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"A vida de um artista é feita de curiosidades e surpresas." A frase é de Pedro Cabrita Reis, escultor que, entrevistado pelo jornalista Fernando Alves, garante que este é mais um momento para devolver à sociedade "os reflexos da sua inquietação". Na tarde deste sábado, é inaugurada oficialmente a exposição "As Três Graças" da autoria do artista, no Jardim das Tulherias, junto ao Museu do Louvre.
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O Presidente da República e a ministra da Cultura estarão presentes na inauguração, naquele que Pedro Cabrita Reis considera ser um ato de "diplomacia cultural recíproca" entre Portugal e França. "As Três Graças" já habitam no jardim das Tulherias, no Louvre, há pelo menos uma semana, exibindo uma escala de cinco metros, num trabalho moldado em cortiça e pintado de branco. Estão reunidos vários fatores que suscitam a curiosidade entre os parisienses. "Há, de facto, muitas pessoas a comentar, a fazer fotografias, a olhar", reconhece o escultor. "Estou ciente que há uma atenção particular a esta peça, até porque é, de alguma forma inédita, aqui, nas paisagens das Tulherias, e, como tal, chama a atenção."
Ouça a entrevista de Fernando Alves com Pedro Cabrita Reis.
"A curiosidade baseia-se em torno do facto de ser uma peça de arte contemporânea. Há inúmeras esculturas no jardim das Tulherias, desde o século XVII até ao princípio do século XX. Esta peça, como é uma peça de arte contemporânea que tem uma estrutura, uma forma de fazer, uma materialidade que não é absolutamente idêntica às outras obras, destaca-se por isso, e prende, assim, a atenção das pessoas."
O tamanho, admite Pedro Cabrita Reis, também desafia a indiferença. "É claro que a escala também é importante. A peça tem cerca de cinco metros de altura, são feitas em cortiça pintada de branco, apoiadas numa base de aço. Tem uma presença bastante cativante e bastante forte aqui no jardim."
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O criador português que expõe no Louvre revela que, desta vez, a peça não foi esculpida a escopo e martelo. Um braço robótico moldou o trabalho de Pedro Cabrita Reis. "Utilizei a tecnologia robótica para, a partir de uma pequena maquetas feitas por mim, em pedra, no atelier, transferi-las para uma escala grande, bastante grande", explica o escultor.
"Esses robôs trabalharam os blocos de cortiça no sentido de transportarem para esses blocos de cortiça aquilo que era a natureza e a topografia, ou a forma, das minhas maquetas originais feitas em pedra. As maquetas originais são lidas, são digitalizadas, e o resultado dessa digitalização é transformado numa linguagem que é comunicada ao braço robótico, que a segue minuciosamente durante dias, e dias, e dias, estar todo torneado todo o bloco e o bloco se ter tornado uma escultura."
E, pela primeira vez, usou a cortiça, refere um dos criadores portugueses que apresentarão no Louvre. "Portugal é sinónimo de cortiça", aponta Pedro Cabrita Reis.