"O teatro não chega às pessoas"

O encenador Jorge Silva Melo denuncia uma cultura "festivaleira" que se instalou no teatro português e que impede o público de realmente assistir aos espetáculos.

Jorge Silva Melo não disfarça a angústia perante a curta vida de uma peça que deveria ter feito duas temporadas de um mês em Lisboa e no Porto. A "Morte de um Caixeiro Viajante" está a partir desta sexta-feira no Centro Cultural de Belém, depois de ter estreado em abril.

"Tem sido hercúleo conseguir levar o espetáculo à cena. Mais, levar o espetáculo aos espectadores." Na memória do encenador estão as longas filas de gente que assistiram à primeira apresentação, em 1947. "É uma peça que fala de coisas que toda a gente sente, vive, sofre. E que mereceria um público grande." Fala de quê? "Este país não é para velhos. Fala de chegar-se aos 50 anos e já não sermos precisos, já não sermos - palavra horrível - 'rentáveis'."

Os 50 são hoje os 60, e a vida paga a prestações, que é descrita no texto de Arthur Miller, é bem atual. Na época, a sociedade americana vivia o pós-guerra. Vivia-se o sonho americano. O autor fixa na personagem de Willy Loman o retrato de uma época, e a ilusão da pequena burguesia.

Mentiras, frustrações, fracassos e o drama do desemprego. "Que vida é possível recomeçar?", questiona o encenador. "Em Portalegre, quando vi espectadores chorarem nos últimos 10 minutos da peça, fiquei comovido."

Veja aqui a apresentação da peça "Morte de um Caixeiro Viajante":

"A missão dos Ministérios é difundir, não é esconder"

Jorge Silva Melo denuncia uma cultura "festivaleira" que se instalou no teatro português. Meia dúzia de espetáculos, e pouco mais se pode ambicionar para peças como a "Morte de um Caixeiro Viajante", ou "O Lugre", de Bernardo Santareno, que o Teatro da Terra levou ao Seixal em julho.

"Sequestrou-se aos espectadores a possibilidade de verem estas peças. Cumprem-se datas, cumprem-se calendários, orçamentos, socorrem-se pessoas, mas o importante era que os espectáculos pudessem correr o país, que as peças ficassem na memória e no coração das pessoas." Jorge Silva Melo reclama políticas públicas que devolvam o teatro ao público: "Andamos em digressão apressada, há o risco de o teatro apodrecer".

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