"Qualquer medida de incentivo ao autoconsumo deve ser muito bem-vinda"
A Vida do Dinheiro

"Qualquer medida de incentivo ao autoconsumo deve ser muito bem-vinda"

É assim que Manuel Pina, diretor da OTOVO em Portugal, vê com bons olhos qualquer iniciativa europeia, ou nacional, que promova a independência energética das famílias.

O método de subscrição mensal de um serviço de energia solar existe nos EUA há pelo menos 15 anos e está agora a dar os primeiros passos em Portugal, através da OTOVO, a empresa norueguesa que já está instalada em 13 países europeus e chegou há 6 meses ao nosso pais.

Um passo que levou Manuel Pina a trocar a camisola da UBER pela liderança desta companhia que se propõe democratizar o acesso das famílias portuguesas à instalação de painéis fotovoltaicos sem ter de fazer investimento inicial em equipamentos, ou instalações.

Sem revelar números, o gestor considera que, nesta altura, o balanço não podia ser mais animador, pois antes de completar o primeiro ano de atividade em todo o território continental e ilhas, já supera 2/3 do objetivo inicialmente previsto para os 12 meses de estreia em solo nacional.

Recorde-se que só o ano passado, a nível geral, as vendas duplicaram no 3º trimestre chegaram perto dos 17 milhões de euros, o que se traduz em pouco menos de 2 mil instalações em 90 dias e segundo a empresa vão permitir aos clientes poupar cerca de 100 milhões ao longo de 30 anos de vida dos equipamentos.

Apesar do bom caminho, para Manuel Pina, ainda há muita estrada por percorrer, uma vez que até 2022, menos de 3% das famílias consumiam energia produzida de fonte solar, o que prova que Portugal está ao nível da Grécia, em matéria de potencial não aproveitado, revelando oportunidades para quem pretende democratizar o acesso a painéis fotovoltaicos, com oferta de um serviço sem pagamento da instalação, tal como faz a OTOVO.

Nesta altura, a empresa já faz a cobertura de todo o território continuar e ilhas, mas admite que ainda há muito por fazer no sul do país, quando a predominância de clientes está mais no litoral e interior norte e não tem sentido dificuldades, mesmo em centros históricos das cidades, onde defende que a regulação deste tipo de serviço pode melhorar, desde que não atrase a transição energética das famílias.

O gestor afirma mesmo que há regras próprias em cada autarquia que eventualmente podem dificultar o trabalho, mas até agora a recetividade tem existido e não tiveram ainda qualquer impedimento de instalar qualquer projeto.

Defende mesmo mais incentivos para quem queira instalar painéis solares nos telhados das casas e considera que esta na hora dos consumidores exigirem maior transparência na fatura da eletricidade, quando questionado sobre uma eventual redução de 6% de IVA para as famílias que apostem em soluções energéticas mais verdes.

Lembra que em Portugal já é permitido a venda de energia produzida em casa à rede, mas considera que os preços praticados não deixam adivinhar um negócio lucrativo a longo prazo, para quem pense instalar painéis com esse intuito.

Já a nível europeu, defende a eliminação de barreiras burocráticas e considera que qualquer incentivo vindo de Bruxelas, ou de qualquer Estado-membro é importante no momento em que vivemos, em matéria de transição energética e autoconsumo.

Manuel Pina é o convidado desta semana ​​​​​​​d"A Vida do Dinheiro, numa entrevista conduzida por Ana Maria Ramos e Joana Petiz.

A Otovo trouxe uma abordagem diferente, apresenta-se como uma plataforma de instalação solar e de baterias para casa e é a primeira a oferecer a possibilidade de um serviço de subscrição. Como é que isto funciona?

O serviço é inovador no país, somos a única empresa a oferecê-lo e permite que as famílias possam ter acesso ao sistema de painéis solares de acordo com o seu consumo, sem qualquer investimento inicial e, mais importante, gerando poupança imediata. A poupança na fatura é superior à subscrição paga à Otovo.

A pessoa inscreve-se na plataforma e vão lá instalar sem custos?

É isso, muito simples: vai ao site, insere a morada e aparece o telhado, depois confirma a casa e o nosso algoritmo propõe o sistema ideal com base na orientação solar, na exposição. Depois a família escolhe o sistema que quer, entre opções que divergem por exemplo em eficiência.

E se viver num prédio e quiser fazê-lo só na sua fração, pode?

Pode. Já vendemos sistemas assim. Exigimos tipicamente autorização dos condóminos ou administração.

Foi o sol que vos trouxe aqui? Potencial energético não falta...

