D. José Cordeiro: afabilidade e inteligência
Entrevista TSF

D. José Cordeiro: afabilidade e inteligência

Nascido há 54 anos, em Vila Nova de Seles, a cerca de 400 kms de Luanda, o novo arcebispo primaz de Braga D. José Manuel Garcia Cordeiro tinha oito anos quando, no verão quente de 1975, se viu obrigado a regressar com a família à metrópole. Com a capital de Angola a arder e a guerra civil iminente, o pequeno José Manuel não teve outra alternativa que reiniciar a vida, deixando para trás o cheiro da terra quente e do sangue a clamar auto-determinação e independência.

A escola, depois o seminário de Bragança, a licenciatura de Teologia na Universidade Católica, no Porto, a ordenação presbiteral, em 1991, a paroquialidade por dez anos na diocese de Bragança-Miranda, os raros dotes de inteligência e liderança levaram-no até Roma, doutorando-se em Liturgia pelo Ateneu Pontifício de Santo Anselmo. Depressa seria vice-reitor e reitor do Pontifício Colégio Português, na capital italiana.

O mais novo dos bispos portugueses

Em 2 de outubro de 2011, D. José Cordeiro, então com 44 anos, torna-se o mais novo prelado português, ao ser nomeado pelo papa Bento XVI, bispo de Bragança-Miranda, sucedendo ao franciscano D. António Montes, prestigiado historiador da Igreja. É ordenado bispo na nova e polémica catedral da diocese do planalto transmontano, agitada ainda por dívidas elevadas.

Não foi fácil lidar com uma diocese onde era conhecido de todos. O clero envelhecido suportou, com menos paciência, a criação de "unidades pastorais", impondo uma dinamização das paróquias, conduzidas por novas equipas de convívio e trabalho.

D. José Cordeiro deixou a diocese com um problema entre mãos: o leilão da igreja do convento de S. Francisco, em Bragança, pertença da Ordem Terceira Franciscana.

"Renovação inadiável"

Chegado a Braga, onde deu entrada oficial neste fim de semana (nunca escondeu desejar abraçar a cidade dos arcebispos), espera-o de novo um "gigante adormecido", preso a velhas tradições e intransigente na expressão da religiosidade popular. Sabendo que vai governar uma das mais antigas dioceses da Península Ibérica, o novo arcebispo vai escutar, certamente, o conselho deixado pelo seu antecessor, D. Jorge Ortiga, agora arcebispo emérito de Braga, registado pela Lusa, sugerindo-lhe uma "renovação inadiável".

Encargo para o presidente da Comissão Episcopal da Liturgia e Espiritualidade, recentemente reconduzido, é sua missão tirar do marasmo as práticas religiosas antigas, numa diocese de quase três mil kms² e 552 paróquias, sendo uma delas em Ocúa, na diocese de Pemba, em Moçambique, atingida, na actualidade, por ondas de terrorismo islâmico.

Prática religiosa e finanças falidas

Também a crise vocacional caiu sobre a arquidiocese de Braga, apesar de dispor do Seminário Conciliar a festejar 450 anos de existência. Há aqui párocos a servirem quatro e mais paróquias, onde a pandemia quebrou a participação dos fiéis nos actos de culto, provocando consequente baixa nos rendimentos financeiros. A diocese tem, como a maioria das dioceses portuguesas, um costume de carácter medieval, a recolha de esmolas e ofertas como único meio de subsistência do clero.

A afabilidade pessoal de D. José Cordeiro e a experiência pastoral em terras graníticas de Trás-os-Montes poderão servir para cimentar os 21 anos (tantos quantos os do seu antecessor) até à resignação episcopal que, actualmente, está estipulada, pela Santa Sé, aos 75 anos.

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