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Um socialista italiano, "absolutamente instrumental para o êxito" da presidência portuguesa da União Europeia", que defendeu "melhor do que ninguém a diversidade e centralidade" do Parlamento Europeu. É assim que o ministro dos Negócios Estrangeiros, Augusto Santos Silva, recorda David Sassoli, o até aqui presidente do Parlamento Europeu que morreu esta terça-feira aos 65 anos após mais de duas semanas no hospital.
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Entrevistado em direto na TSF por Fernando Alves, o ministro Augusto Santos Silva destacou as origens geográficas - Itália - e ideológicas - socialista - de Sassoli como duas dimensões "muito empenhados na construção europeia".
Mas se a relevância de Sassoli é sobretudo europeia, e até mundial, é de Portugal e em português que nasce um elogio personalizado: foi "absolutamente instrumental para o êxito dos processos desenvolvidos e concluídos na presidência portuguesa da UE", especialmente em três vertentes.
Ouça na íntegra a entrevista com o ministro dos Negócios Estrangeiros, Augusto Santos Silva, conduzida por Fernando Alves.
A primeira é a que culminou no lançamento da conferência sobre o futuro da Europa e que necessitou de negociações entre António Costa, então líder do mandato português, Ursula von der Leyen e David Sassoli.
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De Portugal fica também o elogio sobre o papel na chegada a bom porto da Lei do Clima, que "só foi aprovada em função do empenhamento de todos e em particular de Sassoli".
E ligado ao italiano fica também aquele que Santos Silva destaca como o "processo de decisão mais rápido das últimas décadas" na União Europeia: o do certificado digital Covid.

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Questionado sobre se, com o desaparecimento de Sassoli, o Parlamento Europeu corre o risco de ser secundarizado nos processos de decisão europeus, Santos Silva puxa, uma vez mais, a brasa à sardinha portuguesa: o Parlamento tem um novo papel, decorrente do Tratado de Lisboa, "que instituiu a codecisão como prática normal na UE".
"É preciso um acordo", explica o ministro português, entre os governos que se reúnem no Conselho Europeu e o Parlamento Europeu. É como se fossem "duas câmaras diferentes de um mesmo parlamento" e, para o acordo ser possível, o trabalho das presidências de ambos os órgãos é "essencial", senão não há decisão e "não se conclui o processo".

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Do lado do Parlamento, que a próxima semana, na primeira sessão plenária do ano, o Parlamento Europeu deve eleger um presidente da assembleia - algo que já estava previsto e não radica da morte de Sassoli -, a responsabilidade deve recair agora sobre a maltesa Roberta Metsola, do Partido Popular Europeu (PEE), a favorita para suceder ao italiano.
Santos Silva explica que a distribuição dos altos cargos europeus decorre mediante os "resultados eleitorais e o compromisso entre as principais famílias políticas representadas".

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Dos resultados de 2019 saiu que presidência da Comissão Europeia pertence ao centro-direita democrático, com Ursula von der Leyen, e que o Conselho Europeu pertence a um liberal, neste caso Charles Michel. Já a liderança do Parlamento é "dividida ao longo dos cinco anos entre um socialista e agora uma conservadora, muito provavelmente a atual vice-presidente" que, confia Santos Silva, estará à altura deste cargo "muito importante e central na construção europeia".

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O presidente do Parlamento Europeu morreu aos 65 anos de idade, após mais de duas semanas num hospital em Itália, devido a uma disfunção do seu sistema imunitário.
Sassoli contraiu uma pneumonia em setembro de 2021, que o obrigou a receber tratamento hospitalar em Estrasburgo, França, e, embora tenha recebido alta hospitalar uma semana depois, prosseguiu a recuperação em Itália e esteve mais de dois meses ausente das sessões plenárias do Parlamento, regressando no final do ano.