Amigas de infância resgatam a brincadeira de rua em Viana do Castelo
Projeto "Rua a Brincar"

Amigas de infância resgatam a brincadeira de rua em Viana do Castelo

"Tenho saudades de ficar na rua até às oito ou nove da noite no verão, com a mãe à janela a chamar para casa e toda a gente a pedir: 'mais um bocadinho, mais um bocadinho'". Rehana Jassat, de 33 anos, verbaliza uma saudade que atravessa as muitas gerações que cresceram a brincar na rua. É esse tempo que agora parece perdido, que pretende resgatar nas ruas de Viana do Castelo em parceria com a sua amiga de infância, Rita Vintém, de 31 anos, com quem criou laços entre brincadeiras ao ar livre. Juntas abraçaram o projeto "Rua a brincar", uma iniciativa com o apoio da Câmara de Viana do Castelo, no âmbito da Cidade Europeia do Desporto 2023, que tira crianças de casa para se divertirem em liberdade, sem telemóveis e computadores. Estão programadas doze sessões de duas horas, em dois bairros da cidade, até final de julho.

"Achei a ideia fantástica. Eu também brinquei na rua, ao elástico, à bola. Tudo o que aparecia servia para a brincadeira. O ar livre é importante. Eles estão muito tempo fechados entre quatro paredes", considera Catarina Vieira, uma das mães que por estes dias aderiram à ação.

Por entre saltos, correrias e improviso, crianças de várias idades brincaram ao sol, num bairro da freguesia de Monserrate. Até a pequena Mariana de um ano, brincou alegre, a ver os mais velhos. "Trouxe-a para criar um hábito que nós tínhamos, que agora infelizmente não se tem tanto, talvez pela falta de segurança. É importante para eles o contacto com a Natureza e com outras crianças", comentou a mãe Rute Cruz, também ela uma felizarda dos tempos em que brincar era fora de casa. "Tinha a sorte de ter a minha a avó e brincava pelas ruas do centro da cidade, à apanhada, às escondidas, ao 'jogo do mata' e assim. Agora é mais tablets, computadores e é por isso que acho que estas iniciativas são extremamente importantes", considera.

Marta Soares, que participou com os filhos Pedro e Duarte de três e cinco anos, também matou saudades das suas antigas brincadeiras. "No meu tempo aproveitávamos a liberdade que tínhamos de andar ao ar livre. Brincávamos a andar de bicicleta, jogar à bola, correr, saltar...[Esta] É uma boa iniciativa para os miúdos aprenderem a brincar na rua. É algo que se perdeu ao longo dos tempos e é importante recuperar", disse.

Desde junho que o "Rua a Brincar" puxa pela memória de pais e pelo entusiasmo das crianças de Viana do Castelo. "A maior parte das pessoas que nós conhecemos brincava na rua e só a nova geração, de há uns 15 anos, deixou de o fazer e não há necessidade, muito menos numa cidade como Viana do Castelo, que é segura e tem espaços espetaculares, como largos, jardins e parques", afirma Rehana Jassat, defendendo a necessidade de "libertar" os mais novos das muitas atividades programadas que lhes preenchem os dias. "A ideia aqui é que eles não sintam essa programação, que sintam a liberdade de se quiserem até, como às vezes a Rita diz, ficarem simplesmente esticados na relva, a ouvir os passarinhos e a olhar para o céu", descreve.

Rita Vintém completa: "Se metermos um bocadinho a mão na consciência, notamos que hoje as crianças têm os horários muito preenchidos e não têm tempo para fazerem o que lhes apetece ou para não fazerem nada."

"Temos tido uma boa adesão. Os pais de hoje em dia brincaram na rua e isso fez com que achassem esta iniciativa importante para os filhos deles. Tem sido muito incentivador para que o projeto se prolongue", conclui.

As duas amigas apresentam-se como "as facilitadoras" que apenas fazem "uma supervisão" às brincadeiras dos miúdos.

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