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Lídia Pereira, do PSD, defende que a realidade do ensino em Portugal é hoje "bastante desadequada", e critica a manifestação de intenções do Governo para atualizar a Educação, sem fazer alterações palpáveis. Em entrevista à TSF, a eurodeputada remete para "a própria capacidade de renovação de material, do equipamento, a capacitação dos professores", que considera serem aquém do que o país precisa.
"Tive oportunidade de visitar uma escola, perto de minha casa, em Coimbra, há cerca de um ano, e fiquei surpreendida quando reparei no equipamento informático e tinha uma etiqueta do PRODEP. Quer dizer, estamos em 2021." A deputada no Parlamento Europeu refere-se a um programa aplicado entre 2000 e 2006, e lamenta que, décadas após a entrada ao abrigo do espaço comunitário europeu, os fundos tenham sido mal aproveitados. "Já tivemos muito tempo, já recebemos muitos fundos europeus, já tivemos muitas oportunidades para fazermos diferente", assinala.
Para Lídia Pereira, o ensino necessitaria de uma reforma estrutural, para alavancar vários setores da economia. Portugal tem a classe de professores mais envelhecida da OCDE. No ensino básico e no secundário, perto de um terço dos docentes têm 50 ou mais anos e poderão aposentar-se na próxima década. "Temos uma classe de professores cada vez mais envelhecida. Fala-se, mas não há ações. Não vejo o Ministério da Educação empenhado na resolução destas questões que vão ser determinantes para a qualidade do ensino e para o objetivo de igualdade de oportunidades de quem frequenta a escola."
"Perde-se mais tempo em questões mais ideológicas, sobre se deve ser público ou privado. Vemos a escola pública a descer cada vez mais nos rankings", aponta a eurodeputada social-democrata, que refere que, no ranking mais recente de escolas, a escola pública surge apenas a partir do 50.º lugar, o que, na sua leitura, significa que os anúncios de investimento feitos pelo Governo não são "coerentes" com os resultados. Na verdade, a primeira escola a surgir no ranking mais recente é a Escola Secundária Eça de Queirós, na Póvoa do Varzim, em 41.º lugar. Uma posição abaixo aparece a Escola Secundária Infanta D. Maria, em Coimbra, e, no número 49, a Escola Básica e Secundária de Arga e Lima, em Viana do Castelo.
A deputada do Parlamento Europeu pede "uma reforma de fundo no ensino que o atualize" e que renove o capital humano. "Se nós não investimos mesmo na educação, estamos depois a comprometer a prazo a mobilidade social. Vários estudos mostram que a mobilidade social estagnou, e isso deve preocupar-nos." Lídia Pereira fala de um problema que se repercute noutras questões da sociedade.
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De uma forma geral, a eurodeputada também se refere a um PRR português que "preocupa", por não ver que seja transformador da sociedade, "para tantos desafios que nós vamos ultrapassar", tais como a digitalização e a transição energética. A retoma das regras económicas europeias não deverá acontecer antes de 2023, mas a social-democrata vinca que não se trata de um "período muito distendido", e que, por isso, gostaria de ver no PRR medidas que fossem determinantes para o sucesso do país na próxima década.
No PRR Lídia Pereira lamenta ainda "que não tenha havido capacidade de um consenso mais alargado na sociedade portuguesa daquelas que são as prioridades estratégicas para Portugal" e que exiba uma "concentração bastante centralista de alocação das verbas à Área Metropolitana de Lisboa, à Área Metropolitana do Porto, ignorando um pouco o resto do território nacional", o que caracteriza como "penalizador para a coesão territorial".
"É crucial Portugal não ficar para trás. Eu gostava que Portugal estivesse no pelotão da frente. Os números e as decisões que o Governo vai tomando não me provocam grande otimismo, pelo contrário." A visão que a eurodeputada expõe é a de um país "mais livre, com empresas a conseguirem florescer mais rapidamente, com menos burocracias, com menos obstáculos", de forma a "criar um sentimento empreendedor" entre a nova geração de empresários e empresários. E os anúncios feitos pelo Governo de que Portugal está a convergir com a UE também não convencem Lídia Pereira. "Vejo Portugal a divergir, e todas as projeções indicam que, no final desta década, se não houver, de facto, uma inversão da política económica, Portugal estará na cauda da Europa, junto com a Roménia e a Bulgária em PIB, ou até atrás da Roménia, o que é surpreendente." A Roménia aderiu à UE em 2007, e Portugal entrou em 1986.