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Daniel Proença de Carvalho está desencantado com o funcionamento da justiça.
E deixa transparecer esse desencanto num livro de memórias com o título "Justiça, Política e Comunicação Social - Memórias de Advogado" (Bertrand).
Numa entrevista na TSF, Proença de Carvalho diz que há bons profissionais no setor da justiça, "mas a justiça não arranja forma de corrigir os erros que comete".
Ouça a entrevista com Daniel Proença de Carvalho.
E isso reflete-se "nos estudos que vamos conhecendo, e que mostram que praticamente ninguém tem confiança na justiça".
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Daniel Proença de Carvalho foi um dos advogados mais influentes do país, durante cinco décadas.
Daniel Proença de Carvalho ficou famoso quando integrou ainda jovem, a equipa de advogados no processo da herança Sommer "com nomes ilustres como Salgado Zenha e Palma Carlos", quando defendeu pessoas presas pelo COPCON durante o PREC, ou quando defendeu Leonor Beleza no processo do plasma contaminado usado nos tratamentos de hemofílicos.
Confessa agora que nunca se sentiu totalmente tranquilo e descontraído numa sala de audiências, porque "quando se está a defender uma pessoa que nós temos a segurança e a certeza que está inocente, mas que corre o risco de ser condenada, isso gera uma insegurança e uma intranquilidade".
O antigo advogado confessa que sofria, nessas ocasiões.
Reformou-se há 3 anos, e agora, em livro, recupera memórias e reflexões.
Diz que os advogados até podem ser influentes, mas os poderosos são os magistrados, e isso "é a lei das coisas".
Já sobre a alcunha que ganhou, de ser o advogados dos poderosos, atribui isso à imprensa tabloide "que quer marcar pessoas de forma negativa", e acrescenta que fez muitas defesas oficiosas de gente sem nenhuma notoriedade.
À pergunta "defendeu mais vezes os bons ou os maus?", responde que teve sorte e defendeu sempre "os bons" e os "inocentes".
Daniel Proença de Carvalho foi outras coisas, além de advogado.
Trabalhou no ministério publico, e na polícia judiciária, foi ministro da comunicação social, diretor do Jornal Novo, presidente da RTP, e administrador de diversas empresas e grupos empresariais, com destaque para a Cimpor, a NOS e o grupo Global Media (que integra a TSF, o DN, o JN e O Jogo).
Diz que tentou sempre tornar melhores, as empresas do setor dos media, por onde passou, garantindo-lhes independência e liberdade, mas deixa para outros que não ele, uma avaliação desse trabalho.
Apesar do desencanto com a justiça, está "cada vez mais entusiasmado com a democracia" .
Depois da reforma, dedica-se à agricultura, no Alentejo, tem um grupo de jazz com amigos, com quem toca "durante duas horas, todas as segundas feiras".