Chegou à corrida eleitoral com o "projeto de vida" de liderar a capital do país. Os eleitores abriram-lhe a porta.
E no fim ganhou Moedas. Foi preciso ir ao photo finish, mas o candidato pela coligação Novos Tempos emergiu da noite eleitoral como o grande vencedor. O homem que disse que o seu "projeto de vida" é liderar a câmara municipal de Lisboa pode agora colocá-lo em prática.
Os sinais no início da noite não eram completamente legíveis. De três projeções, apenas uma dava a vitória a Carlos Moedas, mas o ambiente na sede de campanha foi, desde cedo, de festa. Ainda assim, foi preciso esperar pelas primeiras horas da madrugada para que os destinos de Lisboa se tornassem um pouco mais claros.
"Fizemos história, fez-se história hoje em Lisboa!". Não escondia o entusiasmo. "Não tenho palavras para agradecer o voto de confiança que me foi dado pelos lisboetas. Comprometo-me, lisboetas, não vamos falhar."
O futuro, garantia Moedas, esteve sempre no nome da coligação que encabeçou: Novos Tempos. No Pátio da Galé, momentos antes, uma voz embargada despedia-se depois de seis anos à frente dos destinos da capital.
"A derrota de hoje é pessoal e intransmissível", garantia Fernando Medina, enquanto afastava a hipótese de que os resultados eleitorais pudessem ser vistos como um "cartão vermelho" ao PS. O partido "fez tudo, em todos os momentos, para que nós pudéssemos ter os recursos, os meios para fazermos diferente", frisou perante o olhar atento do presidente do partido, Carlos César, e do secretário-geral, António Costa, para quem a noite não estava - nem foi - perdida.
Afinal de contas, não tinha passado muito tempo desde que António Costa tinha declarado o PS vencedor da noite eleitoral. "Continua a ser o maior partido autárquico nacional", assinalava o secretário-geral, que fazia contas à vitória em 150 câmaras municipais. Embora fossem menos do que há quatro anos, como o próprio notou, esta era apenas a segunda vez que um partido vencia por três vezes consecutivas umas autárquicas.
Rio, que teve o condão de encaixar a sua intervenção entre as de Costa e Medina, também tinha vitórias a reclamar, incluindo contra as sondagens. Os objetivos para a noite eram: "Aumentar o número de votos, de eleitos, de presidentes de câmara e reduzir a diferença para o PS." Tudo isto, sublinhou "contra as sondagens e muitos comentadores que deveriam ter algum respeito por si próprios".
O futuro entrava no discurso de Rui Rio, que quis ser claro na mensagem. "Não acertaram praticamente em nada." E como 2023 é já ali à frente, acelerou: "Estamos em muito melhores condições de ganhar as eleições de 2023." Vai recandidatar-se à liderança do partido? Não quis responder esta noite. Segundos depois, a sala onde falava entrava em ebulição: sabia-se, com as primeiras provas de solidez, que Moedas era o próximo presidente da câmara de Lisboa.
Porto sentido por Moreira, mas sem maioria
No Porto, a noite não foi de surpresas, mas pode obrigar a mudanças táticas. Rui Moreira foi reeleito presidente da câmara, mas a maioria que tinha até aqui dissolveu-se: vai ter de partilhar o executivo com PS, PSD, CDU e BE. No discurso de vitória, elegeu "o Porto" como grande vencedor. As promessas que ficaram foram as de trabalhar para reforçar a "qualidade de vida" dos que vivem, trabalham, estudam ou visitam" a cidade.
O xadrez da cidade também ficou disposto. "Não perdemos qualquer das juntas e ainda somamos a vitória do candidato à Campanhã", um resultado que diz ser "histórico".
Coimbra, horas de despedida
Ainda a noite era uma criança quando, em Coimbra, já se anunciava o fim de uma era. José Manuel Silva, candidato pela coligação Juntos Somos Coimbra, era apontado como o sucessor de Manuel Machado, autarca que liderou a cidade dos estudantes nos últimos oito anos.
