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Já foram parceiros, agora estão em rotura política, e António Costa começou o frente a frente por dividir o Bloco de Esquerda (BE) em dois: "mel e fel". Num debate onde se discutiram as divergências que deitaram por terra o Orçamento do Estado, e a consequente queda do Governo, Catarina Martins admitiu que "o desejo de maioria tem sido um obstáculo", com Costa a recusar "imitar o professor Cavaco" se não conseguir metade dos deputados.
António Costa entende que, durante a campanha, o BE "aparece com muito mel", mas o que "atua na Assembleia da República é cheio de fel", afirmando que "quer ser um partido de protesto". E, em campanha, Catarina Martins assume mesmo que o partido "quer procurar soluções para o dia seguinte".
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A coordenadora bloquista assume, diretamente, que o desejo de maioria absoluta dos socialistas "tem sido um obstáculo", no entanto, "toda a gente no país sabe que não teremos uma maioria absoluta". Os bloquistas concentram-se, por isso, "em criar soluções" para depois das eleições.
O líder socialista entende, no entanto, que "maioria vamos ter", mas só a 30 de janeiro o país fica a saber "se a maioria é do PS para continuar a avançar, ou da oposição que só quer bloquear", colando o partido de Catarina Martins "à direita e à extrema-direita".
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A saúde foi um dos principais temas a dividir os dois partidos, tanto no debate como nas negociações para o Orçamento, e António Costa disse mesmo que o BE "falhou em 1500 milhões de euros" para o Serviço Nacional de Saúde (SNS).
"O Orçamento que o BE chumbou, era o Orçamento que reforçava em mais de 700 milhões de euros o SNS. Só em dois Orçamentos, o BE falhou no reforço de 1500 milhões de euros para o SNS", atirou.

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Já Catarina Martins assumiu que "não compreende" a exclusividade dos profissionais do SNS, "uma medida básica para centrar o SNS no utente".
"Era proposta por António Arnaut, para promover a dedicação exclusiva nos serviços de saúde", disse, com António Costa a lembrar a líder bloquista que o Governo aprovou em Conselho de Ministros a "dedicação plena para médicos", embora só em cargos de chefia.
O atual primeiro-ministro, no entanto, garantiu que a grande diferença entre os dois partidos, que "foi impeditivo para um acordo este ano", foi a proposta do BE "para minar a Segurança Social".
O BE propôs ao Governo a eliminação do fator de sustentabilidade, e de acordo com António Costa implicaria "um rombo brutal" de 480 milhões de euros por ano.
Ainda assim, Catarina Martins defendeu que "o imposto Mortágua", com o adicional do IMI, "permitia para pagar isto mesmo com as contas exageradas que o Governo apresenta", acusando o atual primeiro-ministro de "mudar de posição" desde os tempos de António José Seguro.
A líder do BE assumiu mesmo que o seu partido "foi o que mais fez pela sustentabilidade da Segurança Social", enquanto António Costa debitava "por amor de Deus".
"É a sustentabilidade que dá garantias aos pensionistas de hoje e os de amanhã. Se minarmos a confiança no futuro da Segurança Social, ganha a direita que propõe um sistema misto", atirou Costa.
O líder do PS mostrou ter estudado a fundo o programa do BE, e dirigindo-se "à página 113", notou que os bloquistas querem "recorrer à emissão de dívida pública para proceder à nacionalização da ANA, CTT, REN, EDP e GALP".
"O BE quer agravar a dívida pública em 14,5 por cento do PIB para fazer bravata ideológica", atirou.
E, na resposta, Catarina Martins garantiu que os bloquistas "não se resignam" a que seja o Estado chinês a "mandar na energia em Portugal": "Talvez o PS ache normal".

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Nos últimos segundos do debate, António Costa foi questionado com o futuro após as eleições, ou seja, se deixa a liderança do partido caso não consiga alcançar "a almejada maioria absoluta". O primeiro-ministro garantiu que "não faz chantagens e não é o professor Cavaco".
"O professor Cavaco é que diz "ou me dão a maioria ou me vou embora". O que eu digo é que, obviamente, quem é primeiro-ministro durante seis anos, se perder as eleições, tem de tirar uma ilação", explicou.
António Costa já admitiu que, caso falhe o primeiro lugar a 30 de janeiro, deixa a liderança do partido "porque os portugueses lhe enviam uma mensagem de desconfiança".