Emídio Guerreiro. Da clandestinidade para o combate político em democracia

Da penumbra para a luz, para as tantas cores da vida de Emídio Guerreiro, o deputado constituinte que durante o verão quente de 75 foi secretário-geral adjunto do então PPD.

"Emídio Guerreiro - Sob o despotismo da liberdade" é uma edição da Assembleia da República incluída na coleção Parlamento. O autor e historiador Luís Farinha conversou com a TSF sobre os "7 fôlegos, 7 ditaduras do combatente pela liberdade. No verão quente de 1975, regressou de um longo exílio, foi secretário-geral do então PPD. A edição ]e de capa dura (apropriada à firmeza de convicções do político retratado) e está tudo neste livro de capa cor de laranja ainda que, como sublinha o historiador Luís Farinha, ele pudesse ter outras cores: "Desde logo o azul, ele foi desde muito novo um lutador pela liberdade", mas também "o vermelho dos libertários", conclui o investigador.

Segundo o investigador, Emídio Guerreiro, formado em matemática, é desde jovem "um republicano, mas com as aspirações a uma República democrática" e isso "vai notar-se quando se coloca à frente da Associação Académica do Porto, formando o Centro Académico do Porto, e em que se relaciona com 'um certo tipo da maçonaria', empenhada em captar elementos do Exército na resistência à ditadura.

Em 1928, o maçon Guerreiro funda a Loja Comuna, no Porto e adota o nome simbólico de Lenine. "Ele vai manter esse nome simbólico sempre. Mesmo depois de ter feito a crítica dos regimes de Leste", acrescenta o biógrafo.

A partir do início dos anos 1960 adere ao Delgadismo. "É Emídio Guerreiro quem anuncia à família de Delgado, a Mário Soares, e à imprensa em geral, que Humberto Delgado 'ou estava morto ou estava preso'", em março de 1965, porque não recebe os sinais que esperava do "encontro" de Badajoz que decorreu no mês anterior.

A 22 de maio de 1967, Guerreiro anuncia com estrondo ao jornal Le Monde a criação da LUAR (Liga de Unidade de Ação Revolucionária) e pouco depois organiza, na Rue Recamier, em Paris, uma conferência sobre A Dialética das Matemáticas Modernas. A reunião, intitulada de "Lógica Universal da Aritmética Racional" era, na verdade, um plano de aliciamento de elementos para o grupo revolucionário, eufemisticamente. "É 'uma palestra' com 'aviso prévio' onde se anunciava a matéria como especialmente interessante 'para espíritos livres'", conta Luís Farinha.

Com o 25 de Abril, chegam ao fim os mais de 40 anos de exílio de Emídio Guerreiro. Regressa a Portugal e, aos 75 anos, adere ao então PPD. No verão quente lidera o partido, mas acaba por sair em rotura com Sá Carneiro no final de 1975. Mantém-se na Assembleia da República, como independente, até à aprovação da Constituição de 1976.

Apesar de ser a mais completa biografia de Emídio Guerreiro editada até ao momento, Luís Farinha assegura que as 400 páginas ainda não são a história total: "Não creio."

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