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Há uma nova carta que apela à "convergência e pluralidade" da esquerda depois das eleições legislativas, com cem subscritores que olham para as eleições "não como um drama, mas como uma oportunidade para clarificar o projeto para o país". Os signatários apelam aos portugueses que votem a 30 de janeiro nos vários partidos à esquerda, "para uma maioria plural".
Entre os nomes, está o arquiteto Álvaro Siza Vieira, o médico de saúde Pública Henrique Barros, a antiga militante do bloco de esquerda Ana Drago e a jornalista Pilar del Río, que querem a esquerda unida, com os votos dispersos pelos vários partidos.
Em entrevista à TSF, o economista Ricardo Paes Mamede, que também subscreve a carta, admite que "a geringonça superou todas as expectativas". E, depois do chumbo do Orçamento, com PS, Bloco de Esquerda e PCP de costas voltada, "é bom lembrar 2015".

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"Vale a pena lembrarmos que em 2015 a probabilidade de um entendimento que permitisse viabilizar uma governação à esquerda era muito menor do que atualmente. Essa é a motivação fundamental desta carta: apelar para uma composição do Parlamento que torne mais provável uma Governação à esquerda", explica.
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Com António Costa a bipolarizar entre PS e PSD, defendendo que o voto é "entre ele ou Rui Rio", Ricardo Paes Mamede nota, ainda assim, que ninguém "diz não" à convergência.
Ouça a explicação.
"Não há nenhum dirigente à esquerda que rejeite liminarmente a possibilidade de se encontrarem soluções que permitam dar continuidade ao que de positivo aconteceu nos últimos seis anos", nota.
Na carta, a que a TSF teve acesso, os subscritores insistem que "os entendimentos à esquerda permitiram reverter medidas socialmente injustas e economicamente contraproducentes impostas pela troika e pelo Governo de direita".

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Ricardo Paes Mamede acrescenta, no entanto, que esse caminho "não acontecerá se não existir uma maioria de esquerda que seja plural".
Nos cem subscritores não há militantes partidários, sendo essa "uma condição fundamental para a subscrição" da carta, com os votos a distribuírem-se por vários partidos à esquerda.
"Existem pessoas que votaram em cada um destes três partidos, mas a sua posição é comum independentemente do voto", ou seja, a criação de uma geringonça 2.0.
"Defendemos um Serviço Nacional de Saúde público e universal, que valorize os seus profissionais, travando assim a crise que a pandemia acelerou. Defendemos os direitos do trabalho, revertendo as leis laborais do tempo da troika, recusando que a evolução da economia nacional seja baseada nos baixos salários e na precariedade. Defendemos a escola e a universidade públicas, assim como a produção cultural e o respeito pelos seus profissionais", lê-se na carta.
Os signatários entendem que "cada deputado conta" e "o próximo governo será formado pela conjugação da vontade das diversas forças parlamentares", seja qual for o partido mais votado.
"Sabemos que a reedição, formal ou informal, do bloco central só pode ser evitada se as esquerdas parlamentares saírem reforçadas", escrevem.

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"Estou parcialmente de acordo." Santos Silva quer que PS tenha "maioria suficiente" para evitar o que aconteceu na legislatura passada
O dirigente do PS, Augusto Santos Silva, leu a carta e faz questão de dizer que concorda, em parte, com o que defendem os subscritores, embora evitando sempre a expressão maioria absoluta.
"Devo dizer que estou parcialmente de acordo com os subscritores da carta. Também eu quero que haja uma maioria de esquerda no Parlamento e essa maioria será certamente plural. Agora quero é mais. Quero que o PS tenha maioria suficiente para que não possa acontecer outra vez o que aconteceu na legislatura passada", afirma Augusto Santos Silva, em declarações à TSF.
"Uma maioria do Partido Socialista será certamente uma maioria de esquerda em Portugal e como ninguém concebe que outros partidos políticos de esquerda deixem de estar representados no parlamento português, a maioria de esquerda no parlamento português será necessariamente plural", acrescenta.
Ouça as declarações de Augusto Santos Silva à TSF
Notícia atualizada às 11h10
* com Rui Polónio e Carolina Quaresma