O debate entre os candidatos à Câmara Municipal do Porto, promovido pela TSF e pelo Jornal de Notícias
Autárquicas 2021

Rui Moreira apela a "maioria reforçada", PS afirma-se como "alternativa de mudança" no Porto

O debate organizado pela TSF e pelo JN colocou frente a frente os candidatos à Câmara Municipal do Porto.

A escassos dias das eleições autárquicas, o futuro do Porto para os próximos quatro anos esteve em debate, no Ateneu Comercial do Porto. No confronto, moderado por Domingos Andrade (TSF) e Inês Cardoso (JN), participaram os candidatos à Câmara do Porto cujos partidos têm representação na Assembleia Municipal da cidade: o atual autarca Rui Moreira (Independente), Bebiana Cunha (PAN), Ilda Figueiredo (CDU), Sérgio Aires (BE), Tiago Barbosa Ribeiro (PS) e Vladimiro Feliz (PSD).

Em cima da mesa estiveram temas centrais da vida cidade, como a habitação, o turismo e mobilidade. Falou-se ainda sobre eventuais acordos pós-eleitorais, com Rui Moreira a pedir uma maioria reforçada no sufrágio e a oposição do PS a assumir-se como "alternativa de mudança".

Veja aqui o debate na íntegra:

A galinha dos ovos de ouro do turismo e a crise na habitação

O que surgiu primeiro: o ovo ou a galinha? No Porto, onde, segundo o autarca Rui Moreira, a "galinha dos ovos de ouro" é o turismo, a questão que se coloca é se é a atividade turística a fonte dos problemas de habitação da cidade. O atual presidente da câmara defende que não e que os problemas de perda de população na cidade não se devem ao turismo, uma vez que a cidade já está a perder moradores "há perto de 30 anos", muito antes do boom turístico.

Rui Moreira exalta os pontos positivos que a atividade turística veio trazer à cidade, como a dinamização do comércio tradicional e ajuda ao restauro do centro histórico do Porto.

Para o autarca independente, o turismo tem coisas boas e más" e a cidade não pode "usufruir das vantagens do turismo sem ter os inconvenientes".

Rui Moreira admite, apesar de tudo, a implementação de medidas de contenção para reduzir o impacto negativo da atividade turística, mas nunca recorrendo ao "proibicionismo". "Não se pode matar a galinha dos ovos de ouro!", insistiu. "Todas as cidades sofrem essas pressões, não há milagres."

Para a candidata do PAN à Câmara do Porto, Bebiana Cunha, pode não haver "milagres", mas "devia haver políticas de habitação". A candidata considera que, durante o ano e meio de pandemia que se tem vivido, teria havido tempo para "preparar políticas de turismo da cidade", o que "não foi feito".

O PAN defende a necessidade de equilíbrio - uma vez que parte dos edifícios da cidade foram perdidos para o turismo - e apela à criação de estratégias municipais de habitação a quatro anos.

No que toca a esta matéria, o PS é decididamente a favor de intervencionismo, uma vez que o centro histórico está ocupado pela larga maioria das unidades de alojamento local da cidade.

O candidato socialista Tiago Barbosa Ribeiro quer um programa de arrendamento para as classes médias, a contenção de "novas unidades de alojamento local" e o dedo da autarquia na definição dos preços de arrendamento.

"Antes de pensar no turismo, temos de pensar nos nossos." É assim que o candidato do PSD, Vladimiro Feliz, vê esta questão. Para Feliz, "uma cidade que não é boa para viver não será boa para visitar", por isso, a câmara tem de se preocupar, antes de mais, com os portuenses. E de que modo? Habitação a custos controlados, - mas sem seguir "os maus exemplos da capital" e o alívio da carga fiscal das famílias são algumas das propostas apresentadas.

O PSD defende ainda a criação de um fundo de investimento com base na taxa turística, para desenvolver novas políticas de atratividade para a cidade, trazendo grandes eventos para o Porto.

No que toca à CDU, a maior preocupação nesta matéria é mesmo reverter a falta de habitação a preços acessíveis e a Câmara Municipal do Porto tem de ser proativa quanto a isso.

Famílias sem alojamentos com as condições mínimas e a crescente população sem-abrigo na cidade são problemas, assim como os jovens casais que não conseguem ter casa própria são situações a que, defende a candidata Ilda Figueiredo, é preciso dar resposta.

Pelo Bloco de Esquerda, Sérgio Aires defendeu que só a habitação pública pode combater a especulação imobiliária.

"O que o BE propõe é que durante este mandato tenhamos pelo menos 5 mil fogos disponíveis. Esta economia da cidade não cria nem distribui riqueza pelos portuenses. Traz só riqueza para algumas pessoas", defendeu o candidato bloquista.

Às voltas na estrada da mobilidade

A mobilidade foi outro polo de acesa discussão neste debate. Rui Moreira trouxe à discussão a questão das ciclovias, defendendo que as bicicletas não podem conviver com os peões - "É perigoso, não pode ser!" e recordou o objetivo de atingir a neutralidade carbónica até 2050 - que, segundo este, "não vai ser possível com a utilização do transporte individual para tudo".

Nesse sentido, o candidato do Bloco de Esquerda referiu que esta quarta-feira se assinala a Semana Europeia da Mobilidade e o Dia Europeu Sem Carros mas que não houve nenhuma iniciativa do município para assinalar as datas, defendendo depois que é preciso falar com as pessoas e preparar as decisões com base nesse diálogo.

A via do diálogo com a população é também a desejada pela CDU. Ilda Figueiredo quer transportes públicos de qualidade, que tragam as respostas necessárias para os habitantes do Porto, e considera que o planeamento de repostas deve passar também pela audição dos trabalhadores do setor dos transportes, que "conhecem os locais e têm propostas que não são tidas em conta".

Já o PS acredita que a solução para os problemas de mobilidade do Porto reside no diálogo com outras estruturas e com os municípios envolventes. Tiago Barbosa Ribeiro afirma que dois terços das viaturas que passam diariamente na cidade não são de portuenses, e que é preciso que a Circunvalação e a VCI sejam reclamadas de volta para o Porto, mesmo que isso passe por "bater o pé ao Estado central e à IP [Infraestruturas de Portugal]".

Também Vladimiro Feliz, do PSD, considera que é necessário discutir alternativas com os municípios que mais carros colocam no Porto. "Temos de nos sentar à mesa e decidir antes de virem bazucas e PRR. Essa é a prioridade. Temos de ter uma rede de capilaridade em termos de conforto, tempos e linhas", afirmou o candidato, que é também adepto da criação de ligações pedonais, por exemplo, entre o Porto e Gaia.

Por sua vez, Bebiana Cunha, do PAN, critica as decisões políticas que têm levado à "impermeabilização do espaço que podia ser verde e de usufruto público". O PAN é a favor de mais espaços verdes para passear os animais na cidade e de passeios mais inclusivos, onde cidadãos de cadeiras de rodas possam mover-se sem problema.

Nas considerações finais, Rui Moreira pediu uma "maioria reforçada" para poder concluir os projetos pendentes, enquanto o PS acusou o atual autarca de inação e afirmou que a única proposta do independente é cumprir aquilo que tinha prometido e que não fez. O PSD declarou que o projeto de Rui Moreira é "passado" e dos social-democratas "o futuro", enquanto o Bloco de Esquerda afirma querer garantir mais transparência e uma verdadeira democracia participativa no município. Pela CDU, o destaque foi para o ímpeto de pôr em prática políticas de melhoria da qualidade de vida das pessoas, enquanto o PAN pediu um executivo municipal com preocupações ambientais e que "não se cale".

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