- Comentar
Laura Mendonça, 48 anos, trabalha há 21 num lar de terceira idade no distrito de Viana do Castelo. Começou pela "paixão por ajudar as pessoas que precisam" e acabou por fazer da profissão de ajudante de lar a sua vida. Dentro e fora da instituição. É que, além do apelo de ajudar, também necessita de agregar outros rendimentos ao salário mínimo que aufere. "Fora do lar, presto assistência a muitas pessoas, para poder fazer face às minhas despesas. Ganha-se muito pouco nas instituições", afirma, sublinhando: "Ganhamos os 705 euros a trabalhar 37 horas semanais, mas fazemos feriados, fins de semana, natal, Páscoa. Trabalhamos todos os dias, 24 horas. Fazemos turnos rotativos. Portanto, [este trabalho] não é de todo bem pago." E acrescenta: "Também vamos ser penalizadas no futuro, porque trabalhamos até muito tarde. Vamos estar a trabalhar quando já fizermos parte da terceira idade e provavelmente a ganhar o salário mínimo. E vamos para a reforma com esse ordenado."
Relacionados
"Chega a ser desgastante." Luís, professor e precário há 20 anos
"Ganho cerca de 240 euros por mês. Passo a vida a assinar contratos"
Governo quer "concluir rapidamente" Agenda do Trabalho Digno
Ouça aqui a reportagem da TSF
As principais tarefas de uma ajudante de lar passam por tratar das higiene, alimentação e acompanhamento dos utentes. Mas, segundo Laura Mendonça, vão além. "Nós somos um bocado de tudo. Damos a mediação ao utente, se ele não estiver bem, somos nós que chamamos a emergência médica. O médico e a enfermeira, por vezes estão à chamada. Ou seja, acabamos por ser um bocadinho de tudo para eles", conta, considerando que aquela profissão, desempenhada nas sua maioria por mulheres, além de "mal paga", é exigente do ponto de vista físico e psicológico.
Tarefas como dar banho, levantar e deitar adultos, na sua maioria dependentes, é um trabalho braçal que causa mazelas. "Nesta área, a partir dos dez anos de trabalho já não temos a mesma estrutura. Já não conseguimos responder com a mesma prontidão. A maior parte das colegas já têm bastante idade, são mulheres com 50 anos, e já nos queixamos tanto como os utentes. Às vezes, dói-me mais uma perna a mim que ao utente que está na cama", indica a ajudante de lar, contando que ao desgaste físico também se junta o emocional, por terem de lidar todos os dias com o envelhecimento, a doença e a morte. "A morte é algo que está permanentemente nas nossas vidas", comenta, defendendo que a classe precisa de mais atenção por parte de quem decide. "Queria muito que olhassem para nós. Para nós e também para eles, porque estamos todos no mesmo barco. Todos vamos ser idosos e, provavelmente, todos vamos cair numa cama. Todos vamos precisar de cuidados", defende Laura, concluindo: "Como é que eu posso cuidar a 100 por cento, se não estou a ser cuidada a 100 por cento? Como é que eu posso cuidar a 100 por cento, se chego a casa e não me chega o dinheiro para pagar as minhas despesas."