Precisamente. Portugal é dos países europeus com mais exposição solar, mas em simultâneo é onde há menor penetração dos sistemas solares residenciais - unidades de produção descentralizadas. É um mercado ainda com muito potencial por explorar. Aconteceram recentemente dois fatores que estão a acelerar o mercado: o primeiro tem que ver com os preços da energia, que começámos a sentir a sério no ano passado, e pela primeira vez as famílias tomaram consciência do aumento e perceberam que há alternativas para gerarem e consumirem energia que não venham das operadoras tradicionais. O segundo tem que ver com a tecnologia: painéis, inversores e restantes componentes são agora mais acessíveis, a tecnologia mais barata, diversificada, há mais empresas e marcas a investir e opções como a Otovo para aderir sem ter de ter dinheiro à partida, que é fundamental. Estes sistemas custam 3 a 5 mil euros e nem toda a gente tem fundos. A Otovo quer democratizar o acesso à produção de solar em casa para todos.

No ano passado, menos de 3% das famílias consumia energia produzida por fotovoltaico. Foi aí que viram oportunidades ou as condições de acesso são convidativas para uma empresa estrangeira se fixar no país?

Ambas. Já começamos a ver alguns telhados com painéis, mas longe do potencial que temos - devíamos ter todos os telhados com painéis, ou todos os que podem tê-los. Por outro lado, as principais empresas que vendem soluções de fotovoltaico são as comercializadoras de energia - e o negócio deles é necessariamente criar independência energética para as famílias. Portanto, o espaço que a Otovo quer ocupar - entregar independência energética às famílias - estava livre.

As famílias não pagam nada à entrada, vão pagando mensalmente como um serviço de streaming?

Sim, é energia solar como um serviço. Começam a pagar a primeira prestação, depois de instalado o sistema - que pode levar semanas ou meses sem qualquer custo. E no primeiro mês já estão a poupar. Uma família com uma fatura de luz de 100 euros pode consumir 40% a 50% da energia gerada em sua casa com painéis - parece óbvio, mas é preciso dizer que os painéis só produzem de dia, logo quem não tem bateria que permita guardar a energia vai ter de continuar a comprar parte ao comercializador. Portanto, poupa cerca de metade da fatura de 100 euros e a subscrição Otovo anda à volta de 30/35, logo gera imediata poupança logo ao primeiro mês.

Falou nas casas que podem ter painéis... Há uma série de restrições, nomeadamente nos centros históricos. É um grande impedimento?

Há um conjunto de regras para zonas protegidas, cada autarquia tem as suas. Mas já vendemos bastantes projetos nos centros históricos, cumprindo os requisitos: fazendo requisição, desenho arquitetónico, técnico, etc. Torna o processo mais administrativo, mas nunca tivemos um projeto 100% impedido. A maioria dos operadores, incluindo reguladores e decisores políticos, tem como objetivo a transição energética. Portanto não sentimos que exista uma dificuldade assim tão grande. A regulação é relevante, e sobretudo numa rede que evolui rapidamente - há dez anos, ainda se comunicava consumos... - mas tem de acompanhar de forma a não atrasar a transição. No fotovoltaico residencial, essa transição representa poupança para as pessoas mas também redução da pegada ambiental.

E pode ser também uma oportunidade de negócio para particulares venderem energia à rede?

É importante que haja mais trabalho nesse caminho. A maioria das pessoas que têm painéis solares não consome toda a energia produzida - se instalarmos um sistema para uma família de cinco, em que três trabalham fora de casa durante o dia, vai produzir mais do que consome. Portanto, pode vender esse excedente. Mas os preços para o mercado residencial não são favoráveis ao ponto de fazer disso negócio. Pode ajudar a poupar mais, mas não é um negócio.

Que balanço faz deste primeiro ano de atividade?

Tivemos um crescimento muito mais acelerado do que prevíamos. Sabíamos que 2022 era um ano de especial atenção ao setor energético - arrancámos em agosto - mas há mais apetite para a adoção destes sistemas do que antecipávamos. Isso é positivo, significa que há maior consciência das famílias destas alternativas. Sendo a primeira empresa a fazer isto em subscrição no país, existia a dúvida: se ninguém está a fazer é porque não é negócio, não há interesse ou porque ninguém se lembrou? Porque já existia numa série de outros países onde a Otovo está - em Espanha há vários concorrentes, nos EUA existe há mais de 15 anos, portanto já deu provas de ser um modelo de sucesso. Portugal foi uma surpresa agradável: o modelo de subscrição é bastante procurado pelas famílias e já representa dois terços das vendas.

No ano passado, fez-se mais de 30 mil instalações. Qual foi a fatia que coube à Otovo?

