Arcos de Valdevez. Pai e filho trocam emigração por criação de cabras de raça bravia na serra

Projeto de mais cem mil euros, apoiado pelo Ministério da Agricultura, inclui também produção de mel e espargos.

Vítor e Ricardo Afonso, pai e filho, naturais de Arcos de Valdevez, trabalhavam na construção civil em França e no Canadá, deixaram a emigração para se tornarem pastores. Através de um projeto de mais de cem mil euros, apoiado pelo Ministério da Agricultura, criaram um rebanho de cabras de raça bravia, hoje com 280 cabeças, e também uma plantação de espargos e colmeias para produção de mel. Passam os dias na serra, no lugarejo de Bouça dos Homens, a mais de mil metros de altitude, em Arcos de Valdevez.

Vítor Afonso, de 52 anos, emigrou para França na juventude, trabalhou na construção e num café, mas o sonho de criar animais na serra, acompanhou-o sempre desde a infância.

"Sempre tive a ideia desde pequeno de ter um projeto com cabras. Até era para ser de vacas, mas já há muita coisa. E depois um engenheiro aconselhou-me: 'mete cabras, pá, que é o que eu adoro'. Falei com o meu filho, que estava no Canadá, e ele disse 'bota para a frente que eu quero ir embora daqui'", recorda, referindo que prefere o isolamento e a aridez da serra à "vida dura" de emigrante. "Aqui também é duro, mas ao menos somos nós os patrões. É outra coisa. O mais duro é o inverno. Com chuva, com neve, os animais têm que sair todos os dias e acompanhados, por causa do lobo. Cada nevada aqui é aos oito, quinze dias", descreve.

O rebanho, além de ser seu ganha-pão, também é paixão e entretenimento. Fotografa e filma a vida na Bouça dos Homens e mostra-a aos amigos que deixou fora de Portugal, através de um grupo de Facebook (cabras bravias da bouça dos homens em Parque Nacional da Peneda Gerês). "O pessoal daqui da terra que não está cá gosta de ver. Está sempre a pedir: 'Vítor mete fotos, mete vídeos", conta.

Acompanha-o pela serra e nas redes sociais, o filho Ricardo Afonso de 25 anos, que deixou o Canadá, para se dedicar à pastorícia. Sempre trabalhou na construção civil, mas agora vigia gado dias a fio, faça sol, chuva, frio ou neve.

"Gosto de me mexer. De andar de um lado para o outro. Estive em França e nos EUA, mas agora habituei-me a isto e não quero outra coisa. Há mais liberdade", diz o jovem, referindo que combate o isolamento, ligando-se às redes sociais pelo telemóvel. "Tenho Facebook, Instagram, como outro jovem qualquer e agora há rede por todo o lado", afirma.

Pai e filho vivem na Peneda, mas todos os dias de manhã cedo saem para a Bouça dos Homens, onde guardam as cabras. "Sábados, domingos, feriados, todos os dias chegamos aqui às 08h30, 09h00. Andamos quinze, vinte quilómetros por dia. Elas têm de roer. Andar e comer, andar e comer. Nós vigiamos. Depois é a noite que as traz de volta", descreve.

O cansaço, por vezes, faz com um deles tire folga, principalmente Ricardo. "Fica um e vem o outro", explica Vítor, admitindo ser o mais apegado à serra. Gosta de dar nomes aos bichos. A "Shakira" é a estrela do rebanho, mas também as há batizadas como Filomena, Trinta, Esgalhada e Preta. A uma das crias chama-lhe "Mignon (bonito em francês), por causa do filho de um emigrante amigo que o segue através do grupo de Facebook. Os seus sete cães de guarda são Forró, Pepa, Toqui, Leila, Quica, Duque e Diana.

Vítor e Ricardo esperam que o rebanho, que iniciaram com 189 cabras há um ano e meia, cresça até março de 2022. Muitas das atuais 280 estão prenhas. Segundo a ANCABRA -Associação de Criadores de Cabra Bravia, esta é das raças caprinas portuguesas, "a única exclusivamente de aptidão carne". "É um animal de elevada rusticidade e que se adapta perfeitamente às condições dos meios inóspitos onde se insere, desempenhando um papel importantíssimo para as populações que habitam as zonas mais agrestes de Trás-os-Montes e do Minho", descreve a associação.

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