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Pode um chumbo no parlamento português ter uma componente de discriminação racial? Para o deputado Gabriel Mithá Ribeiro, do Chega, pode e tanto pode que é essa a justificação que encontra para o facto de o nome dele ter sido chumbado para a vice-presidência da Assembleia da República.
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"Isto tem de ter uma interpretação racial num regime que anda há décadas a defender que é antirracista, que é a favor das minorias, contra a discriminação e financia organismos com esse propósito. Fica aqui claro hoje que uma coisa é o discurso e a outra é a prática", sublinha Mithá Ribeiro.
Ao lado de Diogo Pacheco de Amorim, primeiro nome do Chega chumbado para o cargo, e de André Ventura, Mithá Ribeiro até usa uma expressão racista para diferenciar negros de direita e negros de esquerda: "Se uma pessoa é negra e é de direita [o deputado diz esquerda por lapso] é tratado, desculpem a força da expressão, mas esta expressão tem um significado, é tratada como se tratam os pretos, isto é, eu interpreto isto pessoalmente como um símbolo de rejeição", afirma o deputado para quem está ser impedida "a liberdade do homem negro".
Ouça a reportagem da TSF.
No entender do deputado de origem moçambicana, "se uma pessoa é negra e de esquerda, é tratada com alguma dignidade, se é negra e politicamente neutra, tende a ser apagada das instituições". "O homem negro ou é de esquerda ou é neutro, se é de direita não conta no jogo", argumenta ainda o deputado que tem obra académica sobre racismo e questões raciais, embora não acredita que exista racismo estrutural em Portugal.
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Mithá Ribeiro, que distingue "racismo" de "questões raciais", foi repetidas vezes confrontado com a pergunta sobre se considera ter sido vítima de um ato racista no parlamento português, mas não responde taxativamente. "Não sou obrigado a dizer sim ou não à sua pergunta, o que digo é que uma coisa é dizer questão racial, outra é dizer racismo", defende Mithá Ribeiro.
Ventura, ao lado, quando confrontado sobre se comunga da perspetiva do deputado, não responde, deixa a bola nas mãos de Pacheco de Amorim, o outro nome rejeitado desta tarde que também foi confrontado com a pergunta sobre se reconhece que as minorias podem ter dificuldades no percurso por causa da cor de pele.
"Isso é uma questão que não me compete a mim discutir, o doutor Gabriel Mithá Ribeiro, como disse e especificou, é especialista nessa área e eu não me vou meter em áreas que não conheço com pensamento que não conheço", diz Pacheco de Amorim que, a não querer falar do que não sabe, deu por terminada esta conferência de imprensa de quase meia hora nos Passos Perdidos da Assembleia da República.