Não divulgamos dados particulares de países, somos uma empresa cotada e partilhamos trimestralmente os dados do grupo, mas nem seria realista ambicionarmos ser líderes de mercado em seis meses. Traçámos um conjunto de objetivos para o primeiro ano, até mais simbólicos (como as mil instalações em dois meses), para ter objetivos para as equipas. E o que posso dizer é que esses objetivos vão ser largamente atingindo dentro dos prazos traçados. Entre os países do sul da Europa que têm potencial semelhante em solar, Portugal e Grécia são dos mais atrasados na adoção de sistemas descentralizados.

E ainda é mais fácil pôr um carro na estrada do que um painel num telhado?

O nosso trabalho é precisamente contrariar isso. Quando dizemos que queremos democratizar o acesso é para tornar tão fácil a instalação de um fotovoltaico em casa como a aquisição de um frigorífico ou uma máquina de lavar roupa. É importante, porque há um conjunto de barreiras de consciência nas pessoas que começa com a falta de sensibilidade para as métricas associadas ao consumo energético. Se perguntar aos portugueses quantos KW/h consomem por mês, não saberão. Este tipo de informação que nós dominamos noutras áreas - sei quantos litros o carro consome aos 100km/h - ainda não está bem na consciência das pessoas. É também nosso trabalho simplificar estas métricas e mostrar que é fácil começar a poupar com a energia que geram.

E faltam incentivos, como a redução de 6% do IVA para as famílias em soluções mais verdes?

Esses incentivos são muito relevantes e têm efeito positivo, ajudam a empurrar a tendência na direção certa. Eu não estou certo de que os incentivos sejam só financeiros ou de retorno de investimento, mas há um papel que a maioria dos agentes desta indústria têm: estamos agora mais conscientes para o que está na fatura de luz, e tem de ser assim. Por isso há que exigir mais a quem vende a energia sobre o que estou a comprar, que percentagem estou a pagar para consumo vs. impostos, taxas, serviços associados. Temos de começar a exigir mais transparência e os próprios operadores - que em Portugal ainda são também distribuidores e comercializadores - têm um papel. Temos de fazer o caminho de transição energética, criar mais independência às famílias e não apenas criar uma retenção de clientes através de mecanismos como painéis.

Que tipo de relacionamento tem a Otovo com empresas como EDP e Galp? É possível que surjam parcerias?

Sem dúvida. Em França temo-lo com a Iberdrola - nenhum concorrente no mercado energético pode não ter soluções de acesso a fontes renováveis e somos nós que fazemos a instalação de painéis para eles. Há um caminho no estreitamento destas relações. De resto, a Otovo não tem preferência em relação ao operador que o cliente tem. Ou seja, pode instalar o fotovoltaico e continuar cliente da operadora que quiser, vender o excedente a qualquer operadora, etc. Não criamos barreiras contratuais.

É totalmente à parte.

E deve ser. Se formos bem sucedidos como em outros mercados europeus, as famílias ficam melhores. Nós vendemos mais painéis, mas as famílias ganham independência energética e não estão tão preocupadas com flutuações de preços, impostos ou taxas. É como criarem uma fábrica de energia em casa com produção constante a prazo.

A Otovo já chega a todo o país?

Temos cobertura total. A grande alteração que pode existir entre comprar no continente e nas ilhas tem que ver com tempo de instalação, pela disponibilidade de equipamentos em mercados mais pequenos, e com incentivos diferentes. Nos Açores, por exemplo, há um pacote muito favorável. Isso pode ter impacto na instalação, tempo e preço.

E estão em quantas residências?

Não podemos divulgar dados concretos. Mas a concentração maior acontece na faixa litoral, Lisboa, Porto e no interior Norte.

Já foi preciso rever valores de investimento em alta?

Tipicamente revemos. Quando vemos que o mercado tem mais potencial ou está a desenvolver-se mais rápido do que tínhamos esperado, todo o negócio é revisto, fazemo-lo com uma base bastante frequente. É das coisas que mais me atraem nas scale ups, a rapidez de tomada de negócio. E a sorte que aqui temos é que estas revisões são sempre por boas razões: estamos a vender mais e acreditamos que podemos gastar mais.

A Otovo está já em 13 mercados europeus. Há outros prioritários?

A prioridade é consolidar a presença como principal plataforma de painéis solares na Europa - que é o que já somos. Queremos garantir que consolidamos esta posição antes de dar maiores passos. E não temos preconceito em relação à dimensão dos mercados em que operamos: eu não quero acreditar que daqui a 20 anos, com a tendência de preços decrescentes da tecnologia e o aumento de opções, vão existir muitas casas que, podendo, não tenham painéis. É como não ter hoje frigorífico. Obviamente que nenhuma empresa pode viver sem ter uma ambição grande, e o futuro passará por passos maiores.

