dia seguinte um caso sério. São equipamentos principais nos quais o símbolo do clube é alvo de uma descaracterização incompreensível (e nem vou entrar nas cores dos equipamentos secundários). E são medidas absurdas como o "Cartão do Adepto" (e eu aqui estou a controlar-me para não abrir o dicionário em matéria de adjetivos).
Neste ponto, infelizmente o panorama europeu não é de todo melhor. Recentemente na Assembleia Geral do grande clube alemão, ou seja, o Bayern de Munique a tensão entre os adeptos e a direção rebentou. Mais do que o tema de fundo, que é muito importante, relacionado com a defesa do patrocínio do Qatar pela direção e um conjunto de adeptos que considera que esse patrocínio não se coaduna com a integridade do clube, o que me marcou foram as imagens (através da agência noticiosa Deutsche Welle) de uma Direção enfadada e a "frustração" de muitos adeptos.
E depois há ideias peregrinas que são o corolário de uma tendência cada vez mais insustentável: jogos, jogos e mais jogos. Formatos a nível europeu que aumentam o número de jogos como se fosse possível incorporar uma espécie de pilhas extras aos jogadores que já estão exaustos. Aliás a nível nacional a tendência das Taças das Ligas é disso um exemplo.
A nível internacional há propostas tão estapafúrdias (e mais uma vez estou a conter-me em termos de adjetivos) como a realização de Campeonatos do Mundo de dois em dois anos. É a total banalização e a transformação final, completa, de um desporto em puro e apenas produto. Um produto que se vende como qualquer outro. É demais.
Este meu desabafo não vai no sentido saudosista. O futebol moderno tem muitos aspetos positivos e eu agradeço muito que não se volte atrás. Temos hoje melhores condições em todos os sentidos. E tenho plena consciência de que é necessário um equilíbrio entre a economia do futebol e o futebol propriamente dito.
Mas também não tenham ilusões. Nós, os adeptos, também temos limites.