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A alta dos preços dos combustíveis e a a decisão do Governo de baixar em um cêntimo o preço do gasóleo e dois o da gasolina, por via de uma redução do imposto sobre os combustíveis, são contestadas pelos principais partidos, que pedem uma mão mais firme ao Executivo.
Para o PCP, a redução do imposto não basta. Os comunistas pedem a intervenção do Governo em dois eixos: acabar com a cartelização das petrolíferas, e, como refere o deputado Duarte Alves, baixar a carga fiscal que inflaciona o preço dos combustíveis."Não podemos ignorar o peso que os impostos têm nos combustíveis, e, por exemplo, a eliminação do adicional ao ISP seria necessária no momento atual", sustentou o deputado, no Fórum TSF.
Duarte Alves acredita que é preciso limitar os lucros das petrolíferas.
"Além da questão fiscal, aquilo que fica claro é que é preciso avançar com outras medidas, desde logo no sentido de controlar as margens que são apropriadas pelas grandes petrolíferas. O atual sistema de formação de preços é baseado em índices artificiais, é um sistema que não é uma estrutura de custos normal. É precisa uma atuação que contradiga os interesses das grandes petrolíferas."
Também na ótica do PSD, o Governo não está a fazer tudo o que pode para enfrentar a escalada dos preços dos combustíveis. O deputado Afonso Oliveira acusa a Tutela de ter assumido, nesta matéria, um compromisso em 2016 e de não o estar a cumprir."O Governo assumiu, em 2016, um aumento do adicional de ISP, ou seja, houve um acréscimo de impostos a partir de 2016. O compromisso que havia nesse momento era que, se o combustível aumentasse, reduzia o ISP; haveria uma neutralidade fiscal nesse aumento. O Governo não cumpriu esse compromisso."
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Ouça as acusações de Afonso Oliveira, do PSD.
Afonso Oliveira considera, por isso, "incompreensível" que o Executivo tenha "enganado os portugueses" e que esteja a demonstrar um "comportamento que não tem consistência".
"O Governo tem mesmo de fazer muito mais e tratar esta questão com muito cuidado, tratar os portugueses com seriedade", salientou o deputado social-democrata.
No entendimento do Bloco de Esquerda, a redução de impostos não é suficiente para controlar o preço dos combustíveis. A deputada Isabel Pires reitera a proposta bloquista, e defende que a especulação só terá um fim quando o Governo combater a especulação. Isabel Pires aponta, "por um lado, um modelo, do ponto de vista internacional, do funcionamento do mercado de petróleo, que não tem em conta nem a questão das alterações climáticas nem a forma mais justa de divisão e de preço para os consumidores", e que, "por outro lado, havendo a dificuldade de mexer neste modelo internacional que está associado ao petróleo, temos uma dificuldade, em Portugal, por parte do Governo, já de há muito tempo, de olhar para onde está o problema, que é nas margens de lucro e na falta de controlo de preços que atualmente existem".
Isabel Pires quer o Governo a combater a especulação.
Já o PAN constata que a liberalização do mercado de combustíveis não se tem revelado um modelo eficaz no equilíbrio dos preços. Nelson Silva, deputado do Partido Animais e Natureza, defende por isso o regresso do mercado regulado. No entanto, o PAN não acredita que deva existir um teto de preços, "porque obviamente se formos pensar que existem pequenas e médias empresas que fazem venda de combustível, ao colocarmos esse teto máximo num mercado que é tipo um mercado de bolsa, em que o preço do barril de petróleo muda todos os dias, seria estar a condenar estas pequenas e médias empresas ao desastre passar todo o poder e monopolizar ainda mais o setor em Portugal".
O PAN deixa uma sugestão que não passa por estabelecer máximos de preços.
O deputado do PS Hugo Costa lembrou que está para breve a entrada em vigor da portaria que permitirá ao Governo limitar as margens na comercialização de combustíveis, caso considere que estas estão demasiado altas sem justificação. O socialista acrescentou ainda que não está descartada uma nova baixa dos impostos sobre combustíveis. "Se o preço continuar a subir, o Governo naturalmente vai continuar a seguir essa margem, julgo que é isso que está anunciado. No entanto, o PS exorta a "olhar para o mercado de várias formas, e não apenas na parte fiscal, mas também na parte do funcionamento do próprio mercado dos combustíveis."
Ouça as declarações de Hugo Costa.
Hugo Costa refere que este "é um problema que não é só português", e que na Assembleia da República o Governo propôs que fosse possível "mexer nas margens", o que estará certamente em breve em vigor.
O porta-voz do Conselho Nacional das Confederações Patronais, João Vieira Lopes, afirma que o aumento do preço dos combustíveis está a ter um impacto muito pesado no tecido empresarial português, pelo que é preciso uma solução que passe por um ainda maior desagravamento dos impostos."Tendo em conta que uma parte significativa do preço dos combustíveis é fiscal, são os impostos, seria fundamental que, enquanto durasse esta crise de crescimento do preço do petróleo, o Governo diminuísse a carga fiscal sobre os combustíveis."
"Isto somado ao aumento do preço das matérias-primas em todo o mundo e às dificuldades de transporte marítimo neste momento, pela falta de contentores, pode provocar um acréscimo de custos difícil de suportar, não só pelas empresas mas também pelas pessoas", alerta o representante do Conselho Nacional das Confederações Patronais.