A política, tantas vezes vista como fonte de problemas, é com frequência exemplo de vida. A Nova Zelândia é do outro lado do mundo, normalmente sem grande destaque no palco internacional mas, nos últimos anos, o mundo olhou para este arquipélago da Oceania com um sorriso, respondendo ao sorriso que de lá transmitia Jacinda Ardern.
Em 2017, com 37 anos, Jacinda tornou-se numa das mais jovens mulheres a governar um país. Foi mãe no segundo ano do primeiro mandato. O equilíbrio entre a vida profissional e a vida familiar foi uma marca muito importante e que lhe permitiu uma governação muito marcada pela humanidade.
O primeiro grande teste pelo qual passou Jacinda foi o ataque terrorista a duas mesquitas de que resultaram mais de 50 mortos. As imagens da primeira-ministra em comunhão com a comunidade muçulmana, em mensagem ao país, manifestando a sua solidariedade com os imigrantes que escolheram a Nova Zelândia para viver, declarou: "eles somos nós".
Foi contestada, como muitos outros chefes de governo pelo mundo fora, quando fechou o país para combater a Covid 19, mas a Nova Zelândia acabou por ser dos países que apresentou melhores resultados no momento de vencer a pandemia.
Ontem anunciou que lhe faltava energia para continuar a ser primeira-ministra e sai pelo próprio pé. Apenas porque entende que é preciso que estejam os mais capazes na liderança do país. Não basta ser a pessoa certa, é preciso ser a pessoa certa com a energia necessária.
De Jacinda, o mundo recordará que viveu o cargo de primeira-ministra com a mesma simplicidade com que lá chegou, perguntando sempre: "quem somos nós para não mostrar senão amor e bondade?"
Jacinda vai agora viver a sua vida, de mulher, de mãe. Tem direito. O que ela nos deixa é muito: o exemplo de total desapego ao poder.