Montenegro entra na campanha e não fecha porta à liderança do PSD

Foi questionado uma, duas e três vezes de formas distintas e nunca se comprometeu a ir à luta nas diretas de janeiro, mas também não fechou a porta. A poucos dias das autárquicas, Luís Montenegro dá uma ajuda na campanha do PSD por ter "responsabilidades para a vida inteira" e única promessa que faz para o "dia seguinte" é a de analisar este período. "Depois, logo se verá!"

Não eram mais de 30 os apoiantes do PSD que, bandeira ao alto, se reuniram em Corroios para uma arruada, mas esta não era uma ação de campanha qualquer: contava com a ajuda de Luís Montenegro. O antigo líder parlamentar do PSD, que disputou a cadeira de presidente do partido com Rio em 2020, desceu de Espinho à Margem Sul do Tejo em resposta a um convite, arregaçou as mangas para o trabalho de convencer eleitores e lá foi ele café a café distribuir panfletos.

Estará a ensaiar uma futura campanha? Montenegro não se descose, mas também não fecha a porta. Desde logo, o facto de aparecer na concelhia do Seixal, que esteve com ele nas diretas, presta-se a algumas leituras pós-autárquicas. "Nem me lembrei disso, sinceramente, não estou a ser cínico nem hipócrita, recebi uma mensagem de um número que não sabia de quem era", explica Montenegro numa exceção que abriu ao silêncio que tem cumprido desde que perdeu as eleições no PSD.

Sem nunca mencionar a atual direção nacional e o caminho que está a ser trilhado, Montenegro elogia o trabalho de todo o partido, de uma ponta à outra, para tentar inverter os resultados dos social-democratas de eleição para eleição.

"Sinto que o PSD fez um grande esforço de uma forma coletiva e envolvo toda a gente, dirigentes locais, distritais e nacionais, todos fizeram um esforço muito grande no sentido de podermos apresentar candidaturas, projetos e equipas fortes. Já se sabe que nestes processos nem tudo corre bem, há sempre um ou outro sítio onde as coisas não correram bem, mas não falarei disso", destaca.

Realçando que já esteve em mais de 30 concelhos do país para os quais foi convidado a estar presente nesta corrida autárquica, o antigo líder de bancada também lembra que tem andado "sem falar e sem perturbar a campanha eleitoral de ninguém", "valorizando os candidatos e os projetos". Ou seja, o subtexto de não o acusem se a coisa correr mal para o partido.

"Assisti a um movimento de esforço coletivo que é notável e que faz com que possamos ter esperança de que o PSD possa tornar a vir a ser o maior partido do poder local e, talvez a partir daí também, o maior partido na Assembleia da República para poder dar outro governo a Portugal", remata Montenegro.

E essa mudança começa já no "day after" com um anúncio de candidatura? "Na segunda-feira, na terça, na quarta e nas semanas seguintes, eu e acho que a maioria dos militantes do PSD, teremos ocasião de avaliar tudo aquilo que aconteceu nos últimos dois anos, neste mandato que está a chegar ao fim, é só isso que farei, não há aqui nenhuma preparação nem da segunda, nem da terça, nem da quarta", refere.

Ainda assim, não seria de estranhar que o desafiador de Rio estivesse no terreno a contar espingardas e a fazer o "roteiro da carne assada", sendo que também para isso Montenegro tem resposta na ponta da língua.

"Já faço isto há muitas campanhas. Em 2013, estive aqui neste distrito a apresentar candidatos; em 2017, estive aqui neste distrito... Não sou um neófito nestas campanhas, já tenho muitos quilómetros. Se quer falar em carne assada, normalmente é lombo de porco, e eu já tenho muito porco - no sentido apenas do animal - na minha digestão. Já percorri o país várias vezes e em várias campanhas e faço isso com gosto porque acho que é também a minha responsabilidade", afirma Montenegro em declarações à TSF e ao semanário Novo que foram os únicos órgãos de comunicação social a acompanhar a iniciativa.

Precisamente falando em responsabilidade, Luís Montenegro diz que "é evidente" que não se pode esquecer de que esteve 16 anos deputado, seis dos quais na liderança da bancada, e que "foi candidato a líder do partido com votação muito expressiva". "Isso dá-nos responsabilidade para a vida inteira e eu não vou nunca esquecer-me disso", diz deixando margem para mais uma tentativa de falar de responsabilidades futuras.

Ouviremos falar de Montenegro antes das diretas? "Não sei, não faço a menor ideia. Não tenho nenhum projeto na minha cabeça para as próximas semanas que não seja, obviamente, fazer a análise deste período e depois logo se verá o que vai acontecer, não tenho nada projetado", afiança o social-democrata.

"Aqui a estrela não sou eu, são eles", atira Montenegro que, sobre futuro, destaca que o caminho para o PSD é o de cativar abstencionistas e dá o exemplo da terra que agora visitou. "O Seixal é uma terra que é marcada por um nível de abstenção muito elevado e aí está um dos prismas que o PSD pode encarar no futuro: olhar para aqueles que não têm votado e ver nisso uma oportunidade de fazer crescer o PSD".

Também olhando para a frente e para distritos como o de Setúbal, o social-democrata realça que é necessário que o partido pense num "plano de ação política" que favoreça a atividade partidária e que lhe dê mais meios para crescer. "Só vejo uma hipótese que é ter uma discriminação positiva", nota Montenegro que elogia a coragem dos candidatos neste concelho em particular com condições adversas, candidatos esses que traduzem bem a "alma do PPD".

"Não desistem, é a verdadeira alma social-democrata, a alma do PPD. A partir de baixo para cima, de uma freguesia, de um lugar numa freguesia, começarmos a estabelecer uma ponte que una os nossos propósitos, as nossas equipas, as nossas personalidades à população. Tudo o que puder fazer para fortalecer isso, eu farei, esteja em que situação estiver", reforça.

E quem não se lembra de uma das frases que marcou o congresso de 2018 do PSD: "Desta vez decidi não, se algum dia entender dizer sim, já sabem, eu não vou pedir licença a ninguém"?

O autor da frase sorri quando questionado se essa lógica se mantém hoje em 2020: "Sei que se respondesse a essa pergunta, já estava o título feito". E estaria, mas também não deixa de ser relevante que, quase dois anos depois, tenha quebrado o silêncio perante dois jornalistas a poucos dias de começar o debate sobre o futuro da liderança social-democrata

Acompanhe aqui o último dia de campanha

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