O que é que se pode dizer de um governo que coleciona casos? Que o último é só mais um. Já não sobra muita coisa para dizer. Bem sei que temos de ser governados e que a alternativa não existe. Na oposição dizem que ainda não existe, mas parece que ela já é mais forte dentro do próprio PS. Há pelo menos ali mais ambição que na São Caetano à Lapa.
No início dos anos 80, Kramer contra Kramer contava a história de um casal que lutou, em tribunal, pela custódia do filho, porque cada um deles entendia saber melhor do que o outro o que era melhor para o filho e, sobretudo, a vida sem a custódia do filho parecia-lhes insuportável. Esse filme colecionou Óscares: melhor actor e melhor actriz secundária (Dustin Hoffman e Meryl Street), melhor filme, melhor realização.
O filme está de novo em exibição nacional, tem agora como título PS contra PS, é recordista de audiências, e está a caminho de uma disputa que haverá também de ser resolvida em tribunal (congresso) e com recurso a júri (eleição directa pelos militantes).
No abraço dado na cerimónia da posse, se percebe que António Costa e Pedro Nuno Santos são também eles bons actores. Um e outro estão convencidos que sabem o que é melhor para o país e a um e a outro lhes parece insuportável a ideia de não serem eles a determinar o que é melhor para o PS.
O filme, que nesse ano roubou os principais Óscares a "All That Jazz" e "Apocalypse Now", de Francis Ford Coppola, terminava com a reconciliação possível entre os principais protagonistas. Mas um melodrama familiar é sempre mais previsível que um melodrama partidário. Olhando para o que está acontecendo entre os socialistas é tempo de voltar a citar Winston Churchill que, apontando para a bancada que tinha do outro lado, disse aos que tinha do seu lado: "ali sentam-se os nossos adversários, os nossos inimigos sentam-se aqui".
O poder ainda está nas mãos de António Costa e é suficientemente afrodisíaco para ter a maioria dos socialistas do seu lado, mas um poder em decadência pode levar a um motim. A vida para o primeiro-ministro ficou mais complicada com uma maioria absoluta que lhe caiu no colo e para o secretário-geral do PS ameaça terminar em divórcio. Bem lembrava o Presidente da República que entre os seis pecados mortais do governo estava a fragmentação interna.
Quem tem um partido assim nem precisa de oposição!