Tópicos chave
- Marcelo: Forças Armadas
- Santos Silva: comunidades
- Pedro Delgado Alves: populismo
- Rui Rio: fazer diferente
- André Ventura: falhas
- Bernardo Blanco: estagnação
- Paula Santos: fascismo
- José Soeiro: estado social
- Inês Sousa Real: igualdade de género
- Rui Tavares: educação
- Protesto na escadaria
- Desmaio interrompe discurso
- Grândola Vila Morena
A sessão solene do 48.º aniversário do 25 de Abril ficou marcada por discursos que evocaram o passado e alertaram para o futuro; que homenagearam as conquistas de Abril, mas lembraram os direitos que ainda falta alcançar; que apontaram os riscos dos extremismos e os caminhos para liberdade. Numa sala cheia, sem máscaras, um desmaio interrompeu as palavras da segunda figura do Estado e ouviu-se "Grândola Vila Morena".
Marcelo: Forças Armadas
O Presidente da República dedicou o seu discurso às Forças Armadas, defendendo que dar "mais meios imprescindíveis" aos militares, num período marcado pela guerra na Ucrânia, "não é ser-se de direita ou de esquerda, conservador ou progressista, moderado ou radical, é ser-se pura e simplesmente patriota, em liberdade e democracia".
"Sem as Forças Armadas, e Forças Armadas fortes unidas e motivadas, a nossa paz, a nossa segurança, a nossa liberdade, a nossa democracia, sonhos de 25 de Abril, ficarão mais fracas", afirmou o chefe de Estado perante a Assembleia da República.
"Porque reconhecer como são importantes as Forças Armadas na nossa vida como pátria exige mais do que recordarmos por palavras essa sua importância. Porque se queremos Forças Armadas fortes, unidas, motivadas temos de querer que tenham condições para serem ainda mais fortes, unidas e motivadas", acrescentou.
Santos Silva: comunidades
Por sua vez, o presidente da Assembleia da República sustentou que a abertura de Portugal ao mundo é um bem precioso em tempos de ódio e está enraizada numa História de multissecular emigração que estruturou uma sociedade coesa.
"Em tempos tão difíceis, as características essenciais da nossa pátria, como uma democracia madura, um país seguro e pacífico e uma sociedade coesa e aberta ao outro, emergem como um valioso património e um exemplo internacional. Graças à revolução libertadora do 25 de Abril e ao modo como fomos desde então construindo uma democracia pluralista que a todos procura integrar, sem admitir fraturas de base religiosa, territorial ou identitária, não tem cessado de crescer o reconhecimento internacional da capacidade portuguesa de comunicar com todos, de fazer pontes entre realidades distintas e de ser uma nação europeia aberta ao mundo", afirmou.
Pedro Delgado Alves: populismo
O vice-presidente da bancada socialista Pedro Delgado Alves evocou a ação do antigo Presidente da República Jorge Sampaio na resistência à ditadura e como construtor da democracia pluralista e pediu atenção aos cidadãos instrumentalizados pelo populismo.
"Em dias de ameaças populistas e de recurso à simplificação do que é complexo para instigar ressentimentos entre os cidadãos, a qualidade das instituições democráticas nunca foi tão importante, o respeito pelo outro nunca foi tão fundamental, a preservação do Estado social nunca foi tão decisiva para nos imunizar contra esses riscos".
"Muitos dos inconformados com o que ainda falta fazer, desiludidos com os sonhos ainda por realizar ou descontentes com a qualidade da democracia não são inimigos de Abril, mas correm o risco de ser manipulados ou instrumentalizados por aqueles que o são", acentuou.
Rui Rio: fazer diferente
O presidente do PSD defendeu que a solução para travar o crescimento dos extremismos não é "absurdos cordões sanitários", mas "ter o rasgo de fazer diferente" e reformar "sem cobardia nem hipocrisia".
"A solução está em nós próprios. A solução está em enfrentar a realidade sem cobardia nem hipocrisia. Está em reformar, ou diria melhor, em romper com o que há muito está enquistado e ao serviço de interesses setoriais ou de grupo", defendeu Rui Rio.
"Se é justo responsabilizar a política porque ela não tem tido a coragem de fazer as reformas estruturais que o desenvolvimento do país reclama, a verdade é que a maioria do eleitorado também valoriza muito mais a promessa fácil da benesse imediata do que a realização das reformas que preparam o seu futuro", apontou.
André Ventura: falhas
O presidente do Chega, André Ventura, considerou que "tanto falhou Abril" e pediu ao Presidente da República para não condecorar "aqueles que torturaram, mataram e expropriaram".
