Marcelo Rebelo de Sousa dividiu o discurso da tomada de posse em "cinco missões", reforçando a transição do primeiro para o segundo mandato. O Presidente da República elencou a democracia, o combate à pandemia, reconstruir a vida das pessoas, a coesão social e a tolerância como os principais objetivos até 2026.
O chefe de Estado começou por garantir que, tal como há cinco anos, "Portugal é a única razão do compromisso" que assume como chefe de Estado. "Dizer Portugal é dizer os portugueses. Uma pátria é muito mais do país onde nascemos. Os usos que recebemos e passamos aos nossos filhos e netos. Uma pátria são as pessoas, e todos contam. Portugal são os portugueses", explicou.
Marcelo lembrou todos os portugueses, a começar pelos sem abrigo e os que vivem em lares de idosos, antes de assumir os desejos para a segunda parte da estadia em Belém.
Futuro "sem pântanos, abusos de poder e deslumbramentos"
O Presidente da República assumiu que o ambiente político em Portugal é agora "mais fragmentado e mais complexo, com a chegada ao sistema de novas forças políticas e sociais, anunciadas desde a primavera de 2018".
"Há um ano começou a pandemia. Um ano demolidor para a vida e saúde, empregos e rendimentos, comunidades e famílias. À pandemia na vida e saúde juntou-se a pandemia na vida e sociedade. O heroísmo deixou de ser coisa de um instante, passou a ser de um ano quase interminável", disse.
O Presidente da República assumiu que a indignação "dos sacrificados" pelas duas pandemias é justa, no entanto, deixou a ressalva que é injusto culpar tudo o que "não se resolveu e antecipou". "Os trucidados pelas pandemias têm o direito a ver o poder existente como muro das suas legítimas lamentações. Os responsáveis durante as pandemias só podem assumir tudo: o possível e impossível", apontou.
Marcelo lembrou que a Assembleia da República nunca deixou de funcionar, mesmo em tempo de pandemia, agradecendo aos deputados. "Queremos continuar a viver em democracia. Preferimos a liberdade à opressão. Realizámos duas eleições em pandemia, com a oposição a ser Governo. Isto é democracia", diz, recordando as eleições nos Açores.
Marcelo pede ao Governo uma renovação que evite uma rutura, numa "estabilidade sem pântano", sem deslumbramentos e abusos de poder. "Assegurá-lo é a primeira prioridade do Presidente da República para estes cincos anos", assumiu, referindo: "Vivemos em democracia, queremos continuar a viver em democracia e em democracia combater as mais graves pandemias".
Presidente quer marcar fim da pandemia
O segundo objetivo de Marcelo é saudar o fim da pandemia, com a diminuição do número de infetados e vítimas mortais. "Ampliar a vacinação, a testagem e o rastreio. Evitar nova exaustão das estruturas de saúde e seus heróis", acrescentou.
O chefe de Estado assumiu que o país quer desconfinar com rigor, reforçando a confiança e recuperar os adiamentos dos doentes não-Covid. Marcelo pede se estabilize o Serviço Nacional de Saúde. "Esta é a prioridade mais imediata do Presidente, num tempo de cansaço e ansiedade", afirmou.
Reconstruir "tudo ou quase tudo"
Marcelo reconhece que a vida das pessoas tem de ser reconstruída, num terceiro ponto fulcral, que obriga a melhorar "tudo ou quase tudo: emprego e rendimentos, saúde mental, laços sociais".
O Presidente da República admite que a recuperação é mais do que regressar a 2019 ou fevereiro de 2020, reforçando a necessidade de fortalecer a economia, com os fundos europeus "com transparência e eficácia".
Marcelo lembrou que não se pode esquecer o combate à corrupção, o papel das Forças Armadas e todas as forças de segurança.
"Urge construir um só Portugal"
"Só haverá verdadeira reconstrução se a pobreza se reduzir, com os focos de carência desaparecerem", assumiu, antes de confirmar a "coesão social" como a quarta missão do Presidente da República.
"A pandemia fez ressaltar a existência de vários "portugais", distantes entre si. Urge reconstruir um só Portugal", afiançou, pedindo políticas para construir um país igualitário, "sem privilegiados".
"Nós, Portugal, somos tudo menos uma ilha"
O chefe de Estado aponta a quinta lição com o aprofundamento entre culturas, lembrando que "não há ilhas no universo". "Nós Portugal somos tudo menos uma ilha. Fraternidade lusófona, aberturas a Oriente, mais solidariedade."
O Presidente pede que não existam medos e receios pelos diferentes e diversos: "Queremos afirmar um patriotismo das pessoas", referiu.
"Patriotismo que os mais jovens assumem como ninguém, contra ventos e marés. Contra pandemias. Os jovens têm pressa em ver Portugal mais justo e competitivo. Não se satisfazem com as cinco missões do Presidente da República para os próximos cinco anos", assume, pedindo que os governantes olhem para os jovens como o futuro do país.
Marcelo Rebelo de Sousa lembrou o papel de António Guterres, de quem se espera um segundo mandato na ONU, reforçando a solidariedade entre todos os que vivem em Portugal.
"Sou o mesmo de há cinco de anos e de ontem. Fui eleito para ser Presidente com independência e preferência pelos excluídos. Rejeição de messianismos presidenciais e respeito pela diferença e pluralismo", afirmou, garantindo que será o mesmo com qualquer Governo ou maioria.
Por último, rematando as cinco lições, Marcelo pediu aos portugueses que acreditem no futuro do país, citando Sophia de Mello Breyner: "Apesar das ruínas e da morte/ Onde sempre acabou cada ilusão/ A força dos meus sonhos é tão forte/ Que de tudo renasce a exaltação/ E nunca as minhas mãos ficam vazias."
E conclui: "Nunca as nossas mãos ficarão vazias."