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O presidente da Assembleia da República serviu de cicerone aos primeiros visitantes que hoje se deslocaram ao parlamento, de portas abertas até às 18:00, e salientou a função de "vigilante" desta casa, elogiando a "moderação" das várias maiorias.
"As maiorias vão mudando, o que é típico de uma democracia. Ao longo destes quase 50 anos da democracia portuguesa têm sempre mudado as maiorias, mas sempre com a moderação, a solidariedade e a convivialidade que caracterizam os portugueses", destacou Augusto Santos Silva, que hoje abriu as portas do parlamento por volta das 15h00 aos visitantes.
Nos últimos dois anos, o parlamento suspendeu a tradição de abrir as suas portas na tarde do dia 25 de Abril, devido à pandemia de Covid-19, mas em 2019 foram cerca 6.000 as pessoas que passaram pela Assembleia da República. Hoje, a meio da tarde, as filas já chegavam a meio da Rua de São Bento.

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"Para fazer jus à casa que estão a visitar, começam logo com um discurso: esta casa vive dos discursos, das ideias, das propostas que se fazem e depois da representatividade. Isto é muito simples, cada um tem direito a um voto", resumiu Santos Silva, perante um público de todas as idades, mas onde se destacavam vários estudantes de escolas básicas e secundárias.
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O presidente da Assembleia explicou que, entre as grandes missões do parlamento, está a elaboração e aprovação de leis, mas também a fiscalização do Governo, com a residência oficial do primeiro-ministro logo ali ao lado e à qual Santos Silva ainda irá deslocar-se hoje à tarde.
"Há uma ligação direta entre aqui a Assembleia e residência oficial do primeiro-ministro, que hoje está aberta, pode-se circular entre a parte de baixo, onde está a AR, vigilante em relação ao Governo, e a parte de cima onde está o Governo sempre connosco a ver se estão a fazer alguma asneira", afirmou, em tom bom humorado.
Ainda assim, Santos Silva fez questão de destacar as boas relações que se vivem no parlamento entre as várias forças políticas, na maioria das vezes.
"Ao contrário do que por vezes as pessoas pensam lá foram, fazem-se grandes amizades no parlamento entre pessoas de diferentes partidos políticos. Até casamentos já se fizeram", contou.
O grupo seguiu depois para a Sala dos Sessões, onde decorrem os plenários da Assembleia da República, e na qual Santos Silva explicou o significado das seis estátuas de gesso, representando a Constituição, a Lei, a Jurisprudência, a Eloquência, a Justiça e a Diplomacia, todas representadas por figuras femininas.

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"Uma pequena antevisão do que vai ser o mundo, dominado pelas mulheres. Tenho a certeza que daí decorrerá maior amor à paz e à justiça", afirmou.
Foi uma menina de 11 anos, Maria, quem Santos Silva convidou para ocupar o seu lugar no hemiciclo.
Com um cravo numa mão e na outra uma pequena mala de onde saía uma boneca Barbie, Maria subiu à cadeira e declarou aberta a sessão, à tarde imaginária, mas numa sala que poucas horas antes tinha acolhido a sessão solene dos 48 anos do 25 de Abril.
Para fazer de primeiro-ministro - "é o lugar que fica em frente à porta de saída, não sei se é para ser o mais rápido a sair", gracejou Santos Silva - foi chamado um rapaz, José Maria Guerra, a quem a segunda figura do Estado deu uma ajuda sobre o que dizer quando lhe foi dada a palavra.
"É muito fácil: se estiveres na oposição dizes que o Governo está a fazer isto mal, se estiveres com a maioria dizes que está a fazer muito bem", brincou, provocando risos entre os visitantes.
A visita prosseguiria pela Sala do Senado, sala de visitas do presidente da Assembleia da República, Passos Perdidos ou a Sala D. Maria, entre outros espaços nobres, onde os visitantes tinham à disposição folhetos explicativos.
Maria, aluna da Escola Básica do Parque das Nações e 'presidente do parlamento' por uma tarde, nunca tinha visitado a Assembleia da República nem pensado em ser política, mas agora, questionada se poderá refletir sobre isso, já responde: "Um bocadinho".