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O antigo primeiro-ministro José Sócrates respondeu, esta quarta-feira, às declarações de Fernando Medina, que diz terem sido proferidas a mando da direção do PS, classificando-as como de uma "profunda canalhice".
"Ouvi essas declarações com a devida repugnância", reconheceu o antigo governante em entrevista à TVI, antes de acrescentar que Medina não é um "personagem" essencial, mas sim "quem o mandou dizer isso".
Esta terça-feira, o presidente da câmara de Lisboa tinha defendido que o comportamento de Sócrates "corrói o funcionamento da vida democrática" e é "da maior gravidade e singularidade".
Na reação a estes argumentos, José Sócrates indicou que "dizem tudo sobre o que pensa a direção do PS", que apelidou de "mandante".

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"Acha que pode e deve fazer uma condenação sem julgamento, sem defesa, e esquece o princípio da presunção de inocência, base do Direito moderno", acusa José Sócrates.
"Essas declarações são, a meu ver, de uma profunda canalhice. Não há outra forma de o dizer", declarou antes de acrescentar que o PS "devia ter vergonha de desconsiderar os direitos, liberdades e garantias fundamentais que fizeram a cultura política" do partido.
Lembrando Mário Soares, que esteve "sempre" com o ex-governante por acreditar ser o seu "dever", Sócrates acrescenta que até nesse momento de "companheirismo" houve tentativas de "desvalorizar essa posição, tentando insinuar que Soares valorizava demasiado a amizade".
"Tomei a decisão correta quando saí do PS, já não aguentava o silêncio e grande parte dos que dizem essas coisas estão a ajustar contas com a sua própria covardia moral", atirou também.

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A investigação do processo Operação Marquês começou em 2013, o antigo primeiro-ministro José Sócrates foi detido em novembro de 2014, chegou a estar em prisão preventiva, e três anos depois (2017) foi deduzida a acusação.
O Ministério Público acusou 28 arguidos de um total de 188 crimes económico-financeiros, dos quais 31 imputados a José Sócrates.
A fase de instrução do processo durou mais de dois anos - de 28 de janeiro de 2019 até 02 de julho 2020, quando terminou o debate instrutório, tendo a decisão instrutória sido conhecida no passado dia 09 de abril.
Ivo Rosa determinou que Sócrates seria julgado por três crimes de branqueamento de capitais e três de falsificação de documentos, juntamente com o seu amigo e empresário Carlos Santos Silva a quem o juiz deu como provado que corrompeu o antigo chefe de Governo, configurando um crime [corrupção ativa sem demonstração de ato concreto] que considerou prescrito.
Dos 28 arguidos do processo, foram pronunciados apenas cinco: o ex-presidente do BES Ricardo Salgado, por três crimes de abuso de confiança o antigo ministro Armando Vara por lavagem de dinheiro e o ex-motorista de Sócrates João Perna por posse ilegal de arma.
Ficaram ilibados na fase de instrução, entre outros, os ex-líderes da PT Zeinal Bava e Henrique Granadeiro, o empresário Helder Bataglia e o ex-administrador do Grupo Lena Joaquim Barroca.