Ainda há quem queira ser professor? Há mestrados cheios em Lisboa, mas faltam candidatos no Porto

O vice-presidente da Escola Superior de Educação do Porto explica à TSF que há vagas sobrantes nos mestrados, que é o que permite aos alunos tornarem-se realmente professores. Já em Lisboa, a coordenadora dos mestrados em ensino da Universidade de Lisboa desenha um cenário em que há muitos candidatos a professores e que todos têm emprego. Mas há poucos jovens a querer seguir a carreira de docência e a culpa é da atratividade da profissão.

O vice-presidente da Escola Superior de Educação do Porto, Alexandre Pinto, explica que nas licenciaturas em Educação Básica têm menos vagas do que o número de candidatos existentes. "Isto decorre de uma opção, central e política da tutela, que estabelece um limite máximo de admissões. Essa questão é diferente a nível regional e nacional. A nível nacional, há falta de candidatos para as vagas existentes para o curso de Educação Básica, que existem nas diferentes instituições do país. Faltam vagas no Porto e em Lisboa, de grosso modo. Nas outras localidades do país, em regra, sobram muitas vagas".

Já nos mestrados, "que dão seguimento para a formação e habilitação para a docência, a questão já se põe diferente". O vice-presidente da Escola Superior de Educação do Porto explica que há vagas a sobrar na instituição. "Nós abrimos quatro mestrados - um para a educação pré-escolar, outro para educação pré-escolar e 1º ciclo, e depois dois perfis, um de 1º ciclo de Matemática e Ciências, e outro de 1º ciclo de Português e História e Geografia de Portugal. Para esses quatro cursos já temos em regra vagas sobrantes, ou seja, o número de alunos que se formam na licenciatura em Educação Básica na nossa instituição já é inferior ao número de vagas que abrimos para os mestrados que lhe dão seguimento".

O responsável indica que ainda assim conseguem captar alunos de outras regiões, "mas que normalmente não completam todas as vagas que temos a oferecer para a formação de professores. Alexandre Pinto conclui: "Temos capacidade instalada para fazermos formação de um maior número de professores".

Para o responsável, a nível nacional há poucos candidatos a futuros professores. "Na minha opinião, no nosso país temos um número pequeno para as nossas necessidades de admissão para um percurso formativo que habilite para a docência. Provavelmente também é assim noutros grupos de secundário, área que não conheço tão bem", admite o vice-presidente, "mas para o ensino básico, o número de candidatos é manifestamente reduzido. Precisávamos de ter mais candidatos e condições de atratividade para a profissão de professor porque de facto é muito reduzido".

Alexandre Pinto explica ainda que se olharmos para o número de vagas que ficam vazias a nível nacional para a licenciatura em Educação Básica, que é a que faz a primeira formação, "vemos a grande discrepância de recrutamento de jovens para a carreira de professor". O vice-presidente da Escola Superior de Educação do Porto acha que esta é uma questão importante e que precisa de ser pensada. "Temos muito poucos candidatos. Lisboa e Porto são os dois centros que talvez ainda tenham capacidade, mas ela é também aparente porque como temos vagas condicionadas, ainda temos alguns candidatos que não encontram colocação cá".

Já em Lisboa, a coordenadora dos mestrados em ensino da Universidade de Lisboa, Hélia Oliveira, diz à TSF que há cada vez mais alunos a querer ser professores. "Temos tido nos últimos anos uma procura crescente. Temos oito cursos de formação de professores para o 3º ciclo e ensino secundário em várias áreas, e tivemos mais de 300 candidatos. A taxa de ocupação dos nossos cursos é de praticamente 100%, embora o número de vagas não ser muito elevado".

Hélia Oliveira explica que o mestrado em ensino de História e o mestrado em ensino de Artes Visuais são cursos em que já "há vários anos" têm "um número muito superior de candidatos em relação ao de vagas e de colocados. No caso de Artes Visuais tivemos 90 candidatos e em História tivemos 70. Na generalidade das áreas temos um número superior de candidatos aos lugares".

Desde há três anos que a Universidade de Lisboa está a preencher todas as vagas em quase todos os cursos de Ensino "e este ano em todos, basicamente". E Hélia Oliveira admite que houve de facto a conceção de que os cursos não tinham procura. "No nosso caso, nos cursos de Ciências, Matemática, Biologia e Geologia, Física e Química, realmente durante muitos anos não preenchemos o número de vagas, mas a Universidade de Lisboa fez um esforço enorme de manter os cursos em funcionamento. E talvez por esse facto, porque tivemos sempre os cursos abertos e todos anos abrirmos candidaturas, de facto os alunos vão passando palavra e neste momento já ocupamos a vagas todas".

Sobre o número de candidatos ser maior do que o de vagas em Lisboa ser uma questão geográfica, Hélia Oliveira explica que há alguns cursos no país que funcionam em poucas Universidades e poderá ter a ver com isso em alguns casos, mas a maioria dos alunos de Lisboa são da área da capital. Hélia Oliveira diz que recebe muitos contactos de candidatos e nota que são de áreas variadas, e julga que esta será uma "tendência crescente porque as pessoas vão se apercebendo que de facto há carência de professores nas escolas e isso é que impediu que durante uns anos houvesse mais pessoas a procurar a carreira porque percebiam que não tinham grandes possibilidades de colocação".

A coordenadora dos mestrados em ensino da Universidade de Lisboa acrescenta que há três anos a instituição fez um inquérito no qual depreendeu que a taxa de empregabilidade dos seus alunos estava muito perto dos 100%. "E agora é seguramente 100%. Aliás, somos procurados constantemente, particularmente por escolas de ensino privado, porque não têm professores. Os jovens e pessoas mais velhas, que entretanto resolveram mudar de profissão, vão percebendo que esta é uma profissão de futuro e, por isso, naturalmente que as Universidades que mantêm esta oferta de formação vão ter cada vez mais procura. E claro que nos agrada poder contribuir para a formação dos professores em Portugal".

Para o vice-presidente da Escola Superior de Educação do Porto, Alexandre Pinto, no problema de não haver professores, "em primeiro plano estará a pouca atratividade para os jovens de poderem pensar numa carreira de docência e, portanto, investirem em candidatarem-se a cursos que fazem esse percurso formativo. Não tenho dúvida que a grande dificuldade de facto é a atratividade da carreira de docente no nosso país, que tem perdido o prestígio e que tem cada vez menos candidatos. É muito significativa a baixa procura de cursos de docência no nosso país".

A TSF contactou também a Escola Superior de Educação de Coimbra e a Escola Superior de Educação do Instituto Politécnico de Castelo Branco, que não puderam prestar declarações a tempo desta notícia.

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