Em 1922, os habitantes de Lagos ouviram pela primeira vez o apito do comboio. A data é este sábado assinalada na cidade.
Chegar ao Algarve em 1922 era muito difícil. "Praticamente quase não havia estradas, existia era uma carreira de vapores, de barcos que ligavam os portos do Algarve a Sines e Lisboa", explica o historiador Joaquim Vieira Rodrigues. As viagens faziam-se por mar e era também por via marítima que todos os bens eram escoados, nomeadamente conservas e frutos secos, produtos da região que eram transportados para outras zonas do país.
Em Lisboa, ainda durante a monarquia, questionava-se essa "ambição" dos algarvios de Lagos quererem ter comboio. "Os pares do Reino, antes da República questionavam 'para que é que o Algarve quer um comboio?'", conta o historiador. No entanto, a chegada da República e o consenso de que a aposta na linha férrea traria a modernidade mudaram as mentalidades.
De qualquer forma, até chegar a Lagos o comboio passou por várias vicissitudes. A linha férrea já tinha chegado a Portimão em 1903 e levou quase 20 anos para avançar mais 20 quilómetros.
Apesar de ter trazido a modernidade àquela região, de há cem anos para cá Lagos tem ficado esquecido e só recentemente o ministro das Infraestruturas e Habitação anunciou o avanço da eletrificação daquela linha. A população anseia por uma linha férrea e composições do século XXI.
Enquanto isso não acontece, para ir ou vir de Lisboa, como lembra a vereadora Sara Coelho, é preciso ainda fazer o transbordo na estação de Tunes e apanhar dois comboios. "Devido às condicionantes relacionadas entre o diferente estado em que está a linha" que vem de Lisboa e a que entronca no Algarve, ainda por eletrificar.
O centenário da chegada do comboio começou ontem a ser assinalado com um colóquio sobre o passado e o futuro da linha férrea para aquela região do Algarve, e este sábado, entre outros momentos, será estabelecido um protocolo para a criação de um futuro museu ferroviário em Lagos.
"Com a Fundação Museu Nacional Ferroviário (FMNF) haverá um protocolo para permitir musealizar a antiga cocheira de comboios que tem algumas locomotivas antigas", avança Sara Coelho.
A câmara compromete-se a fazer obras no edifício e a FMNF irá recuperar as composições para que elas possam ser visitadas pelo público.