Falou de assimetrias, nomeadamente a Sul. Que tipo de passos se pode dar para convencer as pessoas?

Uma das coisas em que nos focamos em Portugal a minha primeira missão foi constituir uma equipa portuguesa a trabalhar cá - claro que temos muitos recursos a trabalhar dentro do grupo, mas a maior parte da equipa de vendas e instalações é de portugueses a trabalhar no escritório cá. E uma vantagem quando se cria a equipa do zero é poder definir o perfil com base no que querermos atingir. Falei há pouco em alguma falta de sensibilidade para métricas e uma das ações que tomámos foi para os consultores comerciais - que ajudam a família a escolher o sistema - procurámos pessoas com experiência na área e capazes de explicar as métricas de forma a ser apreendido de forma simples. E depois somos empresa digital, portanto usamos os canais digitais, marketing de performance e de crescimento, porque isto não é uma compra de impulso, não tem as pessoas na fila do super a comprar um painel antes de chegar à cacha. As pessoas pesquisam e comparam opções - e devem fazê-lo. E queremos garantir que o nosso investimento é focado nos sítios onde as pessoas procuram e comparam. E é também nisso que temos estado focados.

Que outros tipos de soluções podem desenvolver para oferecer ao mercado mais produção descentralizada de energia solar para autoconsumo? E a preços mais competitivos do que os atuais?

Há duas áreas de desenvolvimento mais rápido nos próximos anos: o custo de aquisição destes equipamentos é uma e a diversidade de modelos. A subscrição não é um modelo de aquisição, mas permite o acesso aos equipamentos, portanto acredito que nos próximos anos veremos outras empresas entrar em Portugal ou mesmo portuguesas a olhar para este modelo de negócio. Há também uma tendência para algumas componentes reduzirem preços. Se pensarmos nas baterias hoje - que guarde a energia produzida e não consumida nem reinjetada na rede para usar à noite quando estamos em casa - ainda têm um custo muito elevado para fazer economicamente sentido para as famílias. Se pensarmos no retorno de investimento, em muitos casos ainda não existe, não se recupera a totalidade do investimento num curto período. Mas isto vai mudar rapidamente.

O que pode acelerar e levar a pessoa a decidir que valerá a pena mudar?

No caso das baterias, meses ou muito poucos anos. Mas num sistema sem baterias em Portugal, esse modelo já se faz, já se poupa de imediato. Isso não era verdade há dois anos, mas hoje, com os preços de energia, mesmo mais baixos relativamente ao ano passado. E a tendência é que os preços vão aumentando e que o nosso consumo de energia aumente também, conforme tenhamos em casa mais coisas elétricas - o fogão substituído por placa, o carro elétrico... são novos equipamentos a pedir energia. Quanto mais consumirmos e mais alto for o preço da energia, mais vamos poupar ao consumir a nossa própria energia.

De que forma pode a população pode tornar-se menos dependente da rede e da volatilidade dos preços da eletricidade?

Se pensarmos na independência energética de uma casa normal e em recorrer a fontes renováveis, não há muitas opções viáveis para as famílias. As pessoas não podem instalar uma barragem no quintal ou ter um aerogerador, até porque há regulações de ruído, etc. que o impediriam. Portanto os painéis solares continuam a ser uma das, senão a opção mais viável ate do ponto de vista custo-benefício. E gozam de um recurso muito importante, que é o sol. Nós não aproveitarmos a nossa posição geográfica era o mesmo que não pescarmos e usarmos a costa para o turismo.

Os painéis solares poderão abrir a porta a comunidades energéticas a um curto prazo?

Quero acreditar que sim, uma vez que a partir do momento em que os painéis estejam instalados a infraestrutura existe. E aí haverá redes que suportem essa partilha. Mais uma vez aqui as baterias podem ter um papel fundamental, porque a energia que ponho em bateria pode passar para a casa do vizinho.

Mas levanta também questões de regulação.

Levanta, mas acredito que neste setor em particular a regulação é importante mas mais do que isso temos de ter em consideração o que é melhor para a família, que lhe permite poupar, torná-la menos dependente do que é decidido nas salas de administração dos comercializadores de energia. Se o caminho se faz através de uma unidade descentralizada para minha casa ou de uma comunidade de energia no meu bairro não sei, mas a tecnologia que vemos sair, o conjunto de investimentos que vemos chegar a esta área, ditam que virão grandes alterações à indústria nos próximos anos.

