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A coordenadora do Bloco de Esquerda, Catarina Martins, defendeu esta segunda-feira, em Gondomar, que após definir o cabaz de bens essenciais com IVA zero, o Governo deve estabelecer também o preço a que esses bens podem ser vendidos.
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"É preciso que se vá observando esses preços ao longo de um período, porque se não se fizer isso, vai acontecer em Portugal o mesmo que em Espanha: a descida do IVA vai ser incorporada rapidamente nos lucros da grande distribuição", disse Catarina Martins, que falava junto a um supermercado do grupo Jerónimo Martins.
A coordenadora do BE lembrou que em Espanha "demorou 15 dias para" acabar com a descida dos preços motivada pela redução do IVA.
"Ficaram [a grande distribuição] com tudo num instante", disse.
"Lembro que, mesmo que desça, descer 6% não compensa os mais de 20%, nalguns produtos até muito mais, que não tem nenhuma explicação. É mesmo preciso controlar preços e atualizar salários", frisou.
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Em seu entender, o que está acontecer com o anúncio do Governo para os bens essenciais é exatamente a mesma coisa que aconteceu com a descida do IVA na eletricidade, ou seja, "ninguém sentiu e os preços continuaram a aumentar".
Para Catarina Martins, trata-se de "uma pequena descida sem grandes garantias e só para uma pequena parte dos bens que, daqui a uns tempos, as pessoas vão ver que não redundou em nada. Porquê? Porque não se controlam margens de lucros, não se controlam os preços de bens essenciais que é fundamental".
"Lembro que enquanto as pessoas não conseguem fazer as compras porque o salário não chega até ao final do mês, o patrão destes supermercados, por exemplo, ganha num mês o mesmo que quem está na caixa demora 25 anos a ganhar", referiu.
A líder do BE sublinhou, nesse sentido, que os aumentos dos salários dos trabalhadores não compensam a inflação.
"Estamos mesmo a falar de um assalto a quem trabalha. Só controlando os lucros, as margens, estabelecendo preços para os bens essenciais é que podemos acabar com este verdadeiro assalto aos salários que está a acontecer em Portugal".
Para Catarina Martins, "as medidas que o Governo agora anunciou, na sua totalidade, não chegam a metade da folga orçamental que tem e, portanto, o Governo não está a fazer o que pode, está aquém do necessário e da disponibilidade do país e com isso a empobrecer quem trabalha.
"A generalidade dos trabalhadores não vê nada com estas medidas, vai continuar a ter um salário que não chega até final do mês", acrescentou.
"O Governo age sempre tarde e muito pouco, num país em que há um grupo, uma elite privilegiada que continua a engordar os seus lucros e o salário de quem trabalha não chega ao fim do mês. Se as pessoas estão a cortar na alimentação porque não tem salário, como é que a grande distribuição tem cada vez mais lucros?", questionou.
A aplicação de uma taxa zero de IVA num cabaz de produtos essenciais, anunciada na semana passada pelo Governo, será aplicada entre abril e outubro e terá um custo que o Governo avalia em 410 milhões de euros.