Esta semana tem sido intensa não só ponto de vista nacional, mas também no mundo. As expectativas face à Cimeira de Glasgow, ou seja, sobre um acordo entre países sobre alterações climáticas, vão crescendo, bem como as mensagens de cautela e de prudência.
Para a semana cá estaremos para analisar o início destas negociações sobre um desafio, uma questão tão, tão importante.
Mas hoje quero falar-vos de um outro tema igualmente importante: a democracia liberal. E do seu sucesso sobretudo a partir da década de noventa do século XX numa ilha com cerca de 23 milhões e 500 mil habitantes: Taiwan.
Nesta Opinião já vos falei da atual Presidente de Taiwan, Tsai Ing-wen, na perspetiva de uma liderança no feminino e, em especial, face a um contexto muito, muito adverso: a assimetria de poder entre o colosso chinês e Taiwan.
Hoje em dia, a China está cada vez mais presente e influente em matérias globais, regionais e mesmo na vida interna de outros países. Esta é uma realidade que não permite quaisquer dúvidas.
E, se tivermos em conta a importância política, identitária e de legitimidade para o Partido Comunista da China relativa à reunificação de Taipé com Beijing (considerada aliás um tema interno) ... poderíamos facilmente concluir que o destino destas 23 milhões e quinhentas mil pessoas está traçado e é inevitável.
Mas, entre os excessos e erros cometidos pela China, por exemplo, na destruição da sociedade civil em Hong Kong, e o reconhecimento da China como um «competidor estratégico» por Washington, entre outros, a ilha de Taiwan tem conseguido traçar um rumo próprio.
No poder desde 2016, eu diria que Tsai Ing-wen tem levado a cabo uma liderança inteligente como podemos atestar pelo seu artigo recente na revista Foreign Affairs.
Neste texto encontramos várias ideias, expressões e palavras-chave que nos permitem compreender os esforços de Taiwan para além do enorme sucesso dos seus semicondutores e da sua gestão face à pandemia atual: «democracia», «transparência», «Indo-Pacífico», «gestor responsável», «identidade coletiva», «sociedade civil» ou «combate à desinformação».
Há dois pontos do artigo que merecem um relevo mais reforçado. O primeiro prende-se com o valor de Taiwan em termos de recolha de intelligence sobre o que está a acontecer na China. Face ao desafio existencial que Beijing representa temos muito, mas mesmo muito a aprender com os taiwaneses nesta matéria.
E, em segundo lugar, Tsai Ing-wen acertou na mouche quando escreveu: «[Taiwan] deve ser cada vez mais considerado como parte da solução, sobretudo tendo em conta a procura pelas democracias liberais de um equilíbrio ponderado entre a necessidade de envolvimento e de comércio com países autoritários e a necessidade de defender os ideais e os valores democráticos que definem as nossas sociedades.» Ora, nós, portugueses e europeus, conhecemos bem os dilemas deste equilíbrio.