Ópera criada em Trás-os-Montes atravessa o Marão e chega ao Coliseu do Porto
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Ópera criada em Trás-os-Montes atravessa o Marão e chega ao Coliseu do Porto

"Mátria - Aqui na Terra" foi escrita por Eduarda Freitas inspirada em contos do escritor Miguel Torga.

Depois de três espetáculos em Vila Real e um em Bragança, a Ópera Mátria atravessa a Serra do Marão e apresenta-se, esta sexta-feira, no Coliseu do Porto. O convite da diretora desta sala de espetáculos, Mónica Guerreiro, apanhou o grupo de surpresa, mas este não perdeu a oportunidade de se mostrar fora de Trás-os-Montes.

O libreto da ópera é da autoria de Eduarda Freitas e foi totalmente inspirado nos "Contos da Montanha" (editados em 1941) e nos "Novos Contos da Montanha" (publicados em 1944), escritos por Miguel Torga.

A criadora estava convencida que depois da estreia, em dezembro de 2021, no âmbito do programa comemorativo dos 20 anos do Alto Douro Vinhateiro Património Mundial, e de mais três atuações na região transmontana o projeto ficaria por ali. Mas Eduarda Freitas enganou-se.

"Passar o Marão é como ultrapassar uma barreira psicológica" assume a ex-jornalista, que revela que os quase 70 elementos do projeto que lidera têm "vontade de continuar e de mostrar a obra noutros locais do país e, quem sabe, talvez fora dele".

Os contactos já começaram a ser feitos. O Brasil afigura-se como o destino "mais óbvio", pelo menos numa fase inicial, até pela maior facilidade que pode haver para compreender a ópera. Eduarda Freitas assume que gostaria de mostrar mais vezes esta ópera, "um material único", que tal como a obra de Miguel Torga é universal.

Dois atos

De acordo com a sinopse da obra, numa aldeia transmontana, um rapaz vive fascinado com as histórias de encantar, acreditando que há um tesouro escondido na barriga do monte para onde leva as ovelhas. O menino transforma-se num homem inquieto, que procura fora de si uma qualquer paz. Cruza-se com outras vidas, cada qual com a sua inquietação. E é quando a velhice se cola aos ossos, que o velho homem sente o apelo do regresso, à procura das certezas de menino.

Está organizada em dois atos de duração muito desigual. O primeiro contém onze cenas, de carácter mais abreviado e de sequência mais rápida e contrastada. O segundo, apenas três, de recorte mais denso e continuado.

Quem for à ópera Mátria poderá ver um pouco da região transmontana e duriense espelhada no palco, envolvida em "muito trabalho e dedicação". Eduarda Freitas destaca "as vindimas, o verão, as festas, o frio, o Natal, um padre da aldeia a dar um sermão, o namoradeiro atrás de uma miúda". É a vida quotidiana do Douro, mas que, no fundo, "é a vida de todos nós".

Personagens versáteis

A Mátria não tem um cenário estático. As personagens são versáteis e estão em constante mudança. A autora nota que "tanto são árvores e ovelhas, como vinhas e cestos de vindima, ou cartas de amor, sentimentos e desespero por alguém que vai partir". Por isso, é "um papel extremamente exigente" para pessoas que se têm "dedicado muito".

Desde que Eduarda Freitas teve a ideia, até a levar o palco passaram 10 anos. "Demonstra uma grande capacidade de resistir", confessa a autora. Depois de garantir financiamento da Direção-Geral das Artes, o desafio foi chamar ao projeto as pessoas que lhe dessem garantias de sucesso.

Mátria tem música do compositor Fernando C. Lapa. A direção musical pertence ao maestro Jan Wierzba. Nasceu na Polónia, mas vive, há muitos anos, em Portugal. A encenação é de Ángel Fragua, os figurinos de Cláudia Ribeiro e o desenho de luz de Pedro Pires Cabral.

Em palco estão 21 elementos dos coros: dos Moços do Coro e do coro comunitário formado para a ópera, mais sete solistas e cerca de 30 músicos da Orquestra Mátria, que conta com elementos da Banda Sinfónica Transmontana e da Douro Strings Academy

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