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"Não estou em condições de dar essa resposta." Passavam poucos minutos do início da reunião da comissão de inquérito ao Novo Banco, quando Pedro Duarte Neves, vice-governador do Banco de Portugal em 2014, no momento da resolução do Banco Espírito Santo, começou por responder com estas palavras a uma questão da deputada bloquista Mariana Mortágua sobre o processo de tomada de decisão do supervisor e sobre a divisão de ativos entre o banco bom e o banco mau.
"Provavelmente havia alguma possibilidade de recuperação de um valor para o Novo Banco", tentou continuar o antigo vice-governador, que ainda foi questionado pelo presidente da comissão, Fernando Negrão, sobre se não esteve envolvido na decisão.
"Estive envolvido", confirmou Pedro Duarte Neves, antes de explicar que o passar do tempo impedia uma resposta mais completa.
"Não estou em condições de dar essa resposta"
Dez minutos depois, o BE alertava para o "mistério" de que duas análises a exposições de crédito do BES com seis meses de diferença tenham um salto de milhões de euros. Uma vez mais, Pedro Duarte Neves não teve explicação.
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Em causa estão dois relatórios de auditoras - um primeiro da PwC e outro da EY - que analisaram as grandes exposições de crédito do BES e Novo Banco, realizados em 2014, com seis meses de diferença, não conseguindo Mariana Mortágua "compreender como é que exposições seis meses depois de serem avaliadas pela Price [PwC] aumentam de valor face à identificação do balanço".
Questionado por Mariana Mortágua sobre aquilo que a bloquista considerou ser um "mistério" na época da resolução do BES, em 2014, o antigo vice-governador preferiu elogiar a pergunta - que considerou "excelente -, antes de reconhecer que não conseguia "contribuir para a explicação".
"Não lhe posso dar qualquer justificação para essa pergunta porque não sei. As exposições que existiam foram acompanhadas pelo Banco de Portugal até ao momento da resolução [do BES]. Porque é que há esse salto eu não consigo responder. Não sei", respondeu Duarte Neves.
"Não consigo responder a isso"
A deputada do BE deu exemplo de empresas como a Martifer, que no relatório da PwC tinha uma exposição de cerca de 281 milhões e, seis meses depois, a EY identificava 557 milhões, ou de José Guilherme, que passou de 137 para 262 milhões de euros.
"Não consigo responder a isso", garantiu o antigo responsável, que explicou que não esteve envolvido no acompanhamento dos balanços.
Quando confrontado com a pergunta se alguém no Banco de Portugal tinha comparado estas duas exposições, Duarte Neves respondeu: "Seguramente alguém terá feito isso, não tenho aqui uma explicação para isso."
Mariana Mortágua quis ainda saber a quem se podia pedir uma explicação e o antigo vice-governador remeteu para "os colegas da resolução".
O aviso de Negrão
Perante o que se ia passando, o presidente da comissão de inquérito, Fernando Negrão, escolheu recordar a Pedro Duarte Neves que faltar à verdade numa comissão constitui a prática de um crime.
"O facto de serem obrigados a dizer a verdade significa que há consequências se não o fizerem. Não o fazendo, a consequência é o indício da prática de um crime de desobediência qualificada que é comunicado às entidades competentes."
O aviso de Fernando Negrão