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Carlos Moedas tem estado a dizer de viva voz aquilo que já tinha escrito à comissão de inquérito do BES em 2015: admite que a 2 de maio de 2014, recebeu uma delegação do Grupo Espírito Santo, com Ricardo Salgado e José Honório, como consultor informal, "porque era essa a função" que tinha como secretário de Estado adjunto, mas não deu qualquer seguimento à "preocupação" e muito menos tentou facilitar o eventual financiamento do GES.
"Daquilo que era a maneira de atuar do primeiro-ministro [Passos Coelho] não podia ser sequer admissível para um membro do governo, em especial um tão próximo dele como eu, dar um telefonema um banco, a pedir algum tipo de crédito ou influenciar nesse sentido. Isso é uma coisa completamente fora daquilo que era o ADN daquela governação".
"Isso nunca me passou pela cabeça. Eu sei que, em Portugal, durante muitos anos havia governantes que de certa forma telefonavam para a Caixa Geral de Depósitos, mas não foi nem nunca será a minha maneira de estar na política", garantiu Carlos Moedas.
Questionado pelo PS, sobre se disse a Ricardo Salgado que iria ligar ao ministro luxemburguês a propósito do caso GES, Carlos Moedas disse "não disse sim, nem não, limitou-se a ouvir", como quis "ter o cuidado de ser polido e educado" mas não deu qualquer seguimento.
O antigo governante garantiu que nunca discutiu problemas do GES e BES com a "troika", remetendo para outros membros do Governo.
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"Eu não tinha tempo físico para estar em reuniões, nem a "troika" tinha tempo para isso, para estar a falar comigo sobre problemas que estavam a falar com outros e e não dependiam daquilo que era a minha função"disse Moedas.
O antigo secretário de Estado Adjunto voltou a dizer que recebeu o GES, em maio, mas afastou qualquer ligação entre essa reunião e a "chamada saída limpa do programa da troika": nunca pensei que coincidia, nem me lembrava disso, mas não são coisas que tenham a ver uma com a outra".
Carlos Moedas justificou que "um governo é como uma orquestra, cada pessoa está a fazer a sua coisa e depois há o maestro que é o primeiro-ministro E esse está a olhar para tudo. Não era eu que naquela reunião iria resolver o problema", sublinhou Moedas insistindo que "era um problema de uma empresa não financeira privada que não devia cair sobre os contribuintes".
Sobre a atuação do governo a que pertenceu, Moedas disse que foi o "único que disse não a Ricardo Salgado".
Durante a reunião, PSD e CDS acusaram o PS de "estar com medo" da candidatura de Carlos Moedas à Câmara Municipal de Lisboa e o PAN disse que o PS "prefere continuar a brincar às campanhas eleitorais, numa "audição ad hominem".
Numa audição que durou menos de três horas o presidente da comissão Fernando Negrão considerou ter sido "atípica mas muito interessante do ponto de vista político", Carlos Moedas disse que "o mais difícil na vida política" é a utilização indevida do nome.
"Eu vejo uma pessoa duas vezes na vida e outra [Ricardo Salgado] diz que sou amicíssimo dessa pessoa [ministro luxemburguês], ou então aquela frase terrível e mentirosa sobre 'por o Moedas a funcionar' [frase que terá sido dita por José Manuel Espírito Santo numa reunião do Conselho Superior do GES], lamentou Carlos Moedas garantindo que "sempre trabalhou no respeito pela legalidade".
Na audição o PS anunciou que quer pedir o acesso a duas cartas trocadas entre a antiga ministra das Finanças Maria Luís Albuquerque e o então governador do Banco de Portugal Carlos Costa, entre junho e julho de 2014. O PS considera que essas cartas podem trazer novas informações sobre o processo de resolução do Banco Espírito Santo.