Centeno defende que tipologias de investimento em projetos sustentáveis devem ser ajustadas

Tendo como objetivo a preparação da banca para uma gestão de riscos equilibrada, Mário Centeno refere que o Banco de Portugal está a participar nos testes de stress climáticos lançados pelo Banco Central Europeu e cujos resultados são esperados em julho.

O governador do Banco de Portugal (BdP), Mário Centeno, defendeu esta sexta-feira que o sistema financeiro tem de propiciar uma adaptação das tipologias de investimento para projetos sustentáveis.

"As tipologias de investimento terão de ser ajustadas", disse Mário Centeno, durante uma intervenção na "Grande Conferência Negócios Sustentabilidade 20 - 30", promovida pelo Jornal de Negócios.

O governador do BdP justificou que os projetos de investimento sustentável envolvem tipicamente tecnologias inovadoras, incorporam forte intensidade de capital e têm horizontes de concretização muito longos.

"Estas características requerem instrumentos de capital, quase-capital, capital de risco e outras modalidades menos comuns, além dos tradicionais mercados de crédito bancário e de obrigações. Esta é uma adaptação que o sistema financeiro tem de propiciar", afirmou.

Mário Centeno revelou que Portugal está a participar nos testes de stress climáticos lançados pelo Banco Central Europeu (BCE) e cujos resultados são esperados em julho. A ideia é preparar a banca para uma gestão de riscos equilibrada.

"As alterações climáticas e as respetivas políticas de adaptação e de mitigação afetam também variáveis como o crédito, a procura e a oferta agregada e os preços, impactando diretamente por esta via na condução da política monetária. Por isso, o Banco de Portugal participa no plano de ação definido pelo BCE para adaptar os modelos e metodologias subjacentes à política monetária, tendo como principal preocupação salvaguardar o objetivo primordial de estabilidade dos preços e assegurar uma gestão prudente dos riscos no seu próprio balanço", acrescentou.

O responsável pelo supervisor bancário sublinhou ainda a importância da qualidade de informação subjacente a este tipo de investimento.

Para Mário Centeno a "aposta numa transformação carbónica e economia circular implica uma transformação profunda do nosso sistema económico", que abarca todos setores de atividade.

"As políticas públicas têm uma tarefa determinante. Não se trata de substituir o papel e a iniciativa dos agentes privados. Trata-se sim de lidar com as falhas de mercado que, como bem sabemos, estão na origem destes fenómenos e resultam em níveis subótimos de investimento em tecnologias mais sustentáveis e investigação e desenvolvimento", disse.

Considerou assim que "é o poder político quem em primeira linha tem a legitimidade e os instrumentos mais eficazes para agir", devendo quer penalizar atividades intensivas em carbono ou poluentes, quer dar subsídios ou investir em infraestruturas ditas verdes.

Defendeu ainda a importância da implementação eficiente do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR) para esta transição.

"A emissão pela Comissão Europeia de dívida comum para financiar estes investimentos [...] beneficia toda a Europa e não apenas alguns países", disse, acrescentando que "não pode ser assim desperdiçada sob pena do momento de partilha de risco mais aprofundado da Europa desde a criação do euro ser dado como perdido".

"Só uma implementação eficiente dos recursos do Next Generation EU permitirá dar continuidade a esse momento de integração europeia lançado em 2020 e com este desígnio de sustentabilidade e solidariedade muito vincado", vincou.

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