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Faltavam dez minutos para as sete da tarde quando Paulo Rangel entrava no hotel para acompanhar a contagem dos votos. Da boca, saíam-lhe as palavras "sereno" e "confiante". No ar ficava, no entanto, algum nervosismo e apreensão. Miguel Pinto Luz e Pedro Rodrigues, que aguardavam o candidato, sorriam aos jornalistas, mas a única boa notícia da noite parecia ser a elevada participação dos militantes do partido.
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Longe dos olhares indiscretos dos repórteres, concentrados na sala preparada para a "noite rangelista" no andar de baixo, chegavam aos poucos alguns dos apoiantes do candidato à liderança do PSD: António Leitão Amaro, Pedro Alves, Bruno Vitorino e, mais tarde, rostos como Emídio Guerreiro, Cancela Moura, Duarte Marques ou o líder da JSD, Alexandre Poço. Nenhum se aproximou do local onde se repetiam os diretos televisivos e os repórteres fotográficos se iam sentando, sem "gente" para captar, numa sala onde ao cartaz de fundo com o lema "Unir, Crescer, Vencer" se juntavam dezenas de cadeiras azuis e o mesmo número de bandeiras laranja com o símbolo do partido, estrategicamente colocadas.
A contagem dos votos
Sem acesso aos apoiantes do eurodeputado, pouco passava da hora do fecho das urnas, às 20h00, já os jornalistas começavam a receber as primeiras contagens. Bruxelas e Macau eram "rangelistas", o concelho de Manteigas também. Mas faltavam os distritos onde tudo parecia estar em jogo: Aveiro, cedo confirmado para Rio; Lisboa, para Paulo Rangel; Braga, que acabou por pender para o atual presidente social-democrata; e o Porto. O distrito de origem dos dois candidatos voltava-se, ao fim de cerca de hora e meia, para o incumbente. Era o balde de água fria para a candidatura do eurodeputado.

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Noite curta
Por volta das 21h30, Pedro Esteves, diretor de campanha, descia as escadas para dizer: "o Paulo desce daqui a pouco". Estava reconhecida a derrota no quartel-general de Rangel. "O grande problema foi o Porto", reconhecia o braço-direito do eurodeputado, pela segunda vez derrotado numas eleições diretas.
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Vinte minutos depois, calava-se a música ambiente da sala vazia de militantes para a entrada de algumas dezenas de apoiantes do núcleo duro de Paulo Rangel, seguidos pelo candidato. Ocupadas as cadeiras, grita-se PSD até o candidato chegar ao palco, onde de imediato assumia a derrota.
"A minha primeira palavra é naturalmente para felicitar o Dr. Rui Rio pela sua vitória nestas eleições internas para a presidência do PSD", asseverou Paulo Rangel, garantindo já ter "falado pessoalmente" com o líder do partido e vencedor das diretas. E, num ápice, à "serenidade e confiança" manifestadas à chegada ao quartel-general, impunha-se um Paulo Rangel de rosto carregado, numa sala em que as bandeiras laranja não se agitaram e só os repetidos apelos à união pediram palmas.
Duas leituras
Da boca do candidato sai o apelo à "união" dos sociais-democratas, para lutarem por uma "vitória do PSD nas legislativas" e onde "o único adversário é António Costa". Mas, enquanto nas palavras de Paulo Rangel o partido sai "unido e reforçado" das diretas, à boca pequena fala-se "na desilusão do Porto", na "boataria da campanha" (atribuída à candidatura de Rio) e numa máquina que "perdeu força nos últimos dias".
A vida continua para Rangel em Bruxelas, "como eurodeputado" - "o cargo que os portugueses me confiaram" -, sem ideia de uma eventual "terceira vez" como candidato à liderança.
Agora, fica apenas a promessa: "Com certeza, estarei na campanha às legislativas a apoiar o PSD".

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Quinze minutos depois de começar a falar aos apoiantes, Rangel abandona o palco, distribui abraços pelos indefetíveis e sobe o elevador com o diretor de campanha. Em poucos minutos, restam despojos na sala. Bandeiras caídas, cadeiras vazias e os estandartes do PSD, de Portugal e da União Europeia, que durante toda a noite ladeavam o palco, fechados em caixas.

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