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De Lisboa a Bruxelas vai-se perdendo o "otimismo" do primeiro-ministro acerca da execução dos fundos do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR).
À mesa com 14 jornalistas portugueses, que viajaram até Bruxelas a convite da Comissão Europeia, Maria Manuel Leitão Marques, eleita pelo Partido Socialista ao Parlamento Europeu, foi a primeira a ter a palavra. Não vê com "pessimismo" a execução dos fundos do PRR, mas deixa um conselho a São Bento: "Muitas vezes, nós batalhamos pelos fundos, mas temos é de batalhar mais sobre a nossa capacidade de os utilizar."
Ouça aqui a reportagem da TSF em Bruxelas
"Eu também já tive de gerir fundos para a administração pública. Batalhei muito para ter um bolo importante e depois vi-me aflita para o executar. Vou dizer-vos, foi por falta de ter recursos dentro da administração pública capazes de desenvolver esses projetos e provavelmente deve acontecer o mesmo nas empresas", acrescentou a socialista.
Temos de batalhar mais sobre a nossa capacidade de utilizar os fundos
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Também sentado nesta mesa redonda do Parlamento Europeu, em Bruxelas, mas com Marisa Matias "de intervalo", José Manuel Fernandes, do PSD, apelou a um "Portugal programador": "Nós não fazemos a pergunta o que é que nós queremos, o que é que é preciso. Portanto, se soubéssemos o que queremos, o que cada região quer, e se isso já estivesse definido era fácil já ter projetos de qualidade. Isto está a ser uma oportunidade perdida."
José Manuel Fernandes não coloca em causa a execução das verbas, mas tem dúvidas quanto à sua aplicação.
"Qual é o problema da execução dos fundos? Vão ser todos executados. Só que há aqui uma confusão. É confundir gastar, com gastar bem", atirou o eurodeputado social-democrata.
Há aqui uma confusão. É confundir gastar, com gastar bem
Ora e para Marisa Matias os problemas com o PRR começam, desde logo, pela "falta de discussão pública em torno da aplicação dos fundos".
A eurodeputada eleita pelo Bloco de Esquerda lembrou que "os fundos europeus têm determinado o que é Portugal" e apontou o dedo à falta de aplicação das verbas em matéria de mobilidade: "Todos os fundos que tivemos de investimento em mobilidade foram em betão. Nós fomos dos poucos países que após a entrada na União Europeia, e com fundos europeus, conseguimos reduzir a nossa rede ferroviária e assim reduzir a nossa mobilidade em linha com aquilo que devia ser o combate às alterações climáticas. O que sobrou em betão, em Portugal, faltou em massa cinzenta", sublinhou Marisa Matias.
O que sobrou em betão, em Portugal, faltou em massa cinzenta
Já João Pimenta Lopes, do PCP, vê o PPR com as prioridades trocadas: "A desadequação do PRR, por exemplo, no investimento na saúde, que tanto é necessário. A desadequação do PRR, que não apoia a pequena e média produção. Na agricultura, por exemplo, contribuiria para resolver problemas de soberania alimentar. Ou na introdução e regulação da energia, no mercado", frisou o eurodeputado comunista.
São os recados de quem vê os fundos aplicados à distância. Por cá, o Governo conta executar um terço do PRR até ao final do ano (32%), e o restante até 2026.