Entre a queda do muro de Berlim (1989), e o colapso da URSS (1991), os comunistas viram desabar o modelo aspiracional de desenvolvimento que sempre propuseram aos portugueses. A partir daí, um dilema foi instalado.
Grande parte do setor intelectual português da década de 1990 afirmava que o PCP ou se reformava, como fizeram o PC francês e o italiano, ou estaria condenado à morte.
Álvaro Cunhal fez o contrário. Fez do PCP o mesmo que sempre foi: marxista, leninista e apologista da União Soviética, sendo que para Cunhal o problema da URSS nunca foi o seu modelo político e económico, mas sim a liderança de Gorbatchov.
A verdade é que Cunhal acertou e, ao contrário do PC francês e do italiano, o PCP sobreviveu. Sobreviveu por não se reformar. Manteve-se como um partido com presença consolidada na geografia do poder local e resultados entre os 7 e os 10% nas eleições legislativas. Não se reformou com Cunhal, não se reformou com Carvalhas e não se reformou com Jerónimo.
Até que, em outubro de 2015, Jerónimo de Sousa decide mandar ao chão o muro que permitiu a sobrevivência eleitoral do partido e apadrinha a geringonça e o papel da co-governação com os socialistas. O que se seguiu foi avassalador: o PCP minguou vertiginosamente, perdeu câmaras emblemáticas e ficou reduzido ao papel de sexta força política nacional.
Dir-se-á que o PCP, ao legitimar a geringonça, abdicou da sua força eleitoral pela melhoria da qualidade de vida dos portugueses e que isso reforça a singularidade dos comunistas. Mas então fica, com legitimidade, a dúvida: se a motivação era o altruísmo político, porque é que o PCP chumbou o OE para 2022 sabendo que isso significaria a morte da solução política que criou?
Esse chumbo não só pôs fim à geringonça como entregou uma nova maioria absoluta ao PS.
De Jerónimo fica a imagem de um político autêntico e de um homem bom, uma raridade na política mediática moderna. Mas o legado político é baseado em resultados e em escolhas. E o PCP, que sobreviveu à queda do muro de Berlim, não está a resistir à duração e morte da geringonça.
Para futuro, o PCP informou o país que tinha outro líder. Reunido o Comité Central, a decisão foi assim tomada muito rapidamente. A ex-União Soviética também dispensou, sempre, a maçada dos debates, ou dos confrontos eleitorais, apostando em candidaturas únicas e votações de braço no ar. Coisas que ficam.
A diferença é que, depois de Cunhal, quer Carvalhas, quer Jerónimo tiveram direito a um novo congresso, novas equipas, e sobretudo um novo programa.
Sobre o que será o futuro do PCP e de Paulo Raimundo sabe-se que o novo escolhido dos comunistas ficou com o programa e a equipa do último congresso, em Loures de 2020. Programa e equipa que tiveram os resultados que conhecemos.