Mendes, o "irmão" de Alves

Com a promoção de António Mendonça Mendes a secretário de Estado-adjunto do primeiro-ministro, toda a gente notou que as intenções mais nobres do primeiro-ministro para acabar com o "familygate" tinham prazo de validade. Num Conselho de Ministros onde não podiam estar pai e filha (José António e Mariana Vieira da Silva) ou marido e mulher (Eduardo Cabrita e Ana Paula Vitorino) podem agora estar tranquilamente os dois irmãos Mendes (Ana Catarina e António).

Confesso que em matéria de família e recrutamento me incomoda bastante mais quando os governantes fazem nomeações cruzadas e se põem a escolher as mulheres e os maridos de outros membros do governo para os seus gabinetes, prática muito antiga e comum a governos do PS e do PSD. Os membros do governo sempre são escrutinados, já a maioria dos membros dos gabinetes sabe-se lá o que fazem ou o que não fazem.

Igualmente muito comum é o recrutamento no aparelho do partido que começa nas "jotas" onde se vão buscar assessores e adjuntos que acabam por fazer carreira na roda de um militante mais distinto, que chegue longe e que deles nunca se esqueça no pressuposto de que também eles serão leais ao chefe.

Quando Miguel Alves, que já tinha sido adjunto de António Costa nos tempos em que o agora chefe do governo foi apenas ministro, saiu, se tivéssemos procurado outro adjunto num desses ministérios talvez pudéssemos ter antecipado a chegada de Mendonça Mendes a São Bento, por estes dias. Para peneirar ainda mais as hipóteses em cima da mesa, sabendo que os dois são advogados, seria interessante perceber o que fizeram fora do Estado e iríamos descobrir que a Geocapital, do "amigo" Lacerda Machado, foi poiso de um e de outro, com Mendes a sair em 2009, ano em que entrou Alves. Em comum têm também a liderança de um federação distrital do Partido Socialista. Ou melhor tinham, porque Miguel Alves renunciou ao cargo em Viana do Castelo, depois da saída do governo, enquanto Mendonça Mendes se mantém à frente da distrital de Setúbal.

Parece que as coisas acontecem por acaso e que não dão trabalho a alcançar, mas aqui estão dois exemplos de tenacidade e paciência. Uma e outra escolha, no entanto, o que nos dizem de mais importante é que António Costa, que até se tinha convencido que não precisava de um secretário de Estado-adjunto, não procura ninguém com peso político, capacidade e, sobretudo, autonomia para resolver problemas. O que o chefe do governo e do PS quer é alguém que sirva de seu porta-voz no interior do governo. Lealdade a toda a prova ou, como dizem os fuzileiros, Semper Fidelis.

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