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"Estaremos de braços abertos para receber aqueles que fogem da guerra, do ataque, da fome e da miséria". A frase é de André Ventura, presidente do Chega, sobre o acolhimento de refugiados, mas só se forem aqueles que sofrem com a invasão da Ucrânia. Sobre os refugiados de outras geografias, Ventura mostra uma posição substancialmente diferente, dizendo que vêm viver "à conta".
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Num longo discurso no encerramento da Convenção de Autarcas do partido, o líder do Chega começou por condenar a ofensiva russa deixando claro que o partido está "do lado daqueles que defendem as fronteiras, a soberania e a civilização" e que neste conflito há "uma potência agressora e um país que se defende".
Deixando uma farpa ao PCP por "andarem a dizer durante anos que queriam sair da NATO, que queriam pôr fim às armas nucleares na Europa e no Ocidente e agora não são capazes de condenar a Rússia e esta invasão bárbara", André Ventura é ainda bastante claro nos adjetivos ao presidente russo: "louco tirano".
"Perante tudo aquilo que nos tem entrado pela televisão dentro de casa, homens e mulheres afastados das suas casas, dos seus prédios, dos seus animais de estimação e de tudo aquilo que lhes é mais querido, homens e mulheres obrigados a fazer quilómetros à chuva, à neve e ao frio por causa de um tirano louco que quer destruir a Europa, a nossa posição é uma só, ao lado da Europa, de Portugal e da civilização que continua a ser a nossa", condenou Ventura.
Já sobre os refugiados, há uma distinção clara na cabeça de André Ventura: os ucranianos e os outros. Para os primeiros, há então essa manifestação de apoio que ficou clara em "muitas autarquias onde há vereadores e deputados municipais do Chega", onde foram apresentadas e aprovadas "moções para apoiar refugiados ucranianos que fogem da guerra e da miséria".
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Mas, depois, há "os outros". "Estes não são como alguns dos outros refugiados que chegam de iPhones e telefones de alta gama a Portugal e que vêm para cá viver à conta dos nossos subsídios e dos nossos impostos, estes [os ucranianos] são os que precisam de ser apoiados verdadeiramente", considera o líder do partido Chega.
A discriminação feita por Ventura prossegue ainda com uma outra referência de que "estes [os ucranianos] também não são aqueles que vêm para cá para tornar as nossas mulheres objetos e obrigá-las a andarem de burka na rua e a serem vítimas das suas próprias qualidades".
"Não podemos continuar a ser o país onde metade trabalha para metade viver à conta de quem trabalha. Aqueles que vierem por bem, aqueles que não nos vierem mudar a nós, mas vierem integrar-se naquilo que é o nosso país e a nossa civilização, aqueles que não vierem dominar-nos nem alterar a nossa forma de viver nem de ver o mundo, aqueles que o primeiro sítio onde vêm quando chegam a Portugal é procurar trabalho e não a segurança social, esses são bem-vindos e sempre serão bem-vindos a Portugal", concluiu.
No programa eleitoral do Chega para as últimas legislativas, não há nenhuma referência a refugiados, mas o partido defende que "aqueles que a sociedade portuguesa acolher terão de ser sempre enquadrados numa política de imigração regulada, criteriosa, assente nas qualificações, nas reais necessidades do mercado de trabalho e na mais-valia que os imigrantes poderão trazer ao país".
Anteriormente, no manifesto político do partido para as legislativas de 2019, o Chega defendia "a revogação da Lei de Bases da Habitação que regula incumbir ao Estado português o 'direito' à habitação a todos os cidadãos independentemente, entre outros critérios, do território de origem ou da nacionalidade". Aí, o partido completava com o entendimento de que "não deverá ser obrigação do Estado providenciar habitação social a cidadãos estrangeiros - imigrantes, migrantes ou refugiados - residentes em território nacional com base em medidas de discriminação positiva conforme indica a mesma Lei".