O que falta fazer em Portugal para este mercado se tornar mais competitivo?

Diria que já o é, considerando o tipo de operadores que existem. Não podemos considerar que particularmente no caso da instalação de painéis existe uma concentração em um par de operadores, já existem bastantes alternativas à escolha. Mas o ponto importante no que respeita ao desenvolvimento da indústria tem que ver com o acompanhamento da tecnologia. Existem alguns papéis que os diferentes atores têm de tomar. A sociedade como consumidora tem de exigir que lhe seja dada informação sem asteriscos e fazer um esforço para a digerir. Do lado dos operadores, têm de ser fiscalizados para a fornecer dessa maneira. Mas mesmo os decisores políticos e reguladores é importante que os pacotes de incentivos desenhados - e já os tivemos e teremos mais uma tranche em breve - consigam acompanhar o desenvolvimento que existe neste mercado.

E não acompanham, não estão adaptados?

Ainda não sabemos que regras serão necessárias para ter acesso ao pacote de incentivos, mas se olharmos a versão anterior, não inclui por exemplo o modelo de subscrição. E se pensarmos que esse permite poupar de imediato sem investimento inicial, então estamos a deixar de fora todas as famílias que não têm 5 mil euros para gastar no sistema. O interesse do pacote não deve ser esse, deve ser garantir que têm acesso à produção, ao autoconsumo, sem grande esforço financeiro. O pacote anterior previa que as pessoas adiantassem e fossem depois ressarcidas - e podia demorar meses.

E têm tido conversas nesse sentido com o governo e o regulador?

Quando entrámos no país, como empresa nova, fomos apresentar-nos aos atores do mercado - ao governo, aos reguladores - e tivemos oportunidade de focar esse ponto. Nessa altura estava suspenso o pacote de incentivos e ainda agora está, mas sempre que temos oportunidade passamos essa ideia. Mas acredito que os decisores e reguladores são cada vez mais sensíveis a isto. Ainda assim, falava há pouco nos centros históricos e sabemos que há regras que até podem fazer sentido mas que têm na génese elementos que não são práticos. Regras estéticas - um painel não é bonito e se pudesse ficar escondido, melhor, mas muitas vezes não pode. Se formos sérios na transição energética sobretudo no consumo das famílias tem de se encontrar compromissos - e muitos serão nesse ponto estético. Não fica tão bem neste prédio antigo, mas é importante para ser energeticamente eficientes. Portanto, isso implica compromisso e nós estamos sempre disponíveis para o diálogo.

E sente isso também no lado de lá, nomeadamente com as autarquias?

Cada município tem as suas formas de operar. Estruturalmente, ainda não sentimos que tenha havido um não definitivo. Se a família quiser e estiver disposta a fazer adaptação, com um trabalho um pouco maior na fachada, por exemplo, tipicamente até ajudamos nisso e as autarquias acabam por aprovar. O importante é entendermos que estamos no princípio: o caminho vai ser longo e a escala vai aumentar.

Portanto convinha remover barreiras... Quanto tempo demora um licenciamento hoje?

Depende dos municípios, uns são bastante rápidos e diligentes, outros que levam semanas ou até meses.

Quais são os piores?

O ponto não deve ser a comparação, porque a pessoa vive onde vive... Não há bons e maus alunos, as regras são as que são e nunca pensamos em não cumprir, portanto vamos sempre jogar de acordo com o que forem nesse sítio e sempre que possível tentamos acrescentar com o que sabemos e a tecnologia que temos. Importante é que mesmo em áreas protegidas faz sentido consultar e nós vamos sempre apoiar durante o processo. E não temos sentido que as barreiras sejam demasiado altas.

Perante o atual quadro macroeconómico de um ano de guerra e uma Europa que levanta o Green Deal como bandeira, mas difícil de alavancar, o que antecipa a curto e médio prazo a nível da descarbonização e eficiência energética?

A discussão está a acontecer ao momento, os inputs são em tempo real e a Europa até tem conseguido um processo de tomada de decisão bastante rápido, tendo em conta o que gerou o movimento: o conjunto de regras teve como base alterações que aconteceram no ano passado. Estas regras são criadas e depois ou se tomam passos administrativos que não têm o objetivo final de beneficio da família ou são regras que descomplicam. No caso, ainda é difícil ver onde amos parar, mas digo que qualquer medida de incentivo à adoção do autoconsumo ou da independência energética das famílias - que são para mim o ator principal - é uma medida que deve ser muito bem-vinda por cada Estado-membro. E as barreiras devem ser eliminadas ao máximo dentro dos limites do razoável.

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