Na sequência da saída de Cotrim Figueiredo da liderança, a Iniciativa Liberal tratou de organizar o seu processo eleitoral. A votação, a primeira da história da IL com alternativas, culminou com a eleição de Rui Rocha, empossado no congresso que se realizou no passado fim de semana.
O contexto não pode ser desconsiderado. Ocorre com a saída de um presidente que garantiu um crescimento eleitoral e parlamentar assinalável, num tempo político de fragilidade acentuada do PS e de performance tímida do novo PSD.
Esperava-se, por isso, por dever e oportunidade de contexto, que esta eleição representasse um momento de consolidação política. Não foi isso que aconteceu.
Durante três meses, os mais atentos assistiram a uma eleição para dentro, imprimida pela acusação mútua.
O ambiente de "faca na liga" foi tão intenso e autofágico que até nos poderíamos atrever a propor um método semelhante ao do PCP e evitar eleições internas.
Discutiu-se a lealdade da candidata, a dimensão dinástica de Cotrim, a autocracia da comissão executiva. Não faltou também o debate metafísico e filosófico do que é ser-se liberal, e se dá para se ser liberal e conservador ao mesmo tempo. Sim, até puritanismo ideológico fez parte da conversa liberal.
Também se dissertou sobre formatos possíveis da ida para o próximo governo. E, para não faltar mesmo nada, a dialética dos candidatos liberais atirou com convicção percentagens de performance eleitoral que poderiam ou não ser fatores de sucesso.
Sobre estratégia para o próximo ciclo eleitoral, regionais, europeias e autárquicas, nada. As forças políticas até costumam tratar destes assuntos, por isso é que são políticas.
Mais grave foi a ausência de diálogo com a sociedade portuguesa. Não ficou uma ideia, uma causa mobilizadora que sequer contemple dignidade de ser referida. Daquelas ideias e causas que mobilizam pessoas para se atingirem percentagens e resultados eleitorais. Isso não houve.
A eleição dos liberais foi um desiderato interno pelo poder. Não foi mais do que isso.
Oportunidade perdida.