Braço-de-ferro entre bases e aparelho "é ficção científica". Rio e Rangel não divergem muito ideologicamente

Esta manhã, Fernando Alves conversou com o antigo ministro, líder parlamentar do PSD e comentador político Luís Marques Mendes. Nestas diretas do partido, não declarou o apoio público a qualquer candidato. O social-democrata rejeita, no entanto, que tenha havido uma campanha "feia" ou uma clivagem acentuada em termos ideológicos.

Luís Marques Mendes, que segue "um traço de coerência", desde que, há 14 anos, deixou a vida política ativa, de não se pronunciar publicamente acerca do apoio às lideranças do PSD, justifica a decisão pela necessidade de um ex-líder manter "algum recato", e garante que nada se pode presumir a partir das suas palavras. "Ao longo destes quatro anos, critiquei Rui Rio porque era ele o líder do partido", explica, notando, no entanto, que também o elogiou.

Nestas diretas do PSD, não tem, porém, dúvidas. "Sei muito bem em quem vou votar", confidenciou, na entrevista conduzida por Fernando Alves, na Manhã TSF.

O antigo ministro e líder parlamentar social-democrata considera que a campanha que nesta sexta-feira finda "não é uma campanha negativa", apesar de não ter sido "muito rica em debates, em ideias" e de não ter "dito muito aos portugueses".

"Devia ter havido pelo menos um debate. Mesmo em eleições internas, não é preciso dizerem mal uns dos outros, bastava falarem para o país." Ainda assim, Marques Mendes garante que uma "campanha feia não aconteceu, houve uma grande mobilização de militantes", e, não tendo sido "notável", não deixou máculas no aparelho social-democrata.

O agora comentador político também salienta que estas eleições tinham de se realizar neste momento, já que "há mudança de líder de dois em dois anos", e, acontecendo as legislativas em seguida, "tanto melhor", já que o líder eleito apresentar-se-á a eleições e nos debates frente ao primeiro-ministro com uma posição legitimada e reforçada.

Para o antigo governante, todos os militantes são bons e têm defeitos, são a emanação da sociedade portuguesa, pelo que é "criancice" preconizar que uns têm mais sabedoria na hora de votar do que outros, independentemente do sentido de voto."Isso não existe, isso é uma ficção, é ficção científica. Todos os militantes são bons. Os que amanhã vão votar são todos bons. Nós não podemos agora distinguir: 'Os que vão votar no Rui Rio são magníficos, os que vão votar no Paulo Rangel são umas bestas, ou vice-versa.' Esta ideia 'uns são do aparelho, outros não são do aparelho'... Não, são todos iguais."

"A única pena que eu tenho nesta campanha é outra: tal como a pré-campanha das legislativas, que já está em curso, está muito enviesada, publicamente falando e politicamente falando. Hoje em dia, o que é que se discute em Portugal? Nesta campanha interna do PSD é como na pré-campanha nacional: discutem-se cenários pós-eleitorais. 'Olha, com quem é que tu te vais coligar? E que Governo vais fazer? E que Orçamento vais viabilizar?'" Marques Mendes critica que se tenha falado pouco de tudo o que é mais importante para os portugueses, antes das eleições, que é "saber as ideias de cada um". O social-democrata sublinha que "teria sido muito mais importante perguntar a Rangel e a Rio se, se forem primeiro-ministro, se vão baixar impostos, o que vão fazer quanto aos baixos salários, que são uma calamidade. Ambos também criticam muito o estado da saúde..." O antigo líder parlamentar do PSD adverte que "o poder pelo poder não serve para nada, é algo absolutamente censurável", pelo que o que é relevante é conhecer "o que vai fazer de diferente" cada um dos candidatos.

O também conselheiro de Estado admite que "há diferenças entre Rio e Rangel, mas aclara: "Não me parece que sejam ideológicas, mas estratégicas." Isto é, Rui Rio tem sido coerente em acentuar "muito mais a lógica de entendimentos com o PS", o que "não quer dizer que não queira construir uma alternativa". Já Paulo Rangel, diz Marques Mendes, faz o oposto: quer uma alternativa, marcar a diferença.

Não se trata, contudo, de uma divergência entre "estar mais à esquerda ou mais à direita", porque, nas questões essenciais de política, estão próximos, analisa Luís Marques Mendes.

Para as legislativas, o antigo governante espera que o PSD se apresente com uma estratégia conhecida, mas avisa que "há quatro verdades essenciais" no cenário que sairá das eleições: "A bem da estabilidade, era positivo haver uma maioria absoluta de um só partido, mas é muito improvável." Além deste primeiro ponto, Marques Mendes defende que "as eleições vão ser muito disputadas entre o PS e o PSD, muito mais do que o que se imagina hoje", antecipando o comentador político que se formará "um Governo minoritário ou do PS ou do PSD".

O social-democrata não tem dúvidas de que "o fantasma da ingovernabilidade está aí à porta", e frisa que "vamos passar a ter governos precários, de curta duração, de dois em dois anos". Marques Mendes lamenta ainda que esta crise, "irracional", tenha acontecido agora. É uma crise que não se esperava e cuja "consequência é a ingovernabilidade".

"O partido que ficar no poder vai ter de negociar orçamentos com o partido que não está no poder", adianta, referindo-se aos dois maiores partidos. É uma situação em que nem Costa nem Rangel falam, por não quererem enfraquecer o plano A, da maioria absoluta.

Marques Mendes apela ainda para "que haja espírito de moderação, de contenção e de compromisso" de parte a parte, entre PS e PSD, porque "o país não pode andar de seis em seis em meses em crise", numa altura em que Portugal já enfrenta grandes dificuldades económicas e sociais".

"Tem de haver um governo minimamente estável", vinca.

Quanto aos possíveis resultados destas diretas social-democratas, Marques Mendes desvaloriza quaisquer sondagens, declarando que, desde as últimas autárquicas, acredita "que as empresas tenham de fazer um esforço", porque "o que aconteceu em Lisboa foi mau demais", referindo-se ao volte-face que sofreu Medina, e que foi também um "pontapé na nuca nas empresas de sondagens".

O quinto e último convidado da semana em que a TSF acompanha o percurso até às diretas no PSD foi Marques Mendes. Luís Marques Mendes foi tudo no partido: deputado em várias legislaturas, líder parlamentar quando o PSD foi presidido por Marcelo Rebelo de Sousa, foi presidente do partido depois de Santana Lopes, integrou três Governos de Cavaco Silva e foi ministro dos Assuntos Parlamentares no Governo de Durão Barroso. É também conselheiro de Estado.

A TSF iniciou, na segunda-feira, um ciclo de curtas entrevistas diárias com notáveis do PSD, partido cujas diretas se realizam no próximo sábado. Pela antena e site da TSF vão passar apoiantes declarados das candidaturas de Rio e Rangel, e, no último dia, alguém que se reclama equidistante.

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