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Nas últimas semanas, Sérgio Graciano encurtou cenas, tirou uma ou outra e retocou o filme que se projeta em antestreia nacional esta segunda-feira. "Não é um filme sobre o 25 de Abril", esclarece o realizador, "é muito mais sobre a pessoa do que sobre o herói". Tomás Alves veste a pele de Fernando Salgueiro Maia. Este filme é um abraço ao homem que foi capitão de Abril.
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A certa altura, no Largo do Carmo, uma jovem abraça o capitão. Daniela Maia, a neta de Salgueiro Maia, dá vida a uma das cenas mais comoventes do filme. "Foi um momento de silêncio absoluto no plateau. Foi a única vez que não dirigi um ator. Disse: 'vais lá e abraças o Tomás'", conta Sérgio Graciano. O povo tinha saído à rua e da multidão irrompe uma jovem de braços e cravo estendido para o capitão Salgueiro Maia. "Eu senti aquele abraço como o desejo dela abraçar o avô", recorda Tomás Alves. As semelhanças físicas foram determinantes na escolha do ator para o papel, cuja cumplicidade com o realizador soma várias etapas e outros tantos projetos: "O Sérgio é o realizador com quem eu mais trabalhei."
Ouça a entrevista com o ator e o realizador de Salgueiro Maia - O Implicado.
A senha da cumplicidade estava encontrada e nem a pandemia, cujo isolamento forçou o adiamento da rodagem, fez vacilar a equipa. Entre os testemunhos ouvidos, a história conhecida e a licença poética para criar o filme acontece, percorrendo a vida de Fernando Salgueiro Maia. "É um filme que serve para desmistificar o herói, mas também para sublinhá-lo", afirmam os dois, ator e realizador. O guião parte da biografia escrita por António de Sousa Duarte, agora reeditada "Salgueiro Maia - Um homem da Liberdade". Foi o antigo jornalista quem fez a ponte com a família, amigos e antigos companheiros da vida militar.
De entre os vários testemunhos, revelam a sintonia na seguinte descrição, reveladora para os dois: "Toda a gente dizia que ele era um guerreiro, um Rambo, e foi uma surpresa para nós, porque essa imagem não passa tanto. Um guerreiro, quase de faca na boca, e vamos para a frente". As comissões em Moçambique e na Guiné são passagens decisivas na vida do capitão "onde começa a interrogar-se sobre o seu papel e essa transformação também passa no filme". Tomás Alves fala de um homem "com princípios muito bem definidos, que não se deixava levar por nada".
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"Sabia muito bem o que estava mal e o que estava certo e sabia movimentar-se assim., mas não deve ter sido fácil viver com este estado de alerta", complementa o ator.
O militar, o estudante, o homem, o pai, a família: "A Natércia era uma balança na vida dele. São duas pessoas que se encontraram e se juntaram. Acontece raramente, mas equilibraram-se muito bem um ao outro."
Quatro semanas de rodagem, pandemia pelo meio e a feliz coincidência de uma estreia em abril. Se tudo tivesse acontecido como estava previsto no guião, o filme teria chegado às salas no final do ano passado, entre outubro e novembro. Aqui chegados, Sérgio Graciano recorda as dificuldades de "colocar figurantes no set de filmagens" e "alguns receios de fugir à verdade nas cenas pós-25 de Abril", mas sabe que fez o melhor: "O filme é honesto, estou muito orgulhoso."
Tomás Alves diz o mesmo por outras palavras: "Se nós fizermos um trabalho verdadeiro e genuíno, isso passa. Tentarmos fazer para nós acreditarmos no que estamos a fazer. Houve muito amor, muita pele e isso é a nossa parte."
Um filme que os fez felizes, esperando agora que faça feliz quem o vai ver.
Salgueiro Maia - O Implicado estreia a 14 de abril.