Em Lisboa, a mudança não passou despercebida. António Costa confessou-se "triste" com a perda da câmara, mas realçou que ganhar e perder faz parte da vida política. O presente de despedida para o "amigo" Manuel Machado foi entregue em forma de elogio: "Foi um grande autarca."
José Manuel Silva aproveitou as primeiras palavras como autarca eleito (com 43,92% dos votos) para afirmar que a vitória do projeto que encabeçou já foi importante para a cidade: recolocou-a "no mapa".
E a pouco mais de 50 quilómetros Oeste, anunciava-se um regresso.
Santana, 24 anos depois
"Cair e levantar." É o que Santana Lopes diz ter feito. O antigo primeiro-ministro e líder do PSD aventurou-se numa candidatura independente - Figueira a Primeira - e 24 anos depois de ter deixado a liderança da autarquia, reconquistou-a. Não tem maioria, já que a sua votação foi de 40,39%, mas classificou a vitória de "extraordinária".
As emoções chegaram a parecer querer falar mais alto. "Agradeço sobretudo aos figueirenses, o resto é a vida", disse aos jornalistas enquanto recebia os parabéns na sede de campanha. Disse querer deixar uma mensagem de "esperança" a todos os que sofrem.
Momentos depois, diria que hoje sabe, "como nunca soube, o que os partidos grandes e instalados fazem aos pequenos e independentes". A corrida para renascer na praia como independente foi "muito difícil".
Estragos na Madeira
O Funchal mudou de mãos e o PS/Madeira perdeu o presidente. Perante a vitória da coligação PSD/CDS-PP, Paulo Cafôfo demitiu-se e obrigou o partido a encontrar nova liderança após falhar os objetivos a que se propôs.
"Também irei sair da Assembleia Regional e deixar o meu lugar de deputado", declarou. Mas nem tudo ficou perdido: o PS manteve as câmaras municipais do Porto Moniz , Ponta do Sol e Machico.
Cada um com as suas lutas
O CDS aproveitou a noite para anunciar que António Costa viu o "primeiro cartão amarelo". Francisco Rodrigues dos Santos festejou a captura das seis câmaras municipais controladas pelo partido e anunciou que todos os objetivos definidos para o escrutínio foram cumpridos: "Manter as seis câmaras governadas pelo partido, aumentar o número de autarcas face a 2017 e chegar a um entendimento com o PSD "sempre que fosse possível ganhar câmaras à esquerda."
Analisados os resultados, o CDS pode agora, garante o líder do partido, "construir uma alternativa política de centro-direita para derrubar o socialismo. Estas eleições são o tiro de partido para isso mesmo. O CDS está vivo, a crescer, e recomenda-se".
A CDU ficou "aquém dos objetivos colocados". Jerónimo de Sousa não quis alongar desnecessariamente a noite e foi o primeiro a fazer uma análise objetiva dos resultados. Seguem-se as negociações do Orçamento do Estado para 2022.
O Chega também falhou o objetivo de terminar a noite eleitoral como terceira força política nacional. Em Braga, André Ventura falou de uma vitória que "não foi total", mas sim suficiente para dizer que o Bloco de Esquerda saiu "esmagado".
Ficou sem resposta porque, esta noite, não houve reação oficial do Bloco de Esquerda. Ficou apenas uma garantia, deixada por Catarina Martins, de que o partido não negoceia com a direita. Esta segunda-feira há reunião da direção nacional.
A Iniciativa Liberal, que acaba a noite com mais de 60 mil votos, abriu as portas a alianças, mas deixa os socialistas de fora. Cotrim Figueiredo assume mesmo que a câmara de Lisboa pode ser um bom teste.
A líder do PAN, Inês de Sousa Real, afasta quaisquer consequências para a direção recém-eleita.