"Hoje devíamos olhar para os portugueses e dizer desculpem porque falhámos. Falhámos na justiça que construímos, falhámos no império que se dissolveu e que deixou outros países à sua mercê e famílias à sua sorte, nos jovens que querem emigrar como nunca no país que lhes tinha prometido ser o país da prosperidade, falhámos aos pensionistas e reformados que têm o pior poder de compra da União Europeia", afirmou.
Bernardo Blanco: estagnação
A Iniciativa Liberal defendeu que "falta a Portugal o inconformismo de Abril para romper a estagnação" e usou a guerra na Ucrânia para evidenciar que "a democracia é difícil de conquistar mas fácil de perder".
Na opinião de Bernardo Blanco, "o país está economicamente estagnado, socialmente hipnotizado e politicamente desligado".
"A boa notícia é que Portugal não está condenado. Não é esse o nosso fado. Mas para Portugal sair da cauda da Europa e voltar a estar na frente, temos de romper com o que o Estado Novo ainda deixou e mudar", defendeu.
Paula Santos: fascismo
O PCP insurgiu-se contra a "imposição do pensamento único" e a "hostilização de quem livremente emite uma opinião divergente", rejeitando o que considera serem "tentativas de intimidação" do partido com a finalidade de silenciar a sua intervenção.
A deputada Paula Santos considerou também que "há quem procure branquear o que foi o fascismo", descrevendo-o como "corrupção como política de Estado por via da fusão do político com o poder económico, sustentando nos monopólios e nos latifúndios, o saque dos recursos nacionais a favor daqueles interesses", enquanto a população era "a pobreza e a miséria, a negação de liberdades, o analfabetismo, a falta de cuidados de saúde, colonialismo, o racismo, a guerra, a discriminação das mulheres".
José Soeiro: estado social
O Bloco de Esquerda defendeu que a revolução do 25 de Abril "não é um património a ser velado com zelo, mas um legado para iluminar as contradições do presente", considerando que em 2022 falta ainda "quase tudo" a Portugal.
Na análise de José Soeiro, "falta estado social" onde já começou a ser construído, como na saúde, e também "onde não tem existido, como nos cuidados e na habitação".
Para o deputado do BE é evidente que "não está tudo bem" e que "é tempo de ouvir todas as pessoas que não estão no retrato emoldurado dos notáveis, que não têm nem terão medalhas nem ruas com o seu nome", pessoas "que estão no avesso dos lugares, mas sem os quais não existiriam lugares".
Inês Sousa Real: igualdade de género
A deputada única do PAN defendeu que é preciso tornar efetiva a emancipação das mulheres, salientando que "é preciso lutar pelo fim do sexismo e transformar a emancipação feminina em realidade".
"Abril ainda não tem rosto de mulher quando a cada dia mais de 50 mulheres são vítimas de violência doméstica", quando Portugal tem "um sistema e uma justiça, marcados por um machismo tóxico, que desculpabiliza sistematicamente o agressor".
Inês Sousa Real considerou que "Abril também não tem rosto de mulher quando as mulheres têm de trabalhar mais 51 dias para igualar o salário de um homem" ou "esperar até 2052 para ter igualdade salarial entre géneros".
Rui Tavares: educação
O deputado único do Livre, Rui Tavares, enalteceu o acesso ao ensino público para todos como uma das maiores conquistas do 25 de Abril de 1974, um dia que "valeu por séculos".
"A democracia que construímos com o 25 de Abril, representou finalmente uma possibilidade de acesso ao ensino para todos numa escala e de uma forma que nunca tinha existido na história de quase 900 anos deste país", vincou.
"Não é por acaso que logo que lhes foi possível, a primeira coisa que milhões de pais e mães do nosso país fizeram foi pôr os filhos e as filhas a estudar até onde eles e elas quisessem."
Protesto na escadaria
Durante a sessão, decorria nas escadarias da Assembleia da República um protesto do movimento negacionista "Pela Liberdade, Pela Verdade". Empunhando cartazes, os manifestantes usaram ainda megafone para gritar "vergonha" e reivindicarem "um verdadeiro 25 de Abril" à passagem das três principais figuras do Estado.
Desmaio interrompe discurso
O discurso de Augusto Santos Silva foi interrompido porque um funcionário da Assembleia colapsou junto à bancada do Governo.
O deputado do PSD Ricardo Batista Leite e o secretário de Estado da Saúde, que são também médicos, ocorreram de imediato ao local para ajudar, depois dois elementos do INEM, o médico e a enfermeira do Parlamento, foram chamados a prestar auxílio.
O funcionário em causa ter-se-á sentido mal, desmaiou e caiu, batendo com a cabeça no chão de madeira. Acabou por ser retirado da sala em braços.
Grândola Vila Morena
Encerrada a sessão solene, muitos deputados cantam "Grândola Vila Morena", de pé e com cravos na mão, voltados para a bancada onde se sentavam os capitães de Abril. Os deputados do Chega abandonaram a sala.