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Há 20 anos os atentados a 11 de setembro chocaram o mundo, era então Jorge Sampaio Presidente da República Portuguesa. As primeiras declarações do antigo chefe de Estado enunciavam a dimensão de uma "tragédia" que também atingia os portugueses.
"Quero partilhar com os portugueses o meu profundo choque e incredulidade perante os bárbaros ataques terroristas de que os Estados Unidos foram hoje alvo", começou por dizer. "Esta é uma hora de luto, luto que estou certo de que é partilhado por todos os portugueses. Não podemos deixar de nos sentir diretamente atingidos com a brutalidade do que presenciámos e a dimensão da tragédia."
Ouça as declarações de Jorge Sampaio.
As palavras de Jorge Sampaio, contra o terrorismo e o uso da força armada, viriam a condizer com a oposição que, mais tarde, em 2003, manifestou face à possibilidade de envio das forças armadas portuguesas para o Iraque. A tomada de posição resultou numa divergência com o primeiro-ministro Durão Barroso, que levou Portugal a destacar a GNR para a missão.
Sampaio e Barroso estiveram também em lados opostos sobre a cimeira na base das Lajes, nos Açores, que juntou o Presidente dos Estados Unidos, George W. Bush, e os primeiros-ministros do Reino Unido, Tony Blair, e de Espanha, José Maria Aznar, três dias antes da invasão do país de Saddam Hussein.
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Passados 13 anos, a 7 de maio de 2016, o antigo primeiro-ministro afirmou, numa entrevista à SIC e ao Expresso, que Sampaio concordara com a cimeira. Através dos jornais, Jorge Sampaio respondeu e desmentiu Durão Barroso, afirmando que não cabia ao Presidente "autorizar ou deixar de autorizar atos de política externa".
Ao Público e ao Diário de Notícias, Sampaio reiterou, nessa altura, que tinha uma visão divergente da de Barroso relativamente à questão do Iraque e que concordou com a cimeira por lhe ter sido transmitido que era uma cimeira para a paz.
E recordou ter sido contactado dois dias antes da cimeira, numa reunião de urgência, e que o argumento de Durão Barroso era "de que se tratava da derradeira tentativa para a paz e para evitar a guerra no Iraque". Por isso, Jorge Sampaio concordou.
Foi também isso que Durão Barroso disse numa declaração ao país a 15 de março de 2003.
"A cimeira dos Açores não resultará em nenhuma declaração de guerra, isso posso garantir", afirmou.
Três dias depois da cimeira dos Açores, começou a invasão do Iraque, numa ação liderada pelos Estados Unidos e Reino Unido, sem o aval das Nações Unidas, opção que Sampaio criticou, enquanto defensor do multilateralismo e do papel da ONU.