Falta de maquinistas na Transtejo. Não aparecem candidatos com qualificações exigidas

Transtejo abriu um concurso para tentar resolver a escassez de profissionais nos barcos, mas não surgiram candidatos com as qualificações necessárias. Os novos profissionais recrutados vão ainda ter de passar primeiro por um período de formação.

A Transtejo/Soflusa já contratou dois dos cinco maquinistas que estavam em falta nos barcos da empresa, mas mesmo estes ainda não podem entrar ao serviço. Numa resposta enviada à TSF, a Transtejo explica que, por regra, as embarcações têm de integrar profissionais de 1.ª ou 2.ª classe, mas os únicos candidatos que se apresentaram a concurso têm apenas a 3.ª classe da categoria profissional. Assim, os dois maquinistas agora contratados ainda vão ter de iniciar a formação necessária para poderem trabalhar.

"Considerando que as tripulações que operam as embarcações da Transtejo têm de integrar um Maquinista Prático de 1.ª, ou de 2.ª Classe, por imposição legal e, considerando que não foram recebidas candidaturas para estas categorias, os trabalhadores agora recrutados irão iniciar, nos próximos dias, a formação necessária para o efeito", admite a Transtejo.

Mesmo assim, continuam ainda por preencher três das cinco vagas do concurso aberto em julho e agosto deste ano - e que previa também a contratação de seis marinheiros, já recrutados.

A empresa garante à TSF que está "a desenvolver as diligências possíveis para concluir todo o processo" até ao final deste mês.

A Transtejo explica que, para serem admitidos, os candidatos têm de ter: "cédula marítima preferencialmente com averbamento da categoria de Maquinista Prático de 1.ª Classe", disponibilidade para "trabalhar por turnos" e "facilidade de acesso às zonas ribeirinhas do rio Tejo".

Até o processo estar concluído, a empresa tem de recorrer ao trabalho extraordinário, para conseguir que os barcos circulem. No entanto, em declarações à TSF, a Federação dos Sindicatos de Transportes e Comunicações (Fectrans) avisa que, enquanto não houver acordo, vai prosseguir com as formas "luta" e manter a greve às horas extra.

O Governo, a Transtejo e os sindicatos iniciaram negociações, sem sucesso, e, para já, ainda não foi marcada nova reunião.

A Transtejo confirma que, no último mês e meio, em particular, a falta de recursos humanos tem levado à supressão ou atrasos em várias carreiras das ligações fluviais de Cacilhas, Montijo, Seixal e Trafaria.

Onde encontrar maquinistas?

Há uma escassez de maquinistas de embarcações no mercado, que está a tornar difícil colmatar a falta destes profissionais nos transportes públicos.

Carlos Costa, dirigente do setor fluvial da Fectrans, explica à TSF que há várias escolas especializadas em Portugal, para formar maquinistas. Estes começam a formação como ajudantes de motoristas e o percurso natural é passarem, de seguida, a maquinistas de 3.ª classe, depois a maquinistas de 2.ª classe, e, finalmente, a maquinistas de 1.ª classe - sendo estas duas últimas categorias aquelas de que as empresas têm mais falta.

No entanto, depois de formados, os profissionais tendem a escolher ingressar em empresas onde recebem salários mais atrativos, em vez de optarem pelos transportes públicos, nota Carlos Costa.

"Neste momento, o mercado nacional tem alguma dificuldade em arranjar maquinistas práticos de 1.ª classe, devido à escassez que há. Tem sido difícil. E os que há, neste momento, estão empregados em empresas que têm outras condições financeiras", afirma o sindicalista.

Mas mesmo os profissionais que aceitam ficar em empresas como a Transtejo/Soflusa não conseguem preencher os lugares em falta, uma vez que é preciso algum tempo de mar para avançar para as categorias profissionais onde há escassez.

Um profissional "que saia da escola precisa, no mínimo, de três meses para ter um embarque, ou seja, para ter a cédula certificada. Mas se não houver um armador que lhe dê essa possibilidade, ele nunca consegue fazer os três meses, nem há ninguém que lhe dê trabalho porque não tem o tempo de classificação", exemplifica Carlos Costa.

O resultado é um corpo de profissionais no ativo reduzido e envelhecido. Para a Fectrans, é necessário, de modo a acelerar a formação dos maquinistas, que haja algumas mudanças - alterar requisitos ou ajudar à contratação com estágios - na legislação aplicada pela Direção-Geral de Recursos Naturais, Segurança e Serviços Marítimos (DGRM), a entidade responsável por atribuir a classificação das categorias.

Até que haja alterações nas regras, a federação sindical admite que a solução, a curto prazo, poderá passar por ir buscar os maquinistas que faltam a empresas de obras portuárias ou pela reconversão do pessoal da marinha da guerra, embora ressalva Carlos Costa, seja difícil também captar profissionais na Marinha, uma vez que as condições de reforma apresentadas nas empresas são mais desvantajosas.

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