"Tentação de uma deriva totalitária" e o mundo

Hoje a NATO celebra 73 anos. E, tendo em conta a invasão russa da Ucrânia, era sobre este aniversário, os obstáculos e os desafios desta organização, que eu tinha pensado falar hoje.

No entanto, há uma inquietação, que não me sai da cabeça há uma semana. No dia 28 de Março, 20 pessoas publicaram uma carta aberta a que deram o título «Pela paz contra a criminalização do pensamento». Tendo como contexto a guerra na Ucrânia e nas suas próprias palavras: «Os signatários recusam alinhar com os que colocaram de quarentena a faculdade de pensar e perseguem todos os que recusam a lógica da confrontação, o elevar das tensões, e o desejo patológico de que a guerra se alastre à escala global.»

Li, reli e voltei a ler o texto como um todo. A minha reacção inicial foi de perplexidade face a algumas das expressões e frases. Aquela que mais me inquietou foi esta e passo a citar: «A forma maniqueísta de olhar a realidade, a opção da propaganda em detrimento do conhecimento, assentam na tentação de uma deriva totalitária, num ambiente público de crescente intolerância, censura e perseguição ao outro que ousa pensar diferente.»

«Tentação de uma deriva totalitária»? Para quem estuda a China e a sua ditadura estas são expressões com significado, com substância. O que diriam os jovens e a sociedade civil de Hong Kong ao lerem este texto escrito em Portugal e sobre Portugal e a Europa? O que diriam os uigures que vivem em Xinjiang sujeitos à violação, sem apelo nem agravo, dos seus direitos humanos?

Palavras e expressões como «tentações de deriva totalitária» são, sem dúvida, fronteiras que devemos atravessar com cuidado. Com muito cuidado.

Como escreveram os signatários «pensar traz consequências». Neste ponto eu não posso estar mais de acordo.

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