"Apontados a dedo." O início do VIH em Portugal, uma pandemia longe de chegar ao fim

A pandemia do VIH/SIDA começou há 40 anos e ainda está longe da erradicação. A reportagem TSF recorda o impacto do então "misterioso vírus" no Portugal gay da década de 80.

O ano é 1981. Ramalho Eanes é o Presidente da República, Francisco Pinto Balsemão é primeiro-ministro e, em Portugal, o salário mínimo passa pela primeira vez os 10 contos, a indústria discográfica regista um boom e as Doce estão na ribalta e animam as noites da capital. Também em 81, o mundo muda com as notícias publicadas nos Estados Unidos da América sobre um "cancro raro" que parecia atingir, sobretudo, os homens que tinham sexo com outros homens.

Na ressaca de Abril, num Portugal que ia assistindo paulatinamente a uma maior liberdade nos costumes, o Príncipe Real cimentava-se como a zona gay da capital com vários bares e espaços "repletos" onde não se sonhava ainda com os primeiros registos de uma doença misteriosa.

Corria o mês de junho quando o Centro para o Controlo e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos publica um relatório a dar conta da morte de cinco homens jovens gays. Diagnóstico? Pneumocistose, uma pneumonia que afeta pessoas imunodeprimidas. Um mês depois, a primeira notícia no The New York Times.

Com o título "Cancro raro observado em 41 homossexuais", lia-se no jornal que "médicos em Nova Iorque e na Califórnia diagnosticaram, entre homens homossexuais, 41 casos de uma forma rara e frequentemente fatal de cancro". "Oito das vítimas morreram menos de 24 meses depois do diagnóstico. A causa do surto é desconhecida e ainda não há evidências de contágio", concluía o primeiro parágrafo.

Mas isso era lá longe. Em Portugal, os primeiros quatro parágrafos no Diário de Notícias só chegaram em abril de 82 numa secção que era uma espécie de insólitos. Mais notícias só em 83 quando, do lado de lá do Atlântico, as mortes já tinham disparado em flecha.

Este é o ponto de partida para a reportagem TSF "Apontados a dedo" que conta com os testemunhos da médica Maria José Campos, do transformista Tony Valério e ainda de Pedro Silvério Marques e Miguel Rodrigues Pereira, ambos infetados com VIH há mais de 30 anos.

Os testemunhos, as histórias e as memórias do início da pandemia que, ainda hoje, continua sem fim à vista e que infeta em Portugal centenas de pessoas por ano. Quarenta anos já passaram desde o início da doença, os medicamentos e tratamentos já dão hoje uma elevada esperança de vida, a probabilidade de desenvolver SIDA é menor, mas vacina nem vê-la. E isto numa altura em que há ainda muita gente em Portugal a chegar tarde aos serviços de saúde e o estigma também está longe de estar ultrapassado.

"Apontados a dedo", reportagem de Filipe Santa-Bárbara com sonoplastia de Margarida Adão.

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