"Bandidos." Ventura recusa racismo, mas voltaria a repetir palavras sobre família do bairro da Jamaica

André Ventura usou uma fotografia em que sete familiares do bairro da Jamaica apareciam junto de Marcelo Rebelo de Sousa. Objetivo não era ofender, mas Ventura admite que voltaria a repetir.

André Ventura sentou-se esta segunda-feira, lado a lado, com a família Coxi, que o acusa de racismo e ofensa. O julgamento começou quatro meses depois de um caso que remonta à campanha presidencial, quando Ventura chamou "bandidos" a uma família do bairro da Jamaica. O líder do Chega garante que não queria ofender, mas voltaria a repetir cada palavra.

O líder do Chega foi processado por sete membros da família residente no bairro da Jamaica, por se terem sentido ofendidos com as palavras e com a fotografia em que apareciam junto de Marcelo Rebelo de Sousa. A família interpôs uma ação em tribunal, exigindo um pedido de desculpas.

O réu André Ventura garante que a acusação de racismo é infundada, e que apenas pretendia evidenciar a ação do Presidente da República. Marcelo Rebelo de Sousa foi ao bairro da Jamaica, em 2019, e tirou uma fotografia com a família, após uma noite de confrontos com a polícia.

O líder do Chega lamentou, perante a juíza do Palácio de Justiça, que elementos se tenham sentido ofendidos, mas "não fará qualquer pedido de desculpas". "Não houve qualquer caráter ilícito nas minhas declarações. Se voltaria a fazê-lo, não vou pedir desculpa. A linguagem e a imagem foram amplamente utilizadas nos dois anos anteriores, sem qualquer ação da família. Fizeram-no, apenas, porque é o André Ventura que está em causa", garantiu à saída do tribunal.

A palavra "bandidagem" foi referida para caracterizar apenas um dos elementos da família, que terá sido julgado por crimes, como tráfico de droga. "Se vir o debate, eu digo: uma das pessoas. Estão a querer colocar palavras na minha boca de generalização, coisa que eu não fiz. O que quis dizer foi: temos um Presidente da República que vai a um bairro onde a polícia foi agredida. Não vai visitar a polícia, mas vai visitar uma pessoa que é um bandido notoriamente", apontou. A família Coxi garante, no entanto, que o familiar foi ilibado de todos os crimes.

Em causa poderá estar, na opinião de Ventura, a ilegalização do Chega, "a pedido de alguém ou não". "Querem juntar a este processo a ilegalização no Tribunal Constitucional", disse Ventura.

Em tribunal, a requerente Vanusa Coxi admitiu que se sentiu "ultrajada" com o episódio. "Nasci em Portugal e trabalho desde os 16 anos", adiantou. Questionada pela juíza se se sentiu visada, Vanusa confirmou, lembrando que "estava na fotografia".

Acusados por André Ventura de se servirem dos subsídios do Estado, a requerente afirmou que está desempregada e "não recebe qualquer valor", a não ser os subsídios de apoio aos filhos, "que são deles por direito".

Campanha individual. Ventura iliba Chega da acusação

Além do líder do Chega, a família também acusa o partido de racismo, suportando-se numa publicação nas redes sociais em que se comparam duas fotografias: a famosa imagem de Marcelo com a família Coxi, e uma de André Ventura junto de elementos da polícia, após uma manifestação. Entre as imagens, a frase "André Ventura apoio os portugueses de bem".

Ainda assim, tanto o presidente do Chega, como o secretário-geral do partido, Tiago Sousa Dias, contestam a acusação, lembrando que as eleições presidenciais são de cariz individual. Defendem, por isso, que as palavras e as ações de André Ventura, ao longo da campanha, não comprometem o partido.

Ventura afirmou mesmo, perante a juíza, que as declarações "só a ele o vinculam".

Tiago Sousa Dias alegou que as várias contas falsas do partido nas redes sociais, não permitem ter controlo sobre as publicações. No entanto, Luc Mombito, apresentado como secretário e motorista de André Ventura, ouvido como testemunha, admitiu que a imagem foi publicada por ele.

O tribunal vai agora notificar os arguidos por escrito, quando a sentença estiver definida, no prazo de 20 dias. À saída do tribunal, a família e a advogada recusaram prestar declarações.

A acusação alega que estão em causa três ofensas: o debate com o Presidente da República, declarações de Ventura no mesmo tom num programa de entretenimento e uma publicação nas redes sociais do partido Chega.

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