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O cineasta Lauro António morreu esta quinta-feira, confirmou a TSF. Era conhecido pela realização de filmes como "Manhã Submersa" e "O Vestido Cor de Fogo".
Segundo o filho, Frederico Corado, citado pela Lusa, Lauro António sofreu "um ataque cardíaco fulminante" na manhã desta quinta-feira em casa, em Lisboa. O realizador nascido a 18 de agosto de 1942 tinha 79 anos.
Lauro António foi também crítico de cinema, ensaísta, dinamizador de cultura, professor, apresentador de televisão, escritor e programador cultural e diretor de festivais. No currículo do cineasta também estão os telefilmes "Paisagem Sem Barcos", de 1983, e "Mãe Genoveva", de 1983.
Ouça a reportagem da TSF sobre Lauro António
Licenciou-se em História e ainda nos tempos de faculdade, na década de 1960, começou por ser crítico de cinema nos jornais República e Diário de Lisboa, na revista Plateia, que estenderia depois à revista Opção, ao Diário de Notícias, a A Capital e ao semanário Se7e, entre outras publicações. Foi membro do Cine-Clube Universitário de Lisboa e dirigente do ABC Cine-Clube.
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Depois de ter experimentado a realização durante o serviço militar, Lauro António fez o primeiro filme profissional em 1975, quando rodou a 'curta' documental "Vamos ao Nimas", sobre os cinemas de Lisboa.
Aos 38 anos adaptou o livro "Manhã Submersa", de Virgílio Ferreira, que teve Eunice Muñoz e Virgílio Teixeira entre os protagonistas. Levou o filme aos festivais de Cannes e Los Angeles, entre outros.
No "Dicionário de Cinema Português", Jorge Leitão Ramos escreve que, com "Manhã Submersa", Lauro António tornou-se "um nome seguro da geração dos anos 70", mas as obras seguintes, como a série "Histórias de mulheres" e "Vestido cor de fogo", não tiveram tanta visibilidade.
A intensa atividade em torno do cinema fê-lo programar para várias salas de cinema, colaborar com a RTP e a RDP, publicar ensaios, dirigir festivais de cinema em Portalegre, Seia, Viana do Castelo e em Famalicão, e lecionar, consecutivamente, em cursos sobre cinema.
No ano de 2005, a TSF esteve à conversa com o cineasta.
Ouça aqui a entrevista com Lauro António, num trabalho de Francisco Mateus com sonoplastia de João Félix Pereira.
Nos anos 1990, estreou-se como encenador, com a peça "Encenação", no Teatro de Animação de Setúbal, mas ficou mais conhecido sobretudo pelo programa televisivo "Lauro António apresenta". O programa inspirou outros programas sobre a sétima arte, foi satirizado por Herman José, com a personagem Lauro Dérmio. A marca perdurou, através do blogue com o mesmo nome que atualizou até meados de janeiro deste ano.
Em 2018, Lauro António recebeu o Prémio Carreira do Fantasporto, foi distinguido pela Academia Portuguesa de Cinema com um prémio Sophia de carreira e condecorado pelo Presidente da República com o grau de comendador da Ordem do Infante D. Henrique.
Lauro António> estava atualmente ligado à Casa das Imagens, em Setúbal, um espaço cultural criado a partir de uma doação que o crítico de cinema fez à autarquia. A programação do fórum Luisa Todi, em Setubal, também era uma função atual do cineasta.
Em 2021, em declarações à agência Lusa, Lauro António> explicava que a Casa das Imagens iria contar com cerca de 50 mil livros, filmes, fotografias, cartazes e outros documentos, para consulta pública, para que não se dispersasse ou caísse no esquecimento.
Marcelo Rebelo de Sousa lamenta a morte
Numa nota de pesar publicada no site da Presidência da República. "Lauro António conta-se entre os poucos nomes que o grande público identificava com o cinema e a cinefilia", lê-se na comunicação de Marcelo Rebelo de Sousa.
"Em 2018, tive a oportunidade de, através da Ordem do Infante D. Henrique, reconhecer o contributo de Lauro António para a nossa literacia cinematográfica. Já depois disso, pôde ainda deixar à cidade de Setúbal os livros, filmes, fotografias e cartazes de uma vida inteira, numa Casa das Imagens que é o maior acervo português sobre cinema fora da Cinemateca", escreve Marcelo Rebelo de Sousa.
"À família de Lauro António apresento as minhas sentidas condolências", termina.